O Papa emérito Bento XVI sabia de episódios em que padres abusaram de crianças quando foi arcebispo de Munique, entre 1977 e 1981, concluiu um relatório da arquidiocese esta quinta-feira, rejeitando as suas negações de longa data.
"Ele foi informado sobre os factos", disse o advogado Martin Pusch em Munique, incluído num painel que anunciou as conclusões da investigação, de acordo com a CNN.
"Acreditamos que pode ser acusado de má conduta em quatro casos", afirmou. “Dois desses casos dizem respeito a abusos cometidos durante o seu mandato e sancionados pelo Estado".
Em ambos os casos, os responsáveis permaneceram ativos na pastoral, mantendo os seus cargos.
O advogado lembrou ainda que Bento XVI "alega que não sabia de certos factos", mas que a investigação recusa estas afirmações.
No início do mês, vários meios de comunicação alemães avançaram que o Papa emérito ajudou a encobrir um capelão condenado por abusos sexuais na década de 1980.
O capelão Peter H. foi transferido em 1980 da diocese de Essen para a de Munique-Freising, depois de ter abusado de vários menores. Ao terem conhecimento das acusações, os seus superiores não as esclareceram, mas obrigaram-no a fazer terapia psicológica.
O então cardeal Joseph Ratzinger, na qualidade de arcebispo de Munique-Freising, sabia que o capelão havia cometido abusos, mas ainda assim aprovou a sua transferência e não denunciou o caso ao Vaticano, como era sua obrigação, de acordo com um decreto extrajudicial do Tribunal Eclesiástico da Arquidiocese de Munique e Freising de 2016.
Após a transferência aprovada por Ratzinger, o sacerdote continuou com os abusos, pelos quais foi condenado em 1986 a 18 de prisão, facto que levou as autoridades eclesiásticas a transferi-lo novamente, desta vez para Garching, no sul da Alemanha.
Joseph Ratzinger “esteve disposto a admitir ao sacerdote H. que tinha conhecimento da situação”, afirma o documento, citado pela emissora de televisão pública ZDF e pelo semanário “Die Ziet”.
Por isso, o documento acusa o Papa emérito Bento XVI e outras autoridades eclesiásticas de não terem cumprido a sua “responsabilidade” para com as “crianças e adolescentes confiados ao seu cuidado pastoral”, segundo a investigação dos dois órgãos de comunicação social.
Segundo o documento, Ratzinger e outras autoridades vinculadas ao caso nunca denunciaram ao Vaticano, o que “não permite tirar nenhuma outra consequência” do que “renunciaram deliberadamente à punição do crime”.
Através do seu secretário pessoal, o Papa emérito Bento XVI negou ter conhecimento dos registos do sacerdote H., “portanto, não violou a sua obrigação de informar Roma”, segundo declarações citadas pela ZDF.
Peter H. não foi destituído do sacerdócio até 2010, facto pelo qual o documento também crítica o atual arcebispo de Munique, o cardeal Reinhard Marx, que em 2008 pediu um relatório psiquiátrico sobre o estado mental do capelão, tendo o transferido novamente, abdicando abrir uma investigação interna.
Em junho de 2021, o Papa Francisco rejeitou a resignação do cardeal Marx, após ter renunciado ao cargo como um gesto contra os abusos sexuais de menores por membros da Igreja Católica na Alemanha.
Madremedia
Imagem: Diário do Povo
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