Apesar dos apelos à observância das regras de trânsito e endurecimento das medidas punitivas aos prevaricadores por parte das autoridades policiais, condutores há que, deliberadamente, infringem o Código da Estrada [aprovado pelo Decreto-Lei nº. 1/2011] nas barbas da Polícia de Trânsito (PT) e ainda atentam contra a sua vida e colocam-se em fuga sem deixar rastos. Elisa Elias, de 30 anos de idade, membro da Polícia da República de Moçambique (PRM), foi vítima de uma situação similar e há duas semanas que luta pela saúde na cama 46 dos Serviços de Ortopedia do Hospital Central de Maputo (HCM).
A jovem, residente na Matola Gare, no posto administrativo da Machava, no município da Matola, província de Maputo, está afecta ao Comando da PRM desta parcela do país.
Segundo contou a jornalistas, no dia 02 de Abril em curso, ela encontrava-se em faina na localidade de Michafutene, à entrada do cemitério com o mesmo nome, para onde a sua brigada tinha sido escalada para controlar a velocidade.
Nesse dia, o seu chefe, que estava no controlo do radar, “indicou-me uma viatura que tinha excedido a velocidade, atravessei a estrada para mandar parar”, mas o carro em alusão circulava pela faixa central, o que dificultava o trabalho da agente porque na faixa lateral havia outras viaturas em movimento.
Todavia, o condutor visado abrandou a marcha, respeitando a ordem da policial, mas um outro automobilista que estava atrás daquele fez uma ultrapassagem pela esquerda. “Não tive como correr, ele atropelou-me e sofri a perna”. O infractor colocou-se ao fresco sem deixar rastos.
De acordo com os artigos 153 e 154 do Código da Estrada, o automobilista que não parar depois de causar acidente ou abandonar as vítimas feridas ou, na pior das hipóteses, mortas incorre em pena de prisão que varia de um a oito anos.
Elisa Elias, com a patente de segundo cabo, considerou a atitude do condutor em apreço negativa. “O facto de não ter parado chocou-me muito”.
O @Verdade perguntou à paciente como tem sido o dia-a-dia entre a PT e os automobilistas. A respondeu foi de que o que se vive na estrada “é complicado”. Para além de total desrespeito às autoridades da lei e ordem, o trabalho destas não é compreendido.
Questionada se tinha ou não dependentes, Elisa não conteve a emoção ao lembrar dos dois filhos menores de idade que ficaram sob responsabilidade do marido e começou a lacrimejar.
Para o presidente do Conselho de Direcção da Associação Moçambicana para as Vítimas de Insegurança Rodoviária (AMVIRO), Alexandre Nhampossa, o que fez com que aquela agente da PT ficasse acamada não é só de todo em todo condenável, mas também “revela uma deterioração do nosso comportamento como cidadãos, sobretudo como condutores”.
Segundo ele, o que aconteceu à cidadão não é um caso isolado de total desobediência ao Código de Estrada e dos agentes de fiscalização rodoviária.
Nhampossa referiu, por exemplo, ao membro da PT que perdeu a vida e outro ficou ferido, na manhã de 28 de Agosto de 2017 em resultado de um acidente de viação causado por um automobilista que supostamente desrespeitou as regras de condução nas barbas das vítimas que se encontravam a regular o trânsito.
Outro episódio, rotulado como má condução, ocorreu a 25 de Março passado, no bairro Luís Cabral, na cidade de Maputo, onde 26 cidadãos pereceram e mais de duas dezenas contraíram lesões graves e ligeiras.
Todos esses casos “poderiam ter sido evitadas” se houvesse um pouco de prudência por parte dos automobilistas, disse o presidente do AMVIRO, para quem a sociedade deve se levantar contra a anarquia que reina na via pública para que não seja prática rotineira (...).
Por sua vez, a Associação Moçambicana de Motoristas de (AMMO) alinhou no mesmo diapasão, afirmando que cometer um acidente de viação e, em seguida, colocar-se em fuga é agravar o crime. Um automobilista que envereda por essa prática “pode não ser localizado hoje”, mas também não estará em fuga para toda a eternidade.
António Ferro, presidente daquela agremiação, contou que o seu organismo não tem representatividade em Cabo Delgado e no Niassa e deplorou o facto de determinados empresas proibirem os seus motoristas de se inscrever na AMMO.
Estão inscritos penas 6.720 condutores, dos quais pouco mais 1.700 na capital do país e na cidade da Matola. A fonte considerou este número de membros bastante ínfimo (...).
Fonte: Jornal A Verdade, Moçambique
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