A rodagem do filme do realizador Terry Gilliam causou algumas danificações no Convento de Cristo, em Tomar, avaliadas em 2,900 mil euros. O cineasta alega que as acusações de estragos são de uma "ignorância sem sentido", mas responsável da produtora assume responsabilidade.
O ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, quando questionado por Duarte Marques, do PSD, sobre os estragos ocorridos no Convento de Cristo, em Tomar, avançou ter sido “aberto um inquérito que será concluído em 20 dias e cujos resultados serão depois disponibilizados aos deputados”.
Em causa está uma reportagem no Sexta às 9, da RTP, onde são mencionados os danos provocados, como pedras e telhas partidas e árvores cortadas, no monumento nacional, no decorrer da rodagem do filme “O Homem que matou D. Quixote”, durante três semanas em abril.
O norte-americano Terry Gilliam, famoso ex-Monty Python e realizador responsável pelo filme – um projeto com 17 anos – quando acusado pelos danos ocorridos no Convento de Tomar, afirmou, na sua página de Facebook, que as acusações se tratavam de uma “ignorância sem sentido”, salientando que em qualquer momento desrespeitou a arquitetura de “um dos mais gloriosos edifícios” que já viu.
“Tudo o que fizemos foi para proteger o edifício de qualquer dano e correu bem. Não foram cortadas árvores e as pedras não foram partidas. A fogueira foi inspirada em Las Fallas [festa típica] de Valência. (…) As pessoas deviam começar por saber dos factos antes de gritarem de forma histérica”, avançou o cineasta.
No entanto, a produtora Pandora da Cunha Telles, responsável pela Ukbar Filmes, que realizou a rodagem do filme, reconheceu e assumiu toda a responsabilidade pelos estragos ocorridos, avaliados em 2,900 mil euros, no monumento reconhecido como património da Humanidade.
A responsável refere, numa nota divulgada, que antes e depois da rodagem do filme o monumento fora avaliado, tendo sido verificados “alguns danos devidamente contabilizados, pela equipa de peritagem associada ao Convento de Cristo”, nomeadamente “em seis (convencionais e de fabrico recente) telhas partidas e quatro fragmentos pétreos de dimensões reduzidas e variáveis, de aproximadamente oito centímetros, no máximo”.
Contudo, Pandora da Cunha Telles, explica que, de acordo com um perito independente, os danos não foram causados “por algum tipo de uso indevido ou excessivo” e que até “poderiam ter sido provocados por qualquer visitante”.
Relativamente ao corte de árvores, a responsável esclarece que “ocorreu durante a limpeza no final da rodagem”, e que “deveriam ser substítuídos”, decisão cujo o Convento de Cristo justifica “com o facto de não se tratarem de espécimes autóctones”, além de que as árvores haviam sido plantadas para “a rodagem de outro filme”.
No entanto, segundo o ministro da Cultura, “não houve abate de árvores”, explicando que o que existia eram “vasos com árvores” e que a decisão de os retirar, “apoiado num parecer de um arquiteto paisagista”, é ainda mais antiga, não existindo qualquer relação com as filmagens.
Face à utilização do fogo, a produtora garantiu que em momento nenhum foi prejudicial ou comprometeu a integridade do edifício ou dos presentes nas filmagens. “Sob a supervisão do comandante do Corpo dos Bombeiros Municipais de Tomar e de elementos da Proteção Civil, os bombeiros foram convocados, fizeram-se presentes e estavam alerta para qualquer eventualidade. Mas a sua intervenção não foi necessária, uma vez que tudo se processou dentro da normalidade e com o profissionalismo que a situação exigia”, relatou.
Pandora alega ainda que, as condições estabelecidas nos termos do aluguer do Convento foram cumpridas e que desde o início, havia “consciência da responsabilidade de estar a utilizar um espaço histórico, que além de Monumento Nacional é Património Mundial, e nunca nos passaria pela cabeça desvirtuar”. Acrescenta ainda que “todos os participantes na rodagem” foram alertados “para esse facto de forma a que se movimentassem com delicadeza e respeito”.
Por fim, a responsável adverte para a importância turística de rodagens de filmes ocorridas em monumentos, referindo que uma vez terminado o filme, “teremos um grande orgulho em mostrar ao mundo inteiro um edifício com a riqueza cultural milenar do Convento de Tomar, que será projetado em ecrãs à escala planetária. E contribuirá, esperamos, para incrementar o interesse em Portugal, trazer mais turistas ao país e chamar a atenção para o cinema e a cultura que aqui se produz”.
Fonte: Jornal Económico
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