De Roterdão ao Canhão da Nazaré

Alexandra Prado Coelho

Será que a Holanda é só Amesterdão? O Luís Octávio Costa foi até lá e descobriu que "Roterdão é que é". Porquê? Porque é "vibrante, fervilhante e corajosa" com "projectos orgulhosamente locais". Mas nem só de Roterdão se faz esta reportagem que é capa da edição em papel da Fugas (chamámos-lhe o lado R da Holanda). Seguindo os passos do repórter, vamos até Delft (vai ser preciso subir 376 degraus da torre da Igreja Nova, mas, prometo-vos, custou-lhe mais a ele do que vai custar aos leitores, sentados no sofá ou numa esplanada) e caminhamos na areia de Haia. Este é um passeio fácil de fazer porque Delft, Haia e Roterdão estão separadas por escassos minutos de transporte público. E é assim, com belos canais e imaginando que estamos num quadro de Vermeer que, como diz o Luís Octávio, "uma semana sabe a pouco".

Por muito que gostemos de viagens, vamos, provavelmente, perder na comparação com este casal: Luís Baião e Daniela Ricardo, que são os Protagonistas desta semana. Ele, o fundador da marca Zen Family, com a qual já organizou inúmeras viagens pelo mundo, de Marrocos ao Butão, da Índia ao Perú. Ela, enfermeira de profissão, chega a esta história pelo lado da comida - o seu livro Cozinhar com Amor está nomeado para os Gourmand Awards. Juntos, naquele a que a Luísa Pinto, que conversou com eles, chama "o casamento duradouro das viagens e da comida", são agora muito mais do que a soma das partes. Para os conhecer, a paragem é aqui. 

O desafio, diz a Carla Ribeiro, era "simples"; "ir à zona do canhão da Nazaré como quem o trata por tu". Podem imaginar, portanto - estamos a falar de ondas para aí com uns seis metros e, nem Carla nem os restantes jornalistas que participaram nesta aventura na qual os surfista quiseram partilhar as famosas ondas da Nazaré, são propriamente o Garrett McNamara. Esta é uma experiência que pode ser vivida por todos os que a desejarem. O nosso conselho é que leiam primeiro o relato da Carla, que nos descreve tudo, desde o inevitável pensamento "onde estava eu com a cabeça quando achei que isto era uma boa ideia?" até ao reconhecimento de que esta é "uma experiência tão radical como espiritual". E, como sabemos, tudo está bem quando acaba bem. 

Quem passou por Lisboa para o simpósio Sangue na Guelra, no dia 23, foi o mediático chef brasileiro Alex Atala, que veio falar de activismo ligado à comida (o tema do encontro era exactamente cooktivism e foi aí que o Miguel Manso o fotografou). No dia seguinte, conversei com ele no hotel Ritz. Falou dos projectos do seu Instituto Atá com as tribos índias da Amazónia, de produção de carne sustentável, e de oleodiversidade. Contou as dificuldades que enfrenta quem se mete nesta aventura do activismo e explicou que todos os meses tem que olhar para as contas do Atá para ver se perdeu ou não dinheiro. Mas acha que tudo o que faz vale a pena. E, por outro lado, enquanto chef, ganha dinheiro. "Há algum mal nisso?". No título, uma frase marcante, com a qual brinca: "Para um chef ter um chapéu de missionário, ele tem que ter um de mercenário". 

Por falar em temas polémicos, na sua crónica Elogio do Vinho, o Pedro Garcias retoma uma história da qual aqui falámos na semana passada, a do Casal de Stª Maria, em Colares, onde o barão Nicholas von Bruemmer está a dar continuidade ao projecto de vinho criado pelo avô, Bodo, quando tinha 95 anos. E qual é a crítica do Pedro? O facto de Nicholas apostar em castas estrangeiras. "Não é com imitações" que faremos vinhos capazes de se afirmar no mundo, escreve o cronista da Fugas. 

Há, claro, outras histórias para ler na Fugas, sugestões de restaurantes, de viagens com crianças em "casas com rodas", de um "hotel com café no coração" e de um cocktail vindo de longe e aqui explicado pelo Miguel Esteves Cardoso. Está tudo aqui. Boas leituras e boas viagens! Eu despeço-me porque, na próxima semana, a Sandra Costa já estará de volta. 

Fonte: Suplemento do Público