Quinta-feira de manhã. Na estrada que liga São Jorge a São Joaninho, em Santa Comba Dão, ainda permanece o esqueleto carbonizado do que foi um pequeno veículo motorizado, daqueles que se podem conduzir sem carta. É só um monte de ferros retorcidos, onde se reconhecem as rodas e pouco mais. Está ali, meio caído na berma, contra um solo preto de carvão, que cobre toda a paisagem, depois da passagem do devastador incêndio de 15 de Outubro que, naquela zona, deixou cinco mortos. O condutor do veículo foi um deles e o funeral realizava-se naquela quinta-feira à tarde. O homem, de 67 anos, decidiu fugir quando as chamas lhe atingiram a casa. A mulher ficou, escondeu-se e salvou-se. Ele meteu-se pela estrada, foi apanhado pelo fogo, abandonou o pequeno carro, fugiu a pé mas o incêndio foi mais rápido. Morreu ali.
Mas ficar também não era garantia de salvação naquele domingo de ventos demoníacos e chamas galopantes, com pedaços de madeira a arder que voavam pelos ares, causando projecções “de quilómetros”, como ouvimos ao presidente da Câmara de Oliveira do Hospital, José Carlos Alexandrino, na quarta-feira, pouco antes de receber um empresário cuja fábrica ardeu completamente. “Uma senhora morreu à porta de casa, do lado de fora. O cão tentou protegê-la e tinha o corpo queimado pela metade. Impressionante. Outra senhora não quis fugir, ficou em casa, mas ela ruiu e morreu lá dentro.” Naquele dia, ainda havia dois corpos soterrados em habitações do concelho, e, na quinta-feira, a descoberta de um novo corpo em Avô faria subir para 43 as vítimas mortais em todo o país, nove das quais em Oliveira do Hospital.
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