A modelo britânica Chloe Ayling, de 20 anos, se viu envolvida com uma quadrilha de tráfico de pessoas, com negociações realizadas pela internet, após ser sequestrada na Itália. A vítima alega ter sido ofertada, online, por US$ 300 mil antes de ser libertada devido a “princípios morais” dos criminosos, que descobriram que ela tem um filho de dois anos.
O caso aconteceu em Milão, durante uma sessão de fotos. Ayling conta ter sido atacada, pelas costas, por alguém vestindo casaco e luvas pretas, que a imobilizou, enquanto outra, vestindo uma balaclava, injetou algo em seu braço que a fez desmaiar. Ela não sabe quanto tempo ficou desacordada.
A modelo acordou no porta-malas de um carro, vestindo um bodysuit rosa, colocado pelos criminosos, e amarrada. Os gritos fizeram com que os sequestradores parassem por três vezes no caminho até Borgial, uma vila isolada nas proximidades da cidade de Turin. Ela estava em um saco, com apenas um pequeno furo permitindo que respirasse.
Ayling foi levada a uma casa, onde passou seis dias amarrada a uma estante, dormindo em um saco de dormir no chão. Enquanto isso, acontecia a negociação, com os criminosos negociando um resgate junto aos agentes da vítima. Ao mesmo tempo, eles tiravam fotos e passavam informações para o que parecia ser um esquema de tráfico de pessoas, com um valor fixado em US$ 300 mil por sua “venda”, supostamente como escrava sexual.
A soltura veio quando os criminosos, de uma quadrilha autointitulada Black Death, ou Morte Negra, descobriram que ela tem um filho de dois anos de idade. Ela foi libertada próximo à embaixada do Reino Unido, em Milão, e foi entregue junto com uma carta, na qual o grupo afirma “grande generosidade” pelo ato.
Entretanto, essa boa vontade teve seus limites. No papel, os sequestradores fazem algumas exigências – Ayling não deveria citar informações que incriminassem os sequestradores, além de garantir que uma investigação não acontecesse. Ainda, deveria pagar US$ 50 mil em Bitcoins a uma conta designada, caso contrário, seria “eliminada”.
O papel ainda trazia detalhes sobre a operação de tráfico de pessoas, afirmando que o leilão da modelo aconteceria no dia 16 de julho. Em uma mostra de ousadia, o Black Death ainda caçoa da polícia, afirmando que ela é incapaz de derrubar a operação, que oferece “frete grátis” em território europeu, mas é capaz de entregar mulheres em qualquer lugar do mundo, com variações de tempo de acordo com país e local de coleta combinados.
O caso só foi divulgado agora devido justamente ao sigilo exigido pelas investigações, de forma a proteger Ayling. Pelo menos uma pessoa já foi presa – Lukasz Pawel Herba, de 30 anos de idade, que já era procurado por sequestro e extorsão. Ele estaria ligado ao caso, mas não teria participado diretamente da captura da modelo.
Agora, o foco da polícia é no criminoso que levou a vítima ao consulado, algo que intriga as autoridades devido ao alto risco. Mesmo mascarado e trajando roupas pesadas, ele fez questão de levar Ayling até a porta da embaixada antes de fugir, correndo grande risco de ser capturado ali mesmo. Imagens de câmeras de segurança podem ajudar a identificar o responsável, assim como o depoimento da modelo, apesar de ela afirmar nunca ter visto o rosto dos envolvidos.
Chamou a atenção, ainda, o fato de Ayling ser uma figura relativamente notória, algo que vai contra o modus operandi de quadrilhas assim, que prefere mulheres anônimas. A modelo foi uma das finalistas do programa Britain’s Next Top Model, além de já ter participado de produções para o YouTube e ter mais de 150 mil seguidores no Instagram.
A modelo já está em casa, com a família, e se recuperando do trauma. Ela não falou à imprensa, com seu relato tendo sido divulgado pela polícia e publicado em jornais da Europa. Todos, agora, aguardam a prisão dos responsáveis e o fim do esquema de tráfico de pessoas, que, acreditam as autoridades, já teria vitimado dezenas de mulheres na Europa.
Fonte: The Guardian
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