Centena e meia de especialistas nacionais e internacionais reúnem-se hoje para a apresentação das estatísticas do cancro de Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo, Algarve e Madeira
A contabilidade justifica o receio por uma doença que todos os anos mata oito milhões de pessoas: 24 327 novos casos de cancro nas populações do Sul de Portugal e Madeira num ano. Número que equivale a 66,6 diagnósticos de tumores malignos por dia, 2,7 por hora. Os dados dizem respeito a 2011 e fazem parte do mais recente retrato das populações de Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo, Algarve e região autónoma da Madeira, que é apresentado hoje, nas jornadas do Registo Oncológico Regional Sul.
"Uma das coisas que verificámos foi que a incidência do tumor do cólon continua alta", adiantou ao DN Ana Miranda, diretora do ROR-Sul. No documento, que reúne os dados de cerca de cinco milhões de habitantes, este tumor surge como o terceiro mais frequente (2563 novos casos), depois do cancro da mama (3420) e da próstata (2818 ). E é também um dos que mais matam (1335 mortes em 2010).
Os números são dramáticos e colocam Portugal bastante acima do padrão europeu e mundial. Ana Miranda explica que foi analisada a evolução da sobrevivência entre 2001 e 2011 em alguns tumores, nomeadamente no cólon. "Houve uma ligeira melhoria, mas nada de significativo. Aos três anos, ainda tem uma sobrevivência observada de 60%." A coordenadora do ROR-Sul frisa que, "se usarmos estratégias para melhorar a sobrevivência", é possível que a taxa aumente. Ao contrário do que acontece no cancro da mama, em que a sobrevivência já é elevada e existe pouca margem de progressão. Antes dos 55 anos, refere, passou dos 89% para os 93%.
No que diz respeito ao cancro do pulmão, a sobrevivência também melhorou, mas só no sexo feminino. "Estou convencida de que quando estudarmos o ano de 2017 vai melhorar ainda mais, devido às novas moléculas que estão a ser usadas." Mas o grande destaque em termos de sobrevivência é no linfoma não Hodgkin, que surge em décimo lugar na lista dos mais frequentes. "Entre os 15 e os 44 anos, passámos dos 61% para os 84%. Isto deve-se, muito provavelmente, a um melhor tratamento", justifica Ana Miranda.
Longe da Europa e do mundo
Em 2011, a taxa de incidência nas regiões analisadas foi de 497,66 cancro por cem mil habitantes, um número bastante superior ao padrão europeu (355,99) e mundial (256,69). Já no que diz respeito a 2010, registou-se um aumento de 3% (724 casos).
Ana Miranda avisa que, "em relação ao cólon, há tumores que continuam a chegar [ao diagnóstico] em fases muito avançadas", porque o rastreio não está devidamente implementado em muitas zonas do país. No Norte, refere, há mais rastreios ao cancro do cólon e do reto, "o que tem influência na sobrevivência e na mortalidade".
Um dado positivo relativamente a este tumor é o facto de ter existido uma melhoria na sobrevivência da população até aos 54 anos, que passou dos 68% para os 79%. "É uma população mais vigiada e que tem mais cuidado com a alimentação. Os hábitos alimentares têm muita influência nos tumores, sobretudo do aparelho digestivo."
Marília Cravo, gastroenterologista e coordenadora adjunta do Centro de Oncologia do Hospital da Luz, diz que "a incidência do cancro do cólon em Portugal continua a aumentar, ao contrário do que tem acontecido nos EUA, por exemplo". No entanto, ressalva, é muito provável que a mortalidade se mantenha "inalterada", o que quer dizer que "estamos a tratar melhor".
Neste momento, o rastreio que existe em Portugal é "oportunístico", ou seja, depende do convite do médico e da vontade do doente. O impacto seria muito maior, explica a especialista, se fosse de base populacional. "Se rastreássemos todos os indivíduos em risco - com idades compreendidas entre os 50 e os 75 anos - e removêssemos os pólipos, a incidência descia entre 80% e 90%", adianta. Mas isso exige "um plano organizado e investimento".
Marília Cravo, que também é diretora do serviço de gastronterologia do Hospital Beatriz Ângelo, conta que naquela unidade existe um plano conjunto com os centros de saúde para rastrear 50% da população de risco em 2020, pois, neste momento, apenas 35% é rastreada. O ideal, prossegue, é que existisse "um plano nacional".
O resto do país
No Norte, os últimos dados disponíveis referem-se ao ano de 2010 e apontam para 16 616 novos casos de cancro diagnosticados na região. Já no Centro foram detetados 6671 tumores.
Fonte: DN
Nenhum comentário:
Postar um comentário