segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Eu, Psicóloga | Síndrome de Rapunzel: o mal com nome de conto de fadas, mas sem final feliz



Você já ouviu falar sobre a Síndrome de Rapunzel? Apesar do nome inspirado em um personagem famoso, essa condição rara não tem nada de contos de fadas — e inclusive pode resultar em um final longe de ser feliz para os pacientes. Isso porque as pessoas que padecem com a síndrome ingerem os próprios cabelos durante anos até que uma volumosa bola sólida de fios emaranhados se forma no estômago, com uma mecha que se estende até os intestinos.

Essa massa de cabelos recebe o nome de tricobezoar gástrico e pode causar uma série de problemas de saúde e até a morte. De acordo Sara G. Miller, do site Live Science, uma fatalidade por Síndrome de Rapunzel foi registrada no início do mês na Inglaterra. O caso envolveu uma garota de 17 anos que foi levada às pressas ao hospital depois de desmaiar, mas os médicos não conseguiram fazer nada para reverter o quadro e ela acabou falecendo.


Sem final feliz


Segundo Sara, entre os sintomas mais comuns da síndrome estão problemas digestivos como náuseas e vômito, mas o tricobezoar também pode obstruir o trato gastrointestinal, causando dificuldades alimentares e desnutrição. Além disso, a bola de cabelos pode dar origem a úlceras — e, dependendo da gravidade da situação, a lesão pode perfurar a parede estomacal e permitir que bactérias presentes no tricobezoar se alojem na cavidade abdominal e causem infecções sérias.

No caso da jovem que faleceu na Inglaterra, complicações relacionadas com a bola de cabelos levaram a moça a desenvolver uma peritonite, isto é, uma inflamação no peritônio — que é a membrana que recobre a parede abdominal e as vísceras. Essa inflamação levou a paciente a sofrer falência generalizada dos órgãos e, posteriormente, a morte.

E como pode uma bola de cabelos causar tanto estrago? Ao contrário do que você possa imaginar, essas massas de fios não são maleáveis e macias como as bolinhas que fazemos quando limpamos as nossas escovas de cabelo, por exemplo.

Um tricobezoar se forma ao longo de vários anos e a partir do acúmulo de uma grande quantidade de fios — que vão se enroscando até formar uma massa bastante dura e consistente que adota o formato do estômago do paciente. E não tem jeito: uma vez a presença da bola de cabelos é identificada, ela precisa ser removida por meio de cirurgia antes que ocorram complicações graves.


Origem do problema


Bem, nós contamos que a Síndrome de Rapunzel acontece quando alguém engole cabelos suficientes para formar uma massa sólida no estômago que ocasiona uma porção de problemas. Mas, e o que leva uma pessoa a engolir os próprios fios? Pois os pacientes diagnosticados com a condição quase sempre sofrem de um transtorno psicológico conhecido como tricotilomania — que consiste na compulsão de arrancar os próprios cabelos ou pelos do corpo —, acompanhado da tricofagia, ou seja, a ingestão dos fios.
De acordo com Sara, os especialistas acreditam que a tricotilomania é uma condição associada com o transtorno obsessivo compulsivo. Mas, em vez de ela ser motivada por pensamentos repetitivos e intrusivos ou obsessões — como é o caso do TOC —, o ato de arrancar pelos e cabelos é puramente comportamental, o que significa que a pessoa nem sequer pensa antes de puxar os fios e é incapaz de resistir ao impulso de fazer isso.

E o transtorno pode afetar bastante a vida da pessoa diagnosticada com a condição, uma vez que ela pode se sentir frustrada por não conseguir se controlar e arrancar os próprios fios, sem falar que a compulsão pode levar o paciente a evitar o convívio social. Pelo menos nos EUA, estima-se que entre 1 e 2% da população sofra de tricotilomania e que, desses, entre 5 e 20% apresentem tricofagia.

A condição costuma se manifestar com mais frequência em crianças entre os 10 e 13 anos de idade e, apesar de os meninos também poderem desenvolver o transtorno, ele é mais comum em meninas, tanto que, em adultos, 90% dos casos são registrados em pessoas do sexo feminino. Com relação ao tratamento, além do uso de medicamentos, ele envolve ajudar o paciente a reconhecer quando puxa os cabelos e identificar o que desencadeia a ação.

Os diagnosticados também podem aprender técnicas que envolvem praticar atividades incompatíveis com o ato de puxar os cabelos toda vez que surgir o impulso, como cerrar os punhos, sentar sobre as mãos ou fazer atividades manuais, como bordado ou tricô.



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