segunda-feira, 10 de abril de 2017

Falhámos. Acertámos. Perdemos. Vencemos.


Falhámos. Acertámos. Perdemos. Vencemos.
Faz hoje 11 anos, a 10 de Abril de 2006, nascia a Guerra e Paz editores. Com Sena e Sophia, com Agustina, Eça e Camilo. A história da Guerra e Paz editores é igual à história dos seres humanos que a fizeram e fazem. Cheia de muitas alegrias (ah, que bom!) e de algumas decepções (olha, já nos lixámos). Mais alegrias do que decepções, Deus seja louvado. Com o orgulho dos enormes livros-álbum de Agustina e Eduardo Prado Coelho e a humildade de colecções de saber e educação que não resistiram a mais de cinco títulos. Com a inovação dos livros com capa de madeira dedicados a Fernando Pessoa e a normalidade dos livros no tradicional formato 15x23, de ficção e não-ficção. Já tivemos o livro mais vendido do ano, Maddie: A Verdade da Mentira, mas também nos caiu em cima, mandada por Deus ou pelo Diabo, a insolvência de um distribuidor, terramoto a que, com uma angústia de Job, sobrevivemos.
Fazemos hoje 11 anos e isso foi o que foi.
Hoje, somos os «Clássicos da Guerra e Paz», 19 títulos indispensáveis publicados num ano e meio, de Eça a D. H. Lawrence, de Luís de Camões a Flaubert. Três novos títulos comemoram o nosso aniversário: El-Rei Junot, de Raul Brandão, o mais insólito romance português, As Aventuras de Tom Sawyer, de Mark Twain, aventureiro, viajante, humorista e criador do romance americano, e, por fim, uma monumental edição de Moby-Dick, o romance (será um romance?) de Herman Melville, numa admirável (desculpem a adjectivação, mas isto não vai lá com paninhos quentes) tradução de Maria João Madeira, que até nos baleeiros dos Açores se meteu para perceber o que estava a traduzir.
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Foi o que foi, somos o que somos. Somos os «Livros Amarelos», essa estranha colecção que reúne num só livro dois textos de autores diferentes e se arrisca a justificar as razões da escolha, da aproximação ou da oposição, do amor ou do ódio que os junta. O sexto volume sai agora mesmo e junta dois Apocalipses, o de João de Patmos, que talvez seja São João, e o de D. H. Lawrence, que não era santo coisa nenhuma, que é o que diz Helder Guégués, o autor do texto justificativo.
Também somos, pequenissimamente, se é que o revisor me vai deixar passar este ridículo advérbio de modo, editores de poesia. Não vamos invocar o Camões e o Pessoa, ou o Claude Le Petit ou o Aretino que publicámos, mas sim a colecção contemporânea, que tem escrito à porta «reserva-se o direito de admissão», porta que só ainda se abriu a Eugénia de Vasconcellos e, agora, ao romeno Dinu Flamand, abençoado por António Lobo Antunes. Sombras e Falésias, o livro dele, tem esse «segredo da eternidade», a cuja religião logo nos convertemos.
Uma coisa liga o «foi o que foi» ao «somos o que somos»: o gosto do luxo. Talvez por o editor ter nascido pobre e aldeão, há nele o gosto do brilho, das capas cartonadas, das lombadas em pano, dos títulos em prata e ouro. Fraqueza que o seu designer gráfico explora desalmadamente. Sai agora, capa dura, lombada em pano azul, título em prata, uma edição especial do Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago, com prefácio inédito de Vasco Graça Moura, como inéditas são as 10 ilustrações que o pintor Rogério Ribeiro fez para o seu amigo Saramago e que agora esplendem (sim, esplendem mesmo!) no miolo do livro.
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É juntando o «foi o que foi» ao «somos o que somos», que hoje damos um passo para amanhã. Amanhã, esse futuro que já está à porta, também é dia de Guerra e Paz. Amanhã, a Guerra e Paz vai ser um bocadinho maior. Para comemorar os 11 anos, a Guerra e Paz entra no livro juvenil. Tínhamos tocado e fugido. Agora, é de vez. Uma colecção, «Os Livros Estão Loucos»,  vai dar a ler numa hora o que antes se lia num dia: romances clássicos adaptados para leitores dos 9 aos 14 anos. Os primeiros são Robinson CrusoéRomeu e Julieta e Alice no País das Maravilhas. Reescrevemos, como se João de Barros tivesse voltado à vida, estes livros de Defoe, Shakespeare e Carroll, e demos-lhe uma volta gráfica louca. Para os pais terem vontade de os roubar aos filhos. Mais, apareceu-nos um herói, o Santiago. O Santiago tem uma irmã mais velha perfeita que lhe dá cabo do juízo. O Santiago, que não é nenhum banana, vingou-se: escreveu um Caderno de Memórias de Difícil Acesso.  E proibiu toda a gente de o ler. Só este ano, vamos publicar dois volumes. O primeiro chama-se Não Te Atrevas a Abrir. Os pais do Santiago são a Raquel Palermo e o João Lacerda Matos. Temos a certeza de que vamos ter de falar muito deles. São livros para o futuro e o futuro vai de 19 de Abril a 20 de Maio deste ano. É muito rápido o futuro na Guerra e Paz editores.
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Foi o que foi, somos o que somos e é isto que queremos sempre ser: Guerra e Paz editores, uma casa de edição generalista, que acolhe todas as obras, das mais sofisticadas e elitistas às mais simples e populares. Gostamos do toque de mão do papel, de um inusitado ou mesmo escandaloso grafismo, de uma cor que rompe a página, de pintar à mão as faces de um miolo. Gostamos que dos nossos livros saiam mundos e monstros, punhais e beijos. Gostamos de virar a página.

Manuel S. Fonseca

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