sábado, 16 de abril de 2022

A guerra russa e a mensagem de Fátima

Em 24 de fevereiro, Putin declarou que havia autorizado “uma operação militar especial” contra a Ucrânia. Até o fechamento desta edição, as coisas não estavam como o sanguinário presidente russo desejava…

  • Roberto de Mattei

A Mensagem de Fátima é a chave para interpretar os dramáticos acontecimentos dos últimos dois anos, e em particular o que está acontecendo na Ucrânia.

Pode-se compreender que essa perspectiva seja estranha ao homem contemporâneo imerso no relativismo, mas o que mais chama a atenção é a cegueira de tantos católicos, incapazes de se elevar àquelas alturas que são as únicas que nos permitem compreender os acontecimentos nas dramáticas horas da História. E nós, após a pandemia de Covid, vivemos a dramática hora da guerra.

A frente colaboracionista

Os fatos são estes: em 21 de fevereiro de 2022, o presidente russo Vladimir Putin, em discurso à nação, anunciou o reconhecimento da independência das repúblicas separatistas de Donetsk e Lugansk, para depois ordenar o envio de tropas à região de Donbass a fim de “garantir a paz”. Em 24 de fevereiro, em novo discurso, Putin declarou que havia autorizado “uma operação militar especial” não apenas no Donbass, mas também no leste da Ucrânia. A invasão russa da Ucrânia logo se mostrou muito maior e mais trágica do que o esperado, causando um clima de profunda apreensão em todo o mundo.

Qual tem sido a reação da Itália e do Ocidente diante da agressão da Rússia contra a Ucrânia? Por um lado, explodiram sentimentos de indignação e solidariedade para com o povo ucraniano. Por outro lado, porém, desenvolveu-se um sentimento de simpatia pela iniciativa de Putin, o que levou à criação de uma frente a qual chamo de “colaboracionista”.

O termo colaboracionismo indica, em linguagem política, apoio ideológico a um Estado estrangeiro invasor. Esse termo nasceu na Segunda Guerra Mundial para indicar a colaboração com os nazistas nos territórios que ocupavam.1. O colaboracionismo não é apenas um ato de colaboração: é uma ideologia, explícita ou implícita, que no caso da invasão russa da Ucrânia merece ser analisada em três diferentes expressões que até agora assumiu.

Melhor derrotado que morto?

A primeira posição é a de quem diz, ou pensa, que Putin está absolutamente errado, mas está vencendo e resistir-lhe leva a Ucrânia e a Europa a males maiores do que a invasão. Segundo o jornalista italiano Vittorio Feltri, por exemplo, “Zelensky é pior do que Putin, a quem entregou seu povo despreparado para matá-los”;2 o líder ucraniano devia se render, e não resistir. Na verdade: “Melhor derrotado do que morto”.3

Por trás do lema “Melhor derrotado que morto” há uma filosofia de vida, que é a daqueles que colocam seu próprio interesse particular antes de qualquer outra consideração de ordem superior. Não há valores ou bens, por mais altos que sejam, pelos quais valha a pena sacrificar e morrer. Se a invasão russa deve ser preferida à resistência contra ela, isso significa que a vida — uma vida material, tão pacífica e longa quanto possível — é o bem supremo e essencial.

Essa é a filosofia de vida dos pacifistas que nos anos 1980, quando os soviéticos instalaram seus mísseis SS.20 contra a Europa, se opuseram aos mísseis da OTAN com o slogan “Melhor vermelho que morto”. É a filosofia de vida daqueles que, em 1939, se perguntavam se era certo “Morrer por Danzig”, segundo um slogan lançado pelo deputado socialista francês Marcel Déat (1894-1955) para argumentar que não valia a pena arriscar a guerra para defender a cidade de Danzig, cuja conquista teria esgotado as ambições de Hitler.4 O socialista Déat fundará então um partido de inspiração nacional-socialista e representará um exemplo típico de colaboracionismo.

Se essa é a posição que deve ser tomada diante de um agressor, então seria necessário ceder aos pedidos de Putin para evitar a morte e o sofrimento de um povo, ainda que depois da Ucrânia ele invadisse os países bálticos e, sob chantagem nuclear, uma parte da Europa Ocidental. A lógica é essa.

Os homens ucranianos que não saem de seu país, ou que voltam para lutar após terem assegurado sua família no Ocidente, expressam com sua escolha uma filosofia de vida oposta, abandonada pela Europa relativista e desenraizada. A filosofia deles é a de quem está disposto a sacrificar suas vidas por causa de sua fé, por amor à liberdade e independência de sua pátria, por amor à própria honra e dignidade pessoal. O verdadeiro progresso, o verdadeiro desenvolvimento na vida dos povos está intimamente ligado a esse espírito de sacrifício. É aí que nascem os cumes da santidade e do heroísmo.

Putin tem suas razões?

A segunda posição colaboracionista pode ser formulada nestes termos: Putin estava errado, mas os erros não são apenas dele. Ou, o que dá no mesmo: Putin também tem suas razões. — Quais são esses motivos? Por exemplo, o fato de que, após a queda do Muro de Berlim, o Ocidente teria humilhado a Rússia cercando seu território com tropas da OTAN?

Parece um discurso razoável, mas se quisermos ser completamente razoáveis ​​devemos lembrar que a OTAN nasceu como um sistema defensivo contra as tropas de Varsóvia; que a Rússia não ganhou, mas perdeu a guerra fria, e que esta guerra entre as duas superpotências surgiu da infeliz paz de Yalta, em fevereiro de 1945, quando, com o consentimento dos governos ocidentais, foi sancionada a divisão da Europa em duas zonas de influência e o comunismo soviético se tornou senhor absoluto da Europa Oriental.

A paz de Yalta, que redefiniu as fronteiras da Europa após a Segunda Guerra Mundial, foi por sua vez o resultado do Tratado de Versalhes, que colocou a responsabilidade da Primeira Guerra Mundial na Alemanha, impôs-lhe pesadas sanções econômicas e entregou o corredor de Gdansk. Devemos dizer que Hitler teve suas razões para invadir a Polônia porque a cidade de Danzig não era menos alemã do que Donbass é russo?

Quaisquer que fossem suas razões, Hitler tinha um projeto expansionista tanto quanto o de Putin, e o historiador de hoje, como o político de ontem, não concorda com Neville Chamberlain, que em 30 de setembro de 1938 retornou triunfante de Munique com uma paz frágil nas mãos, o que levou Winston Churchill a dizer: “Podias escolher entre a desonra e a guerra. Escolheste a desonra e terás a guerra”.

O historiador de hoje, como o político de ontem, não concorda com Neville Chamberlain, que em 30 de setembro de 1938 retornou triunfante de Munique com uma paz frágil nas mãos, o que levou Winston Churchill a dizer: “Podias escolher entre a desonra e a guerra. Escolheste a desonra e terás a guerra”

Putin está travando uma guerra justa?

Talvez seja para evitar essa objeção fácil que o colaboracionismo cai em uma terceira formulação, mais coerente, mas ao mesmo tempo mais aberrante que as duas primeiras. Muito simplesmente: a guerra de Putin é uma guerra justa. E se for uma guerra justa, tanto a resistência do povo ucraniano quanto as sanções ocidentais contra a Rússia são injustas, porque as sanções se aplicam a quem está errado, não a quem está certo.

Por que Putin estaria certo? Por que a sua guerra seria justa? Não só porque defende o interesse nacional do seu país, mortificado pelo Ocidente, mas também porque sua guerra teria uma dimensão ética, como nos assegura a igreja ortodoxa russa através das palavras de Kirill, patriarca de Moscou, para quem Putin luta contra um Ocidente depravado que autoriza o Orgulho Homossexual. Além disso, o próprio Putin muitas vezes se apresentou como defensor da família e dos valores tradicionais abandonados pelo Ocidente. No entanto, em discurso no Valdai Club, em 22 de outubro de 2021, no qual atacou a teoria do gênero e a cultura do cancelamento, Putin admitiu que a Rússia experimentou, bem antes do Ocidente, a degradação moral que ele agora denuncia. O divórcio foi introduzido na Rússia em 7 de dezembro de 1917, poucas semanas após os bolcheviques tomarem o poder; o aborto foi legalizado em 1920 — a primeira vez no mundo em que isso acontecia sem quaisquer restrições. E foi na Rússia que se deu a transição da revolução política para a revolução sexual,5 com o jardim de infância experimental de Vera Schmidt (1889-1937), criado em 1921 no centro de Moscou, onde as crianças eram iniciadas precocemente na sexualidade.6

Não foi Putin, mas Stalin, quem refreou o divórcio, o aborto, a revolução sexual — em 1936, quando percebeu que sua política de poder seria minada pelo colapso da moralidade na Rússia. Putin está nesta linha. Hoje a Rússia é um país de aborto e divórcio, com a maior taxa de divórcio do mundo, embora proíba as marchas Orgulho homossexual. E quais são os valores tradicionais nos quais Putin se inspira? São aqueles do Patriarcado de Moscou, que se apoia hoje em Putin como se apoiava ontem em Stalin. Putin, como Stalin, por sua vez, depende do Patriarcado de Moscou. O Patriarcado de Moscou usa o poder político para defender o primado da Ortodoxia; o Estado usa a Igreja para consolidar o senso de identidade e patriotismo do povo russo.

A “missão imperial” da Rússia não corresponde apenas às ambições geopolíticas de Putin, mas também ao pedido do patriarca Kirill, que confiou a Putin a missão de criar a “Terceira Roma” eurasiana nas ruínas da segunda Roma católica

A “missão imperial” da Rússia não corresponde apenas às ambições geopolíticas de Putin, mas também ao pedido do patriarca Kirill, que confiou a Putin a missão de criar a “Terceira Roma” eurasiana nas ruínas da segunda Roma católica, destinada a desaparecer, como todo o Ocidente. — Pode um católico aceitar esta perspectiva?

É profundamentelamentável que um eminente arcebispo católico como Mons. Carlo Maria Viganò apresente a guerra de Putin como uma guerra justa para derrotar o Ocidente. O Ocidente é o filho primogênito da Igreja, cada vez mais desfigurado hoje pela Revolução, mas ainda o primogênito. Um europeu que o negue sob o pretexto de lutar contra a Nova Ordem Mundial é como um filho que se divorcia da mãe.7

Afinal, a Nova Ordem Mundial é uma velha utopia que foi substituída pela da Nova Desordem Mundial.8 Vladimir Putin é, como George Soros, um agente da desordem mundial. Putin — como observa o analista internacional Bruno Maçães — está convencido de que o caos é a energia fundamental do poder e, “com razão, ele pode ser considerado o Yaldabaoth, o demiurgo gnóstico, Filho do Caos e líder dos espíritos do submundo”.9

A Igreja e a queda do Império Romano do Ocidente

Nova Desordem Mundial nos lembra aquela vivida pelo Império Romano do Ocidente sob o impacto das invasões bárbaras. Entre as datas que entraram para a história está 31 de dezembro de 406, quando uma massa de povos germânicos atravessou o rio Reno congelado e invadiu as fronteiras do Império.

Um desses povos, os vândalos, varreu a Gália, atravessou os Pirineus pelo estreito de Gibraltar e devastou as províncias da África romana.

O Império Romano estava imerso no relativismo e no hedonismo, como está hoje o Ocidente. Um dos centros de maior corrupção era Cartago, capital da África romana, que gozava da fama de ser o “paraíso” dos homossexuais. Um autor cristão contemporâneo, Salvian de Marselha (400-451), escreve que “enquanto as armas dos bárbaros chacoalhavam pelas muralhas de Cartago, a comunidade cristã de Cartago se entregava à louca alegria nos circos e girava nos teatros! Fora dos muros ficavam os que foram massacrados, dentro os que fornicavam”.10 Os vândalos, por outro lado, como os povos germânicos descritos por Tácito, viviam “em modéstia reservada, não corrompidos pela sedução dos espetáculos ou excitações de convívio (…). Porque lá os vícios não fazem sorrir, e subornar e ser corrupto não se chama moda”.11

O que os cristãos deveriam ter feito? Abrir as portas aos vândalos?

Santo Agostinho, bispo de Hipona, diante da invasão dos bárbaros não pediu a rendição, mas a resistência contra eles, escrevendo a Bonifácio, governador da África romana: “A paz não se busca para provocar a guerra, mas a guerra é travada para obter a paz. Inspira-te, pois, na paz, para que vencendo possas levar aqueles que tu derrotas ao bem da paz”

A poucos quilômetros de Cartago estava a cidade de Hipona, cujo bispo era Santo Agostinho, que meditando sobre a invasão dos bárbaros compôs sua obra-prima A Cidade de Deus. O governador da África romana era o conde Bonifácio, amigo fiel de Santo Agostinho, definido por Procópio de Cesareia, juntamente com Ezio, como “o último verdadeiro romano”.12 O bispo de Hipona não pediu rendição, mas resistência contra os bárbaros, escrevendo a Bonifácio: “A paz não se busca para provocar a guerra, mas a guerra é travada para obter a paz. Inspira-te, pois, na paz, para que vencendo possas levar aqueles que tu derrotas ao bem da paz”.13

Bonifácio refugiou-se na cidadela de Hipona, sitiada pelos vândalos. Durante o cerco, que durou 14 meses, Santo Agostinho morreu, em agosto de 430, aos 76 anos. Foi somente quando sua voz se calou que os vândalos conquistaram a cidade. A resistência de Bonifácio permitiu que as tropas orientais desembarcassem na África e reunissem suas forças com as dele.

Nos mesmos anos, outros bispos incitaram a resistência contra os bárbaros. São Nicásio foi morto na catedral de Reims; Santo Exupério, bispo de Toulouse, resistiu aos vândalos até a sua deportação; São Wolf defendeu Trier, da qual era bispo; Santo Anian, bispo de Orleans, organizou a defesa de sua cidade contra os hunos, permitindo que as legiões romanas de Ézio chegassem até Átila e o derrotassem.

Os bispos católicos não disseram “Melhor bárbaros que mortos”.

A causa da guerra segundo a Mensagem de Fátima

Se queremos remover a guerra, devemos remover suas causas. E a verdadeira e profunda causa da guerra, da pandemia e da crise econômica que está surgindo no horizonte são os pecados da humanidade que deu as costas a Deus e à sua Lei.

Nas aparições de Fátima em 1917, Nossa Senhora disse que o distanciamento dos povos europeus de Deus conduzia ao castigo divino da guerra.

“Deus está prestes a punir o mundo por seus crimes, através da guerra, da fome e da perseguição à Igreja e ao Santo Padre. Para evitar isso, virei pedir a consagração da Rússia ao meu Imaculado Coração e a Comunhão reparadora nos primeiros sábados. Se aceitarem os meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz; se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas. Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre consagrar-me-á a Rússia, que se converterá, e será concedido ao mundo algum tempo de paz”.14

A Mensagem de Fátima não é um convite genérico à oração e à penitência; é sobretudo o anúncio de um castigo e do triunfo final na história da misericórdia divina.

João Paulo II consagrou a Rússia?

Há quem pense que a consagração da Rússia já foi feita por João Paulo II quando, em 25 de março de 1984, na Praça de São Pedro, consagrou o mundo ao Imaculado Coração de Maria, com uma referência “aos povos dos quais esperas a nossa consagração e a nossa guarda”.

A Irmã Lúcia disse inicialmente estar insatisfeita com essa consagração na qual a Rússia não foi explicitamente mencionada, mas depois mudou de opinião, considerando válido o ato de João Paulo II.

A opinião da Irmã Lúcia é certamente autorizada, mas contrasta com as palavras ainda mais autorizadas de Nossa Senhora que ela mesma nos relata.

Com efeito, em 29 de Agosto de 1931, a Irmã Lúcia transmitiu uma terrível profecia de Nosso Senhor ao bispo de Leiria. Ela recebera uma comunicação íntima segundo a qual: “Não quiseram aceitar o meu pedido. Como o rei da França, eles se arrependerão e a farão, mas será tarde demais. A Rússia terá espalhado seus erros pelo mundo causando guerras e perseguições à Igreja. O Santo Padre terá que sofrer muito”.15

Trinta e oito anos se passaram desde 25 de março de 1984. A espetacular autodissolução do regime soviético em 1991, sem insurreições ou revoltas, parecia ser, e talvez fosse, um resultado parcial dessa consagração. Mas a Rússia não se converteu e o comunismo não morreu. Vladimir Putin é um bolchevique nacional que não negou os erros do comunismo, e a China é uma nação oficialmente comunista que em 7 de março de 2022 declarou que sua amizade com a Rússia é “sólida como uma rocha”.

No entanto, mesmo entre os católicos, há quem considere Putin um Kathéchon, um obstáculo à realização da Nova Ordem Mundial, um escudo contra o anticristo que seria o Ocidente, que é a Roma de Pedro. A guerra, diz-se, alargou o estado de emergência da pandemia e isso não pode ser coincidência.

Respondemos que é verdade: a sucessão da guerra à pandemia, com o consequente regime de emergência, não pode ser coincidência, porque o acaso não existe, mas quem segura os fios do universo não é o Big Brother de Orwell, um deus onisciente e onipotente como o deus maligno dos gnósticos. Quem governa o universo e ordena tudo para a glória de Deus é a Providência Divina. Daí vêm os castigos que hoje afligem a humanidade impenitente: epidemias, guerras e amanhã, uma crise econômica planetária. Tudo isso não é preparatório para o advento do anticristo, mas é o cumprimento da profecia de Fátima.

Os bispos ucranianos pediram ao Papa Francisco que consagrasse a Rússia ao Imaculado Coração de Maria. Aderimos com entusiasmo a este apelo que vem de Kiev sob as bombas.

Nossa esperança

Nenhuma luz de esperança vem de Moscou. Pode uma luz de esperança vir de Kiev?

Em Fátima, Nossa Senhora profetizou a conversão da Rússia, mas a conversão é um regresso às origens e as origens da Rússia remontam à conversão de São Vladimir, Príncipe de Kiev. A Rússia de Kiev foi uma das primeiras nações a entrar no cristianismo medieval, antes de passar pelo domínio dos mongóis e depois dos príncipes moscovitas que assumiram a herança anti-romana de Bizâncio. Uma parte do povo ucraniano manteve a fé católica, e nos concílios de Florença (1439) e de Brest (1595) encontrou o caminho de volta a Roma. Pio XII, na encíclica Orientales omnes Ecclesias, de 23 de dezembro de 1945, exorta os ucranianos a serem perseverantes em sua fidelidade a Roma, porque “quem tiver em conta a sua vida perdê-la-á, e quem perder a sua vida por minha causa a encontrará” (Mt 10, 37ss).

No século V, os godos, os vândalos e os hunos invadiram o Império Romano para compartilhar seus restos mortais. Hoje, Rússia, China, Turquia e o mundo árabe querem apoderar-se do gordo legado do Ocidente, que consideram, como já foi dito, um “doente terminal”.16

Alguém dirá: onde estás, Estilicão, que resististe aos godos? Onde estás, Bonifácio, que defendeste a África dos vândalos? Onde estás, Ézio, que derrotaste os hunos? Onde estais, guerreiros cristãos que pegastes em armas para defender um mundo que estava morrendo?

Respondemos que contra o inimigo atacante temos armas poderosas. Contra a bomba nuclear do pecado, Nossa Senhora colocou a consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria nas mãos do Papa, o terço e a devoção dos primeiros sábados do mês em nossas mãos.

Mas, sobretudo, colocou em nossos corações o desejo do triunfo do Imaculado Coração sobre as ruínas do regime de Putin, do regime comunista chinês, dos regimes islâmicos e do Ocidente corrupto. — Só Vós podeis fazer isso; Vós nos pedis uma confiança inabalável de que isso acontecerá, porque Vós o prometestes infalivelmente. É por isso que nossa resistência continua.

ABIM

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NOTAS:

1. Ver Luigi Cajani, Brunello Mantelli, Uma certa Europa: colaboração com as potências do Eixo 1939-1945, Anaisde Luigi Micheletti Foundation, Brescia 1994.

2. “Libero”, 8 de março de 2021.

3. “Libero”, 2 de março de 2021.

4. “L’Œuvre”, 4 de maio de 1939.

5. Ver Gregory Carleton, The Sexual Revolution in Russia, University of Pittsburgh Press, Pittsburgh 2005.

6. Vera Schmidt, Relatório do Asilo Experimental de Moscou, Androeda, Roma 2016.

7. Julio Loredo “A conversão da Rússia”, TFPNewsletter, Especial Ucrânia, 3 de março de 2022.

8. Roberto de Mattei, 1900-2000. Dois sonhos acontecem: construção, destruição, EdizioniFiducia, Roma 1990.

9. Bruno Maçães, “Vladimir Putin está a preparar-se para a guerra?”, em “New Statesman”, 21 de novembro de 2021.

10. Salviano de Marselha, De Gubernatione Dei, VI, 67-68.

11. Tacitus, Deigine et situ Germanorum (Alemanha), 18-19.

12. Procópio de Cesareia, III, 3.14-15.

13. Santo Agostino, Carta 189 ao Conde Bonifácio, cit. de JakubGrygiel, em “A Igreja ensina que a guerra pode ser justa e necessária”, em “Il Foglio”, 18 de maio de 2016.

14. Documentos de Fátima, editado pelo Padre António Maria Martins S.J., Porto 1976, pp. 218-220.

15. Documentos, cit., P. 464. Referência a Luís XIV, que em 1689 não aceitou o pedido de Jesus, transmitido a ele por Santa Margarida Maria Alacoque, de entronizar solene e publicamente o Sagrado Coração, consagrando-Lhe o seu reinado.

* Tradução do original italiano por Hélio Dias Viana.

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