O maior desastre aéreo da TAP e um dos maiores desastres aéreos ocorridos em solo português aconteceu há 40 anos, no dia 19 de novembro de 1977. O voo TP425 da companhia aérea portuguesa não conseguiu travar na pista a tempo de evitar uma queda fatal para 131 das 164 pessoas a bordo.
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Na noite de sábado de 19 de novembro de 1977, o voo TAP Portugal 425 despenhou-se no Funchal, na ilha da Madeira, com 156 passageiros e oito tripulantes a bordo. Morreram 131 pessoas, incluindo seis dos oito tripulantes.
O comandante do Boeing 727-200, João da Costa Lontrão, tentou por duas vezes aterrar na difícil pista do Funchal mas por duas vezes desistiu. Era uma noite chuvosa, com ventos instáveis e equacionou-se divergir o voo para o aeroporto de Las Palmas, na Gran Canaria. Não sem antes tentar uma terceira vez.
O aparelho despenhou-se no final da pista número 24 do aeroporto de Santa Catarina às 21h48. O trem de aterragem só tocou na pista 323 metros depois do ponto de toque de segurança e, devido à água que se acumulou no solo, não conseguiu travar. Derrapou para fora da pista e caiu na praia, junto ao mar, dividindo-se em dois, entre uma ponte de pedra e a água.
Primeira página do Diário Popular© Reprodução
Quatro décadas depois, restam as homenagens e a memória dos familiares e amigos das vítimas. Entre as 131 vítimas mortais do acidente, estava João Melo e a família, Lurdes, a esposa, e Mafalda, a filha do casal, ainda criança.
O Notícias ao Minuto falou com Dulce Trindade André, afilhada do casal, que residia em Cascais e com quem Dulce chegou a morar. Agora, com 50 anos, Dulce era uma criança de 10 anos na altura e refere que a memória que guarda do acidente é mais sentimental do que exata.
Algumas coisas ficaram para sempre, a
Mafalda na véspera da viagem
agarrar-se à avó para não a deixar viajar com
os pais é uma delas
“Coincidiu com os anos do meu pai, o acidente foi no dia em que o meu pai fazia anos. Lembro-me da tristeza que foi terem perdido os amigos. Lembro-me mais das emoções do que propriamente dos pormenores”, começou por contar-nos Dulce.
Os pais de Dulce e a família de João Melo, na altura um homem com pouco mais de 30 anos, mantinham uma amizade próxima, tendo Dulce, inclusive, chegado a morar com os padrinhos. No dia do acidente, no entanto, estava em França com os pais e a trágica notícia só chegou dias mais tarde via carta. De todas as memórias que guarda dos padrinhos, recorda com pesar um momento contado pela avó de Mafalda, já em Portugal.
João, Lurdes e Mafalda© Imagem cedida
“A Mafalda viajava muito e adorava viajar de avião com os pais. Na véspera dessa viagem é que estava muito renitente em ir”, relata Dulce, recordando como a avó da criança contou que, na véspera do voo, a menina não queria ir com os pais para a Madeira.
“Algumas coisas ficaram para sempre, a Mafalda na véspera da viagem agarrar-se à avó para não a deixar viajar com os pais é uma delas”, partilha.
Corpos do comandante e do copiloto nunca foram encontrados
O voo tinha origem em Bruxelas com destino ao Funchal, tendo efetuado uma escala intermédia em Lisboa, de onde partiu com 164 pessoas a bordo. A aeronave ficou quase totalmente destruída devido à explosão e consequente incêndio, excetuando a secção da cauda, que permaneceu sobre a ponte.
Fotografia do avião Boeing 727 em Palma de Maiorca, em 1976© Reprodução Datacenter
“De um total de 164 pessoas a bordo sobreviveram 33, morreram 122 e desapareceram nove, presumivelmente mortos”, pode ler-se no relatório final da Direção-geral de Aeronáutica Civil, atual Autoridade Nacional da Aviação Civil (ANAC).
O relatório final da comissão de inquérito aberta ao acidente apontou como causa provável “a impossibilidade de desacelerar a aeronave até à paragem do comprimento da pista, devido, provavelmente, aos seguintes fatores: condições meteorológicas muito desfavoráveis no momento da aterragem, existência possível de condições para hidroplanagem, velocidade de aterragem de mais de 19 nós, aterragem comprida motivada por um longo ‘flare’ e correção direcional brusca após toque na pista”.
A existência de hidroplanagem, ou seja, as rodas do avião terem deslizado por causa da água na pista, foi refutada por alguns sobreviventes e testemunhas, dizendo, até, que houve uma travagem antes da queda. A TAP, na altura, apontou também, através de relatório interno as más condições da pista, incluindo as condições de escoamento de água da pista, algo que não foi mencionado no relatório oficial.
Aeroporto da Madeira nos anos 70© Reprodução
João Lontrão, o comandante, na altura com 34 anos, e o copiloto, Miguel Guimarães Leal, estavam ao serviço há mais de 13 horas, faziam o quinto voo do dia, sendo o cansaço também apontado como uma possível causa. Os corpos do comandante e do copiloto nunca foram encontrados, assim como os de outras sete vítimas.
O período de horas máximo de voo para pilotos foi entretanto alterado de 17 horas para 13 horas. Os 1.600 metros da pista número 24 foram também ampliados por duas vezes, na sequência do acidente.
Fonte: Noticiasaominuto
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