O Município de Leiria assinala, em 2021, 400 anos da morte do poeta Francisco Rodrigues Lobo (1574-1621), com um programa diversificado de atividades educativas, culturais e científicas, a decorrer até ao final do ano.
O programa comemorativo, que foi apresentado em conferência de imprensa (online) esta sexta-feira, dia 19 de fevereiro, pela vereadora da Educação e Cultura, Anabela Graça, e pelo Prof. Doutor Carlos André, tem como principal objetivo trazer o legado de Francisco Rodrigues Lobo de volta à sua cidade num desafio aberto a toda a região para que o sinta, conheça e reconheça como o seu poeta e aquele que merece ocupar o seu lugar entre os maiores poetas da língua portuguesa.
“Celebrarmos a vida e obra de Francisco Rodrigues Lobo, é celebrar o poeta e também a cultura e o território”, afirma a vereadora Anabela Graça, para quem uma efeméride como esta só faz sentido numa lógica participativa, com o envolvimento de toda a comunidade.
“Francisco Rodrigues Lobo é o maior escritor leiriense de todos os tempos e é um dos grandes escritores portugueses”, defende Carlos André, que destacou o facto de Francisco Rodrigues Lobo ter sempre assumido com muita clareza a sua identidade leiriense, que está tão evidente na forma como o poeta se referia a Leiria como “A minha Pátria sempre desejada”.
O ano Rodrigues Lobo não será só uma efeméride, será a definição de um futuro, o nosso futuro, de que o poeta passará a fazer parte para sempre.
Para tal, a participação da Escola é essencial, porque Rodrigues Lobo é um dos grandes poetas portugueses, porque é “o poeta” de Leiria e porque assumi-lo na identidade leiriense só é possível se for feito com os Leirienses do Futuro.
Em 2021, terá lugar um vasto leque de eventos destinados ao público escolar, com a participação de treze estabelecimentos de ensino, mas também muitas iniciativas destinadas a outros públicos e outros participantes.
Exposições, espetáculos, oficinas e debates, visitas de estudo e roteiros, dias comemorativos, composições musicais, ebooks, vídeos, fotografia, herbários, diversos painéis, e concurso de curtas – Rede Cultura 2027 – 26 concelhos, que inclui a capacitação de educadores e professores em produção e edição vídeo, são muitas das iniciativas que farão parte da Homenagem de Leiria a Rodrigues Lobo no ano em que se assinala o 4º centenário da morte do poeta.
Destas iniciativas (Programação em anexo), destaque para um Congresso Científico sobre Francisco Rodrigues Lobo, com a participação de estudiosos de várias universidades; O Prémio de Poesia Francisco Rodrigues Lobo, que em 2021 se reveste de particular significado; A Ronda Poética, na qual Francisco Rodrigues Lobo terá lugar de destaque, e para uma sessão da Academia das Ciências de Lisboa, cujas deslocações a outros pontos do país são raras, mas que se desloca propositadamente a Leiria para participar na Homenagem a Rodrigues Lobo.
Francisco Rodrigues Lobo (1574-1621)
Nasceu em Leiria, provavelmente na Rua da Água, hoje Rua Comandante João Belo e em Leiria viveu, com ligeiros intervalos, nomeadamente para fazer a sua formação em Leis, na Universidade de Coimbra, que concluiu em 1602.
Na sua poesia bucólica, o Lis e o Lena, os seus campos e vales, toda a fauna e toda a flora que os povoavam eram o seu retrato e a sua marca, estando a obra que escreveu repleta de descrições etéreas de flores, de plantas, de arbustos, de árvores e de todo um verde florido que crescia junto aos dois rios.
A sua vida por Leiria não foi fácil e está envolta em algum mistério.
Era Cristão Novo, o que atraía a desconfiança dos inquisidores. Seu irmão, já depois da morte dele, foi objeto de um processo na Inquisição.
Cresceu protegido pela família dos Marqueses de Vila Real, que tinham paço em Leiria. Mas caiu de repente em desgraça junto do herdeiro da casa, D. Miguel de Meneses. Não se sabe se terá sido por ser cristão novo, se devido a uma “estranha” relação de amizade com D. Juliana de Lara, irmã de D. Miguel. Relação que se manteve enquanto o poeta estudou em Coimbra, pois que a visitou mais de uma vez no palácio de Penacova, do Conde de Odemira, com quem entretanto ela tinha casado. E dedicou-lhe uma das suas obras. Uma estranha relação que pode ter-lhe custado caro.
Era o tempo do domínio filipino e não se sabe o que da situação do país pensava Rodrigues Lobo. Além do mais, esse é um traço característico da sua obra: é uma obra onde se esconde por detrás dos pastores que são os seus protagonistas, nas suas três obras principais: A Primavera; O pastor peregrino; e O desenganado. Tudo aí é utópico, como é próprio da literatura bucólica.
Como se esconde também de alguma forma, no livro A corte na aldeia, um diálogo onde quatro participantes falam das virtudes e qualidades recomendáveis a cortesãos e cidadãos que busquem ser respeitados. Mas pode perguntar-se: corte na aldeia porque não a havia na cidade? Porque Portugal não tinha corte, visto ser dirigido de longe, por reis espanhóis? Na aldeia, onde? Quando olhamos o título da obra, não podemos deixar de pensar em Cortes, ainda que sem razão nem fundamento.
Em Leiria viveu, mas morreu mais perto de Santarém, num naufrágio no Tejo, quando regressava de uma viagem a Lisboa; tais viagens faziam-se por terra até ao Tejo e de barco daí até Lisboa. Corria o ano de 1621.
Rodrigues Lobo amava Leiria. Amava o Lis e o Lena, os seus campos e vales, toda a fauna e toda a flora que os povoavam e que eram o seu retrato e a sua marca. A obra que escreveu está repleta de descrições encantadoras de flores, de plantas, de arbustos, de árvores. Do verde florido que crescia junto aos dois rios.
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