O Governador do banco central confirmou em Audição Parlamentar o mau negócio realizado pela Sociedade Interbancária de Moçambique (SIMO) e as empresas InterBancos e BizFirst e que culminou com o apagão da maior rede de cartões bancários em Moçambique: “a SIMO nesta transacção não tem nada”. Rogério Zandamela revelou a sabotagem do plano de contingência que estava a ser preparado: “é bem possível que a BizFirst tenha se apercebido, ou por vazamento de informação, desses movimentos de independência visando a protecção do sistema” e “usou a opção nuclear, vocês não entregam o que eu quero e é a morte a todos”.
O drama que os moçambicanos estão a viver desde sexta-feira passada levou os deputados da Assembleia da República a convocarem o Governador do Banco de Moçambique para explicar como se chegou ao apagão e que soluções estão em vista para que a maior rede de cartões bancários volte a estar operacional.
Zandamela que herdou o problema que surgido em 2011 com a criação da Sociedade Interbancária de Moçambique e se agudizou nos últimos meses com a conclusão da aquisição da empresa InterBancos que geria a rede Ponto 24 iniciou a sua Audição explicando que a SIMO surgiu com a visão de aprofundar a inclusão financeira e de fornecer serviços bancários de qualidade até as zonas mais remotas do país.
Depois da rede criada pela SIMO ter-se revelado ineficaz a instituição controlada pelo banco central decidiu adquirir uma das duas redes que na altura operavam os cartões bancários em Moçambique: “um controlado pelo banco maioritário na época, o Bim que tinha a Multirede, e outro liderado pelo BCI associado à InterBancos”.
Rogério Zandamela ressalvou que “muito do que estou a explicar recebi, porque cheguei a pouco mais de 2 anos e encontrei a casa, são coisas que eu herdei. Na época, o que me explicaram, a SIMO preferiu a InterBancos entre as duas redes”.
“A plataforma informática da InterBancos que geria o seu sistema de POS, ATM e cartões tinha um provedor de software, esse provedor é a BizFirst”.
Accionistas da InterBancos não passaram os direitos que estavam associados a compra à SIMO
De acordo com o Governador de BM depois de fechada a transação e terem sido pagos os valores acordados que não revelou (o BCI avaliou nas suas contas os 57 por cento que detinha em cerca 1 milhão de dólares norte-americanos) a SIMO julgava que “seria a proprietária dos passivos e activos, e dos direitos da plataforma informática que geria o sistema dos bancos. Mas não foi isso que aconteceu e onde é que nós estamos, há meses atrás quando essa compra finalmente se paga a última prestação do contrato que foi feito, a BizFirst continua a reclamar a exclusividade da plataforma do software que tinha através de um contrato com a InterBancos que já tinha sido comprada pela SIMO”.
“Mas como se isso não bastasse os accionistas da sociedade InterBancos (BCI, Standard bank e outros) que venderam a plataforma à SIMO não passaram os direitos que estavam associados com a compra da InterBancos pela SIMO. Os valores foram pagos na totalidade com a expectativa que finalmente ter-se o controle e o que se passa neste momento é que a SIMO nesta transacção não tem nada” revelou Zandamela.
Plano de contingências sabotado “por vazamento de informação”
Rogério Zandamela explicou aos deputados da Comissão do Plano e Orçamento que as exigências da empresa portuguesa de software passaram a chantagem através de “ataques cibernéticos que se manifesta a tempos atrás em forma de quedas e interrupções imperceptíveis para os clientes, atacando os sistemas internos mas não afectando o utilizador final”.
O Governador declarou que após investigações “descobre-se que não é uma coisa de ataques organizados por qualquer um, hackeres querendo tirar proveito mas a BizFirst estava atrás disso como parte de se fazer reconhecer no diferendo dos seus direitos. Houve uma série de conversas entre as partes mas de repente, desde o dia 16 os sistemas param. Há uma interrupção total, completa e universal dos nossos sistemas. A BizFirst usou a opção nuclear, vocês não entregam o que eu quero e é a morte a todos”.
Zandamela revelou aos deputados que desde que o Banco de Moçambique apercebeu-se dos “ataques cibernéticos da BizFirst, dos jogos de forças entre as partes para tentar tirar vantagem o que fizemos instruímos a colegas do Banco de Moçambique a rapidamente começar a pensar num plano de contingências. Plano de contingências no sentido de estarmos preparados com as plataformas informáticas necessárias que em caso do apagão, em caso extremo, que acontecesse o que ninguém espera que aconteça estivéssemos preparados para rapidamente introduzirmos os novos sistemas e reactivar o sistema”.
“Colegas do banco rapidamente, discretamente e quase secretamente, comissionamos os melhores que foram pelo mundo, preparamos termos de referência, no continente, na Europa, nos Estados Unidos, a identificar quem nos podia ajudar nesse sentido de coisa que estava para além das nossas capacidades tecnológicas e é bem possível que a BizFirst tenha se apercebido, ou por vazamento de informação, desses movimentos de independência visando a protecção do sistema”, aclarou o Governador do banco central.
“Não posso indicar datas, só os técnicos que trabalham nessa matéria poderão responder”
Todavia Rogério Zandamela disse que “acabamos por identificar um provedor, com reputação internacional, bem capitalizado em soluções tecnológicas, trabalha com vários sistemas de pagamentos na Europa, na África e na América e é exactamente quando a solução nuclear é adoptada foi exactamente o momento em que tínhamos identificado e já entrado em estudar o detalhe do contrato de como isso poderia ser executado. O que nós então fizemos foi pedir a esse provedor para rapidamente acelerar a sua vinda a Moçambique para reativar os sistemas. Na verdade isso era parte de uma solução permanente e de repente tivemos que pedir temos já um problema, talvez ao final do ano já temos alguma coisa preparada”.
Diante da solução urgente que os deputados e o povo moçambicano demanda Zandamela não escondeu a verdade: “Não posso indicar datas, só os técnicos que trabalham nessa matéria poderão responder, uma vez que estarão aqui avaliando e vendo quando tempo é necessário para reactivar o nosso sistema”.
Rogério Zandamela afirmou que os referidos técnicos “já estão a caminho, ainda esta semana vão chegar e trabalhar connosco até encontrar a reactivação dos sistemas que é nosso desejo”.
Jornal A Verdade, Moçambique
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