Os serviços de saúde cobrem apenas 500 das 2.500 mulheres e raparigas anualmente afectadas pela fístula obstétrica em Moçambique, disse, esta segunda-feira (12), em Maputo, a ministra da Saúde, Nazira Abdula, e explicou que as restantes pacientes continuam sem acesso aos cuidados de saúde devido à exiguidade de recursos.
A fístula obstétrica é uma ruptura no canal vaginal que causa incontinência, ou seja, causa a libertação constante, sem controlo, da urina e noutros casos, de fezes. As suas principais causas são partos prolongados e obstruídos, sobretudo onde o acesso a cuidados obstétricos é restrito. Os partos fora dos hospitais e sem o acompanhamento do pessoal médico treinado para o efeito concorrem igualmente para o problema.
Nazira Abdula disse que a enfermidade leva à grande exclusão social de milhares de mulheres e raparigas. É “previsível e tratável” e constitui um “problema de saúde pública que afecta raparigas e mulheres vulneráveis e em idade fértil.” Por isso, “urge investir cada vez mais no acesso e disponibilidade de recursos.”
A Médicos Sem Fronteira (MSF) os fluidos resultantes da incontinência de urina e/ou fezes “causa um odor desagradável e podem causar ulcerações ou queimaduras nas pernas da mulher. Geralmente, as mulheres reduzem drasticamente a ingestão de líquidos, na tentativa de reduzir o fluxo de urina, o que pode resultar em doença renal ou pedras nos rins”, diz o organismo no seu sítio de Internet e acrescenta: na maioria dos casos, as mulheres com fístulas obstétricas desenvolvem transtornos psicológicos.
“Devido aos sintomas físicos, elas são constantemente excluídas pela comunidade e abandonadas por seus maridos.”
O coordenador do Programa Nacional de Fistulas Obstétricas em Moçambique, Armando Melo, as províncias onde há mais vítimas desta enfermidade são Nampula, Zambézia, Niassa, Manica, Tete e Inhambane.
Neste contexto, a ministra da Saúde disse que a fístula obstétrica é agravada pelas “elevadas taxas de gravidez na adolescência, práticas tradicionais prejudiciais e falta de acesso pelas raparigas e mulheres a serviços de saúde sexual e reprodutiva de rotina e a cuidados obstétricos de emergência.”
Falando na segunda reunião nacional de fístula obstétrica, Nazira Abdula admitiu que a situação é mais dramática nas zonas rurais, onde as distâncias para se ter acesso às unidades sanitárias com cuidados de emergência são longas.
Contudo, as unidades sanitárias que prestam cuidados obstétricos de emergência básicos no país aumentaram de 119, em 2014, para 550, os dias que correm, por exemplo.
Para Andrea Wojnar, representante do Fundo das Nações Unidas para População (UNFPA) em Moçambique, a fístula obstétrica é um exemplo de violência contra as mulheres e raparigas (...).
Em África, Moçambique tem a segunda maior taxa de prevalência e dos 2.500 casos registados anualmente, cerca da metade acomete jovens com idades compreendidas entre 15 e 24 anos.
Por isso, o compromisso segundo o qual “ninguém deve ficar para trás” na prevenção e tratamento da fístula obstétrica só pode ser materializado se, entre várias actividades, for assegurado o acesso universal aos serviços de saúde sexual e reprodutivos a todos os jovens, bem como o acesso ao planeamento familiar.
Mais do que isso, é imperioso combater as desigualdades sociais, económicas e as normas culturais e discriminatórias de género que resultam em atitudes e práticas negativas contra as mulheres e raparigas, segundo a fonte.
Por sua vez, o vice-ministro do Género, Criança e Acção Social, Lucas Mangrasse, disse que é preciso envolver activamente os homens no combate à fístula obstétrica e consciencializá-los sobre a necessidade de não marginalizar as doentes.
Fonte: Jornal A Verdade, Moçambique
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