A noite estava aprazível para se sentir a alma do Fado: nem quente, nem fria… simplesmente bela para ouvirmos belas vozes Fadistas.
Carolina Pessoa e Nuno Sérgio cantavam em casa, nas Festas da pequena localidade de Arrotas, na Pocariça. Cantavam em casa porque Cantanhede, a sede do Concelho que tanto amam, está ali tão perto. Cantavam em casa porque bastava olhar para as muitas pessoas presentes, para ver que em cada canção tocavam a alma de quem aprecia este estilo musical tão genuinamente português.
O Jornal Mira Online conversou com os artistas depois de mais uma – excelente – atuação de ambos. Em conjunto colocaram o povo a cantar com eles, em conjunto falaram um pouco de cada um…
Carolina é dona de uma voz que chega a espantar, que faz um apreciador do Fado, levitar a cada instante. Tem uma presença em palco que faz-nos sentir que o Fado nasceu dentro dela… mas, não foi bem assim, no início!
“Confesso que não apreciava muito o Fado nos tempos da minha adolescência… na verdade nunca tinha cantado fado. Mas, havia uma Amália na minha avó - ela cantava sempre - que ecoava dentro de mim... e que me inspirava sempre que ouvia aquela voz sentida. A Amália trouxe-me para o fado, por aquilo que me fazia sentir"
Estas palavras foram prontamente corroboradas por Nuno Sérgio, que confidenciou que “herdou do pai o amor a esta música” e que “ se não fosse Fadista, não estaria a cantar…”. Mas, canta, sim senhor… e canta muito bem! Nuno Sérgio encaixa perfeitamente num espetáculo em conjunto com Carolina: ambos sabem onde estar, sabem improvisar, sabem – quase por instinto – o que o outro fará de seguida, e desta forma formam uma dupla que vale a pena ser ouvida!
Este é um projeto feito em conjunto que tem rendido bastantes frutos. Com um CD gravado “o segundo não há-de demorar muito” e espetáculos feitos em muitos locais de Portugal, a consequente internacionalização deste trabalho veio por inerência: países como Holanda, França, Alemanha e Áustria, por exemplo, já tiveram o prazer de ouvir as suas vozes. E, quando questionados sobre se só os portugueses assistiam aos seus espetáculos, a resposta não deixa de ser uma surpresa: “ao contrário do que poderíamos pensar, vemos muito mais cidadãos destes países a assistirem os shows”.
Mas, então, resta a dúvida da língua: se não entendem o português, como podem apreciar o Fado? A resposta é pronta: “No palco temos que passar o sentimento, a emoção que está por detrás de cada acorde… pouco importa se eles percebem o poema, pois o que eles absorvem é a tal alma que o Fado consegue transmitir!”. E, sim… as pessoas saem encantadas por terem ouvido cerca de noventa minutos de um estilo musical tão belo…
Quando questionados sobre o novo fado, aquele que chegou em vozes como as de Mariza, Cuca Roseta, Raquel Tavares, Ana Moura, Carminho ou Camané, Carolina Pessoa tem a sua própria visão sobre o assunto: “Acho que o Fado não tem uma roupagem nova. O que existe são novos artistas e novas belas vozes… porque a Amália deixou um legado tão intenso que acabou por esgotar tudo o que havia por fazer de novo no Fado. No fundo, o que todos nós fazemos, ao cantarmos ou tocarmos, é seguir as pisadas daquela que modificou o panorama musical nacional, um dia!”. Quanto a Nuno Sérgio, resumiu tudo o que pensa sobre Amália Rodrigues numa curta frase: “Ela é imortal!”…
Quanto ao futuro próximo deste projeto musical, ambos deixaram algumas poucas pistas: em Outubro estarão na Califórnia a cantarem “para lusitanos, norte-americanos e quem quiser ouvir o Fado” e depois, em Novembro, estarão em Cantanhede “a fazer um miminho à nossa terra, às pessoas que nos seguem desde há muito tempo”.
Carolina e Nuno são pessoas como todos nós… sem estrelismo! Têm talento de sobra e humildade em abundância. Cantam, encantam, fazem cantar e emocionam, por vezes, quem os escuta. Dão valor ao Fado e acrescentam, com suas atuações, valor a ele. Trazem a canção às ruas, em palcos de Festas, como foi o caso ou levam a canção aos ambientes fechados, com o mesmo a-vontade!
Carolina Pessoa e Nuno Sérgio são nomes para serem apreciados, pois mostram que há muito mais música em Portugal que aquela que tocam exaustivamente em rádios locais ou em bailaricos de Julho e Agosto, nas aldeias que vão de Trás-os-Montes até ao Algarve.
Carolina e Nuno munem-se de bons músicos como Ricardo Silva (guitarra portuguesa), Luís Carlos Santos (viola de Fado), Ricardo Gomes (flauta e cajon) e Miguel Gomes (percursão). Por vezes também levam ao palco quem tem talento e pretende dar-se a conhecer, como – nesta noite – foi o caso de Mariana Rocha, uma boa cantora da Praia de Mira.
Carolina Pessoa e Nuno Sérgio, por quase noventa minutos, levam os que os escutam, a lugares que somente cada um de nós pode conhecer: é que a alma de cada pessoa é um lugar íntimo, impenetrável para aquilo que não a alimenta. E eles – acreditem – sabem alimentá-la como só os que possuem o genuíno talento, conseguem…
Francisco Ferra
Nenhum comentário:
Postar um comentário