J. Carlos * |
Somente com uma vida equilibrada é que esta geração encontrará meios de lutar contra um dos maiores defeitos da época - o nervosismo.
Os defeitos, por revelarem má adaptação ao mundo exterior, podem ser removidos.
O homem criou, com o desenvolvimento acelerado da ciência e da técnica, dificuldades à própria existência.
Está preso aos encargos materiais dos quais conseguirá libertar-se à medida que compreender as necessidades do espírito.
De nada valerão férias e horas de descanso numa vida agitada, cujo ritmo é a velocidade.
A sociedade moderna devora de tal modo que deixa a criatura privada da vida interior. As horas de folga são horas de afastamento do lar. Fazem desaparecer os indispensáveis momentos de intimidade familiar. O trabalho fascina.
Não é de esperar uma juventude estudiosa e comportada num clima de tensão nervosa, em que se encontram família e sociedade.
Em compensação, há muitas pessoas esclarecidas cientes da necessidade de preparar a nova geração. Como?
Já se ensina a relaxar os músculos com grande proveito para repousar, e, nos domínios da alma, a acomodar-se a natureza humana às condições da vida. Mas tudo isso requer muito tempo, persistência e vontade.
Outrora, as relações entre pais e filhos eram mais fáceis: mundo mais sereno e estável, maior segurança individual. Qualquer processo educativo era válido.
Hoje, porém, sabe-se o abismo que se abre entre uma palmada calma e uma palmada nervosa: se aquela representa sanção justa, esta expressa revoltante injustiça.
São poucos os pais que educam serenamente, atendendo à voz do amor; mas são inúmeras os que, ao estado nervoso em que se encontram , reúnem os defeitos que trazem da infância.
Urge que o ser humano aprenda a preservar-se das consequências da agitação e do barulho desta civilização mecanizada.
Controle de nervosismo é condição indispensável ao exercício da função educativa. Exige certamente grande esforço porque a falta de jeito para educar é reflexo de quem encontrou no curso da evolução dificuldades acima das próprias forças e, depois, com o cônjuge.
Educar nos tempos que correm é tarefa tão importante quanto difícil. Exige serenidade e reflexão raramente conquistadas pelos pais no estado de nervos em que frequentemente se encontram.
Embora o nervosismo da época decorra desta civilização, há meios de atenuá-lo sem dispêndio cansativo de esforço.
Importa que se reserve do tempo destinado ao trabalho e às distracções, o que se deve às crianças. A presença dos pais é condição essencial para que se processe o desenvolvimento harmonioso dos filhos.
No exagero é que está o prejuízo: nem menosprezar a prole em proveito de futilidades, nem deixar de permitir-se o mínimo de descanso tão útil a todos; nem dominar-se pelas emoções de raiva ou amargura, nem controlar-se a tal ponto de perder espontaneidade e prestígio.
Artificialmente calmos são os pais que, guardando dentro de si um vulcão em actividade, vivem angustiados e mudos, gastando energia inútil e excessivamente. Esquecem-se de que os filhos são antenas de intuição e contagiados da amargura paterna, reagem de um modo incompreensível para os adultos não esclarecidos. Ficam instáveis, mal humorados, indóceis, ansiosos pela explosão.
Educação é trabalho espiritual. Para realizá-lo com eficiência é preciso reflectir sobre o modo de executá-lo; sabendo interromper-se quando houver cansaço a fim de conseguir novas forças e munir-se de bom humor.
Pais impulsivos e coléricos são prejudiciais, a si e aos que os cercam. Formam, inconscientemente, um ambiente de insegurança porque são temidos pelos filhos e pelo cônjuge. Paira sempre uma tensão nervosa, reveladora de tempestade capaz de esmagar as crianças, tornando-as gagas ou tímidas por não poderem exprimir todo o drama que lhes vai na alma. Podem também, optar por um sentimento de revolta - o que enfraquece os laços de amor indispensáveis à compreensão entre dois seres racionais.
*Director
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