Numerosas passagens históricas condenam a mentira, apesar de a chamada lorota ser usada somente por alguns seres vivos. Teologicamente, o termo é, de modo freqüente, num sentido diferente, de modo acessível, equivalente a infidelidade ou pecado. A partir de Santo Agostinho até o século XIX, a tradição católica é da mesma opinião que outrem na condenação do emprego de uma enunciação conscientemente falsa, i.é, em desacordo com o próprio pensamento. Santo Tomás, de acordo com alguns intérpretes, referia-se exclusivamente à intenção explícita e não à implícita.
H. Grócio e S. Pufendorf, a partir do século XVII, tornam público nova concepção de mentira, cuja aprovação foi aceita nos meios católicos, mas as exclusões não foram admitidas pelos célebres Kant e Fichte. Falsilóquio é mentira, afirmam estes dois: o falsilóquio injusto viola o direito alheio à verdade.
Esta concepção, desde o século XIV, foi parcialmente rejeitada por autores católicos, ou seja, por alguns. Pela definição tradicional, a mentira é uma expressão falsa do próprio pensamento. (Locutio contra mentem). Outros autores, contudo, manifestam-se que a tradicional doutrina não é aceitável ou somente se limita a formular de outra maneira o que já era acolhido. A mentira pode ser evitada. Depende da boa educação que a pessoa recebe. A história das doutrinas a respeito da mentira divulga-nos a existência de duas posições essenciais: uma vê a sua essência na falta de coerência entre o pensado e o expresso; outra define-a pelo falseamento da comunicação feita a outrem.
O fato de ambos os casos se ofenderem, as exigências da verdade explicariam a existência de um só termo; mas a diversidade ou a diferença na maneira como em cada um se violou, essas exigências impõem valoração moral diferente. Uma coisa é o falseamento da comunicação feita a outrem: quem fala (em condições normais de convivência humana, precisarão alguns) garante por esse mesmo fato ao interlocutor estar a manifestar o que realmente pensa; não o fazendo, abusa da confiança para que implicitamente apelou com essa promessa de fraqueza, lisura; falta à veracidade. Se a mentira chega à criança em seus cinco anos, é até difícil quando chegar aos seis anos discriminar não duvidosa a imaginação da realidade.
Os pais e educadores devem ser alertados. Criança saudável, amada e bem tratada não chega a mentir. A leal e franca educação é transmitida aos alunos pelos professores que consigam seja estabelecida. Os castigos usados antigamente não devem ser por palmatórias, não se admitindo isso chegar ao conhecimento da contemporânea juventude. O professor tem que encarnar a verdade, cujo intuito leve a que os jovens percebam-se por meio de qualquer órgão dos sentidos. Se se diz ser a mentira contrária a verdade, diz-se, também, do engano; da impostura, da fraude, da falsidade. A mentira física é o indivíduo simular ataques de epilepsia e várias doenças mutiladas.
Existe também a mentira inocente, cuja intenção não é de causar dano. A mentira piedosa é usada para confortar pessoas desesperadas, mormente quando se encontram doentes. Os romanos diziam que os habitantes de Cotrana, cidade da Itália (Calábria, terra natal de Mílon) eram profissionalmente mentirosos. Em figuras incomparáveis de mentirosos impossíveis foi o barão de Munchhausen. Câmara Cascudo descreve, em seu “Dicionário do Folclore Brasileiro”, que as “estórias” mentirosas, com seus heróis, convencionalmente locais, são índices de determinado grau de civilização. Cascudo acha que os primitivos e os selvagens não conhecem esse gênero de contos populares.
R. Silva era de opinião que “Bom sangue não mente” e Camões, em Lusíadas, I, 84, escreveu que “O Coração pressago nunca mente”. Herculano, em sua “Lendas”, escreveu: “Mentiu pela gorja como um perro judeu”. O preclaro sermonista padre Antônio Vieira dá opinião: “Tendes para vós que falastes verdade? Pois mentistes muito grande mentira”. No quarto mês dos calendários juliano e gregoriano, com 30 dias, foi criado o primeiro de abril em trote que se costuma passar nesse dia - Dia da Mentira.
Raimundo A. Paiva
Jornalista
Fonte: Diário do Nordeste
Escrito por Redação, 21:55 / 16 de Julho de 2005.
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