O Serviço de Urgência do Hospital de São João, no Porto, somou esta semana à equipa um psicólogo para apoiar profissionais de saúde, doentes e familiares nos momentos de stress ou de notícias difíceis, entre outras situações.
O protocolo de colaboração entre o Serviço de Urgência e o Serviço de Psicologia do Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ) entrou em vigor na segunda-feira e Cláudia Martins foi a primeira psicóloga escalada para a nova tarefa.
Aos jornalistas, a especialista contou um dos exemplos do que pode ser a intervenção de um psicólogo no Serviço de Urgência, lembrando que o apoio psicológico se mantém no internamento.
"Hoje estive com um senhor que ficará internado. Foi-lhe identificada ansiedade em relação ao prognóstico. Primeiro, há que tentar validar o que a pessoa sente e focar no aspeto positivo que é o 'está cá, foi recebido, houve estabilização do quadro, vai avançar para recuperação'. Neste caso, foi necessário reforçar o contacto com a família", descreveu a psicóloga.
A identificação das necessidades é feita pelas equipas médica e de enfermagem, mas a psicóloga contou que não se limita a aguardar sentada que a procurem e, no primeiro dia de trabalho, dedicou-se a circular pelo serviço e dar a conhecer a sua disponibilidade para ajudar também os profissionais de saúde em situações de crise e emocionalmente traumáticas.
Esta abordagem não é novidade para Cláudia Martins, que trabalhou durante 13 anos no Reino Unido, num contexto hospitalar que tinha práticas semelhantes, mas é, segundo o diretor do Serviço de Psicologia do CHUSJ, "pioneira em Portugal".
"Penso que este é um exemplo a replicar. Este é o primeiro hospital com este serviço", disse Eduardo Carqueja.
Questionado sobre o porquê do protocolo ter sido lançado agora, o diretor contou que a ideia estava prevista desde 2019, frisou que "o ADN dos psicólogos é trabalhar em equipa" e "cuidar de quem cuida, bem como de quem precisa de ser cuidado" considerando que o serviço surgiu "no tempo certo".
"Temos de ser prudentes na oferta. Queremos um contínuo ou até reforçar e foi agora possível", referiu, acrescentando que aos psicólogos foi dada formação especifica na transmissão de más notícias, embora não lhes caiba a eles fazer a transmissão das mesmas junto de familiares e que foi necessário realizar visitas com quem nunca tinha estado no Serviço de Urgência de modo a perceberem o ambiente estrutural e humano.
Já a diretora do Serviço de Urgência, Cristina Marujo, descreveu este apoio como "muito importante" para "equipas que acusam stress" e são responsáveis todos os dias por dar notícias difíceis, como situações de morte ou de uma doença grave, bem como para os pacientes e famílias que as recebem.
"Situações em que se perdem vidas que, à partida, não estávamos a contar perder, momentos que obrigam a atitudes clínicas importantes e intensas, situações emocionalmente pesadas para os profissionais das várias classes profissionais. E situações de conflito porque isso também faz parte em equipas grandes", descreveu.
Referindo-se à pandemia covid-19, Cristina Marujo disse que, embora este protocolo não tenha sido criado por causa "desta situação crítica", porque "já era desejado e estava pensado", se veio a notar "ainda mais a necessidade de ter um psicólogo a tempo inteiro" no Serviço de Urgência até porque "os doentes ficaram mais sozinhos".
"Normalmente conseguíamos partilhar os momentos difíceis com as famílias, mas a determinada altura estávamos só nós. Isso gera momentos de enorme stress", contou a diretora, salvaguardando que, entretanto, esta realidade se foi alterando porque foi sendo permitida a presença de familiares em momentos finais e críticos.
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