O relógio marcava 12.22 e as televisões estavam em direto na Portela. Faltava pouco mais de dez minutos para aterrar o avião que trazia a seleção portuguesa. Do outro lado do rio Tejo, na base aérea do Montijo, um capitão da Força Aérea e um sargento ajudante - copiloto e mecânico, respetivamente - saíam de um C-130 onde deflagrara um incêndio a bordo. Aconteceu na descolagem para a segunda volta de um voo de treino no perímetro da base aérea número 6. Mas os dois oficiais que se salvaram antes da explosão a bordo decidiram voltar atrás para resgatar do avião o tenente-coronel que o pilotava e que tinha ficado preso no cinto de segurança, no cockpit. Acabaram por morrer os três. Segundo apurou o DN com fonte ligada à aviação, a história trágica dos três homens era ontem contada com pesar na base aérea do Montijo.
Os motores terão começado a arder e depois do incêndio seguiu-se uma explosão. Separou a frente do aparelho da cauda.
Dos sete membros da tripulação, quatro escaparam com vida mas um ainda ficou gravemente ferido com queimaduras no corpo, tendo sido transportado para a a unidade de queimados do Hospital de São José, em Lisboa, onde ficou internado, apurou o DN com fonte daquela unidade hospitalar.
O avião estaria a fazer o que se chama no meio de "manobras evasivas", um treino que consiste em levantar o aparelho, dar uma volta na base e no momento da aterragem tocar apenas com as rodas no chão para voltar a descolar. A tripulação terá comunicado um problema a bordo, apurou o DN, o que explicará que o co-piloto e o mecânico tenham conseguido sair no momento do incêndio.
Foi o primeiro acidente com vítimas mortais com um avião C-130 em Portugal: três mortos. Em comunicado, a Força Aérea confirma que três dos passageiros são feridos ligeiros, são todos militares e que vai desencadear "um inquérito conduzido pela Comissão Central de Investigação da Força Aérea" para apurar as causas do acidente.
Mais tarde, o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa viria a sublinhar os dois momentos coincidentes - a chegada da Seleção em triunfo e a notícia triste do acidente - em declarações à rádio TSF, tendo lamentado a ocorrência com perda de vidas com o C-130.
Cockpit foi o mais atingido
Os incêndios nos C-130 são mais frequentes nos motores e nas asas, segundo fonte da Força Aérea. No entanto, neste caso, foi o cockpit a zona mais atingida, pelo que terá de ser apurado o que originou este sinistro que vitimou três oficiais experientes da esquadra 501 dos "Bisontes" (a que trabalha com estes aviões de transporte tático).
De acordo com a página da Autoridade Nacional da Proteção Civil na internet, o alerta para o acidente com o C130 foi dado às 12.22 e pelas 13.30 as operações mobilizavam 48 operacionais e 15 veículos. Uma hora depois, como o DN constatou no local, saíam do interior da base aérea nº6 carros e ambulâncias de pelo menos três corporações de bombeiros: Montijo, Alcochete e Pinhal Novo.
Segundo apurou o DN, as vítimas mortais têm idades entre os 30 e os 50 anos. O acidente é um grande desaire para a Força Aérea (FA). Os C-130 têm sido uma espécie de "coqueluche", que até agora tinha provocado poucos desgostos - e nenhum com esta dimensão.
Num acidente há quase 20 anos saltou a hélice de um destes aparelhos numa missão no continente africano mas não houve vítimas a registar (ver caixa).
Como refere o site da Força Aérea, a esquadra 501 dos Bisontes "está qualificada para executar missões nos mais diversificados, complexos e delicados cenários de empenhamento, independentemente da permissividade do teatro de operações". Já estiveram em Angola, Afeganistão, Ruanda ou Balcãs. Mais recentemente Haiti, Egito e Líbia com missões de apoio humanitário.
Ministro desmarcou tudo
O ministro da Defesa Nacional, José Azeredo Lopes, estava no Porto quando se soube da notícia do acidente envolvendo o C-130 e a morte de três dos ocupantes e um ferido grave. Ao DN, fonte do Ministério adiantou que "o ministro desmarcou todos os compromissos públicos que tinha, nomeadamente uma reunião em Braga no final do dia, para se deslocar de imediato para a base aérea do Montijo, para reunir com o Chefe do Estado Maior da Força Aérea". A reunião teve início durante a tarde e ainda durava perto das 20 horas.
A Associação de Oficiais das Forças Armadas expressou, no Facebook, "a profunda consternação pelo sucedido e que terá tido como trágica consequência diversas vítimas entre os nossos camaradas".
Fonte: DN
Foto: público
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