quinta-feira, 7 de junho de 2018

Economia de Moçambique estabilizou mas o PIB deverá cair para 3 por cento em 2018 e 2,5 em 2019




Gráfico do Fundo Monetário Internacional
O Fundo Monetário Internacional (FMI) assinalou esta segunda-feira (04) que a economia de Moçambique estabilizou no entanto o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deverá ficar-se por apenas 3 por cento em 2018, contra 5,3 projectados pelo Governo, e cair para 2,5 por cento em 2019. Ari Aisen deixou nas entrelinhas que para a retoma do crescimento económico o nosso país precisa de resolver os assuntos inerentes aos empréstimos ilegais da Proindicus, EMATUM e MAM.

Apresentando o Relatório sobre as perspectivas do económicas do FMI para a África Subsahariana o representante em Moçambique indicou como principal desenvolvimento positivo da economia nacional a desaceleração abrupta e persistente da inflação. “(...) Houve uma desaceleração abrupta e persistente da inflação, notamos que a inflação de alimentos teria chegado em fins de 2016 ao redor de 40 por cento e a inflação total, aqui em Maputo, em redor de 25 a 26 por cento, de lá para cá essa inflação realmente se reduziu a níveis inferiores a 5 por cento”.

Ari Aisen assinalou que “a Conta Corrente melhorou em 2017, passou dos 4 biliões de dólares (norte-americanos) para algo inferior a 3 biliões de dólares” e destacou o aumento das Reservas Líquidas Internacionais: “cresceram a níveis de 3 milhões de dólares e se mantiveram, já não estão a crescer mais. Mas é um colchão importante já que há uma cobertura de pelo menos 7,4 meses de importação, se excluirmos os grandes projectos (5,8 meses se os incluir)”.

O representante do FMI notou ainda que: “A política monetária começa a tornar-se menos restritiva, ainda com alguma prudência mas se nota que a MIMO começou a declinar, de acima de 20 por cento já se encontra actualmente em 16,5 por cento, próxima reunião de política monetária no fim do mês pode trazer mais novidades”.

“Apesar desses aspectos positivos como acelerar o ritmo de crescimento continua a ser um desafio aqui em função dos choques que a economia experimentou em 2016 (termos de troca, clima, tensão política e a confiança). O PIB que cresceu a 6,6 por cento em 2015 no ano de 2016 foi de 3,8, agora o INE divulgou os resultados de 2017 de 3,7 e a nossa projecção para este ano é de 3 por cento”, declarou Aisen constatando um crescimento abaixo do que se acredita que é o potencial que a economia moçambicana.

“Crédito bancário ao Governo aumentou significativamente de 2017 para cá enquanto crédito ao sector privado diminuiu”

Para corroborar estas expectativas conservadoras, diga-se sempre o são, o economista do departamento africano do Fundo Monetário referiu que “o crescimento do PIB real no primeiro trimestre foi de 3,2 por cento, ainda está relativamente modesto comparando com ano passado 4,5 por cento”.

“A industria mineira que crescia a taxas muito elevadas, cresceu a 9 por cento” indicou Ari Aisen referindo-se a baixa contribuição do sector primário, analisando o sector secundário destacou a contração de 1,8 por cento no crescimento na Electricidade, Gás e ainda assinalou o crescimento bastante moderado da Industria Transformadora e da Construção no que diz respeito ao sector terciário.

Ainda sobre a desaceleração económica o representante do FMI em Moçambique chamou atenção para a estagnação do crédito ao sector privado: “o crédito bancário ao Governo aumentou significativamente de 2017 para cá enquanto crédito ao sector privado diminuiu, isso é o resultado do que nós chamamos crowding out. Um jargão que simplificadamente que quer dizer que se o Governo precisa de financiar-se muito e emite muitos títulos de Dívida Pública as taxas de juro de financiamento aumentam e o sector privado precisa então financiar-se com a taxa mais elevada o que faz com que aceda a menos financiamento do que se não houvesse aumento da taxas de juro”.

“Ao não fazer certos pagamentos do serviço da Dívida Externa obviamente que isso aumenta as Reservas do banco central e na economia”

Para voltar a crescer, na perspectiva do Fundo Monetário Internacional, Moçambique precisa de resolver a questão das dívidas ilegais da Proindicus, EMATUM e MAM não só em termos de esclarecimento mas também com os credores. “A médio prazo trazer a Dívida Pública para uma trajectória mais sustentável, notamos que o stock da Dívida Pública de Moçambique com percentagem do PIB é ainda muito superior aos países da SADC e da África Subsaariana num todo e por isso dizemos que está numa situação de sobre endividamento, houve uma pequena redução em função da apreciação da taxa de câmbio, mas ainda estamos ao redor de 112 por cento”.

Ari Aisen alertou que embora o Banco de Moçambique esteja a acumular significativas Reservas Internacionais Líquidas, que desde Dezembro passado cifram-se em aproximadamente 3 milhões de dólares norte-americanos, “devemos ter alguma cautela porque parte do aumento é fruto do não pagamento de alguns serviços da dívida moçambicana” declarou, em alusão aos calotes que o Governo de Filipe Nyusi está a dar aos credores da dívida comercial contraída violando a Constituição da República e leis orçamentais que também levaram a suspensão da cooperação com os Parceiros internacionais e impedem o país de aceder aos mercados financeiros do exterior.

“Ao não fazer certos pagamentos do serviço da Dívida Externa obviamente que isso aumenta as Reservas do banco central e na economia. O facto é que numa situação em que Moçambique esteja novamente inserido nos mercados internacionais de capitais, sem atrasar os problemas do endividamento externo aí vamos ter outra situação de Reservas que não temos agora. Difícil agora prever quando isso vai ser e quanto o serviço (da Dívida Externa) vai ser efectuado porque depende da resolução inclusive do Governo de Moçambique e os credores internacionais”, esclareceu o economista do FMI.

Fonte: Jornal A Verdade, Moçambique

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