O Vitória de Guimarães criticou hoje o presidente da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP), Pedro Proença, por entender que desrespeitou a "separação de poderes", ao lamentar uma decisão jurídica relativa ao jogo do 'caso Marega'.
Os vimaranenses afirmam ter recebido com "estranheza" a posição tomada no sábado pelo dirigente, através de uma publicação na rede social Facebook, ao considerar que decisões como a do Tribunal da Relação de Guimarães, que anulou uma multa de 750 euros imposta a um adepto vitoriano pela Autoridade para a Prevenção e o Combate à Violência no Desporto (APCVD) por ocultação de identidade, são "incompreensíveis e lamentáveis".
"Não havendo da parte de Pedro Proença uma clarificação das suas declarações, cabe ao Vitória Sport Clube concluir que o presidente da Liga Portugal desrespeita, com este tipo de intervenções, o princípio da separação de poderes, servindo-se do julgamento de um ato que em si mesmo é absolutamente inócuo e comum a todos os estádios e pavilhões e a todos os desportos - quantos autos terá instaurado a APCVD? - para reacender a discussão do 'caso Marega' com referências que não podem deixar de ser entendidas como uma pressão para extrair punições", lê-se no comunicado dos minhotos no sítio oficial.
A nota, assinada pela direção presidida por Miguel Pinto Lisboa, vinca ainda que Pedro Proença, ao clamar que o futebol "tem estado na linha da frente do combate a todas as formas de violência, racismo e intolerância", despertou "associações que nada têm que ver com o processo" julgado pelo Tribunal da Relação de Guimarães.
Segundo a edição de sábado do Jornal de Notícias, a APCVD decidiu aplicar uma multa a um adepto, de 29 anos, que se encontrava na bancada Sul do Estádio D. Afonso Henriques, em Guimarães, junto à claque vitoriana White Angels, no duelo entre Vitória e FC Porto, de 16 de fevereiro (2-1 para os 'dragões'), por entender que, ao colocar um capuz na cabeça e ao ficar somente com os olhos visíveis, violou a regra que impede a "ostentação de qualquer utensílio ou apetrecho que oculte, total ou parcialmente, o rosto do espetador no espetáculo desportivo".
O adepto em questão recorreu da multa para o Tribunal da Relação, que lhe deu razão, por considerar que a colocação do capuz é um comportamento que se insere na "normalidade", não sendo "suficiente para o preenchimento do preceito incriminador".
A situação aconteceu no jogo em que o avançado do FC Porto Moussa Marega, autor do golo que deu o triunfo aos ?dragões' (2-1), aos 60 minutos, pediu para ser substituído e abandonou o relvado por volta dos 70, por causa de insultos racistas que lhe foram dirigidos por alguns adeptos vitorianos nas bancadas, como os de sons a imitar macacos.
Na sequência do episódio, a APVCD puniu, em outubro último, o Vitória com três jogos em casa à porta fechada, a serem cumpridos após o regresso do público aos estádios, com o emblema de Guimarães a recorrer da decisão.
O caso originou ainda uma investigação da Polícia de Segurança Pública (PSP) às câmaras da videovigilância do estádio vimaranense, com a colaboração do Vitória, de forma a serem identificados os eventuais autores dos insultos racistas e um processo-crime do Ministério Público (MP) "por atos de discriminação racial".
Três adeptos do emblema vimaranense estão a ser julgados no Tribunal de Guimarães, pelo crime de discriminação e incitamento ao ódio e à violência, punido com pena de prisão de seis meses a cinco anos, desde 25 de setembro.
O clube minhoto criticou ainda Pedro Proença pelo momento da reação, pouco antes de nova receção do Vitória ao FC Porto, para a 11.ª jornada da I Liga, às 21:00 de terça-feira e pelo "inegável contributo que ela produz para a legitimação de preconceitos e generalizações".
"O clube denunciou e documentou [essa situação] como um excesso e uma arbitrariedade, então perante o silêncio, que agora deduzimos cúmplice, da Liga Portugal e do seu presidente", conclui a nota.
Lusa
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