domingo, 15 de setembro de 2019

Morreu Roberto Leal, o cantor “brasuca lusitano, portuga tropical”

Roberto Leal, nome artístico de António Joaquim Fernandes, tinha 67 anos. O cantor luso-brasileiro, que ficou conhecido por temas como "Arrebita", "Bater o Pé" e "Carimbó Português", morreu este domingo no Brasil.
A notícia foi avançada por José Cesário, antigo secretário de Estado das Comunidades e da Administração Local, no Facebook. Na publicação, José Cesário refere que o artista morreu esta madrugada e sublinhou que o país "ficou mais pobre" com o seu desaparecimento.
Em declarações à Lusa, o atual secretário de Estado das Comunidades Portuguesas recordou uma conversa que teve recentemente com o cantor, que lhe contou o seu percurso de vida. Para José Luís Carneiro, a história de vida de Roberto Leal revela um homem determinado que viveu o preconceito quando chegou ao Brasil, tendo conseguido impor-se.
“Conseguiu afirmar-se pelo seu mérito e trabalho e ganhar respeito da comunidade brasileira e o respeito e admiração de muitos portugueses de diferentes gerações que estão atentos à sua criação cultural e artística”, disse.
José Luís Carneiro considera que Roberto Leal é um símbolo de uma geração de portugueses que saíram do país na década de 50 e 60, viveram muitas dificuldades e conseguiram vencer o preconceito tornando-se um exemplo em vários planos. O secretário de Estado disse ainda ter apresentado as condolências do governo português à família do cantor, que considera ser “um símbolo para os que passaram as mesmas dificuldades e conseguiram vencer todos os obstáculos”.
O artista português, conhecido pelos êxitos "Arrebita" e "Uma Casa Portuguesa", lutava contra um cancro da pele há cerca de dois anos e que havia perdido parte da visão devido a "duas cataratas". A doença foi confirmada pelo próprio em janeiro de deste ano numa entrevista a um canal brasileiro.
Segundo o site brasileiro AreaVip, o cantor deu entrada no hospital esta quarta-feira, 11 de setembro, após ter sofrido uma queda.
Roberto Leal era considerado um dos embaixadores da música e da cultura portuguesa no Brasil, onde vivia atualmente.
"Queria neste momento saudar com um grande abraço de amizade, acompanhando um período um pouco mais difícil na vida. Sobretudo saudar o papel ao longo de tantos anos na projeção da língua portuguesa, na projeção daquilo que é a música portuguesa e na ligação às comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo, em particular à ligação às comunidades brasileiras", disse Marcelo.

"Brasuca lusitano, portuga tropical"

No Brasil sou português
E em Portugal sou brasileiro
Lá eu toco guitarra
E aqui em toco pandeiro
(...)
Brasuca lusitano
Portuga tropical

Estes são versos do tema "Português-brasileiro", canção bandeira de Roberto Leal.
O cantor nasceu em Vale da Porca, concelho de Macedo de Cavaleiros, a 27 de novembro de 1951. Aos onze anos emigrou para o Brasil, juntamente com os pais e nove irmãos. Foi em São Paulo, após trabalhar como sapateiro e vendedor de doces, que iniciou a carreira de cantor, primeiro de de fados e depois de músicas românticas.
Foi em 1971 e com o tema "Arrebita", conhecido pelo seu refrão "Ai cachopa, se tu queres ser bonita, arrebita, arrebita, arrebita", que ganhou popularidade.
Quase todo o seu repertório, que vai buscar influência aos ritmos lusitanos e brasileiros, é composto de canções de sua autoria em parceria com a esposa Márcia Lúcia.
A sua discografia conta com quase meia centena de títulos, o último "Arrebenta a Festa", foi editado em 2016.
Fora dos palcos, em 1978, participou no filme brasileiro "Milagre - O Poder da Fé" e, em 2011, na série portuguesa "Último a Sair". Em 2018 candidatou-se a deputado estadual em São Paulo pelo Partido Trabalhista Brasileiro, não tido sido eleito.
Em 2011 publicou a sua autobiografia "Minhas Montanhas", obra lançada no Brasil e em Portugal.
Rita Sousa Vieira / Madremedia

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