- Jeanne Smits – Correspondente em Paris*
30 de agosto de 2019 (LifeSiteNews) – Os incêndios na floresta amazônica no Brasil não poderiam ter sido mais soberbamente cronometrados. Eles queimaram oportunamente na época da cúpula do G7 dos países desenvolvidos em Biarritz, na França, com suas soluções internacionalistas e anti-soberanas. A batalha publicitaria da mídia em torno das cenas de desolação também ocorre menos de dois meses do Sínodo da Amazônia, convocado pelo Papa Francisco para o próximo mês de outubro em Roma, e agora sabemos que o fascínio pelo modo de vida indígena – tribalismo, socialismo e ritos religiosos “tradicionais” – será ali expresso, enquanto se farão pedidos para a sua proteção internacional.
Este é um caso de controle da mente?
Os usuários da mídia não devem ter perdido os superlativos assustadores publicados nos noticiários ou nas contas de celebridades do Twitter e do Instagram. Até — deveríamos dizer especialmente — o presidente francês, Emmanuel Macron, um possível Super-homem defensor do planeta, fez várias previsões catastróficas. O “pulmão do mundo está queimando”, proclamou, acrescentando que as florestas tropicais da Amazônia representam “20%” do oxigênio da Terra.
A se dar crédito a essa retórica de que com os incêndios na Amazônia a Terra está sendo coletivamente sufocada e a desolação de um campo de ruínas nos espera, os mais ansiosos já devem estar sentindo falta de ar…
O grande culpado é o nosso direitista Jair Bolsonaro, o novo presidente brasileiro, a quem a comunidade internacional não hesita em culpar por uma situação geradora de supostas consequências globais. Não é ele — líder cristão de direita — o vilão que não cumpriu as regras ambientais e promoveu o desmatamento que está queimando a floresta nativa em benefício dos grandes negócios? Não é ele que incentivou os agricultores sem escrúpulos a destruir a preciosa fauna e vegetação tropical, a fim de plantar palmeiras e soja para exportação, à medida que o Brasil se transforma lentamente em um dos principais produtores agrícolas mundiais?
Estamos claramente diante de uma exploração dialética dos fatos: uma versão totalmente nova da luta de classes, em que grandes proprietários ansiosos por lucro atacam os oprimidos — sendo a oprimida do dia precisamente a floresta amazônica, promovida agora ao posto da mãe terra nutridora.
Ela é referida como “nossa casa”, a fim de envolver melhor cada um e todos. Com esta manipulação, o objetivo é “extinguir” aqueles que são desdenhosamente chamados de populistas de direita: Bolsonaro, já declarado tal, mas também o cético climático Donald Trump e alguns outros.
A mangueira de incêndio ideológica é super-seletiva. Só podemos nos perguntar por que não existe um grande movimento para denunciar os líderes políticos da África Subsaariana, onde incêndios sazonais estão agora causando tanto, se não mais, danos do que no Brasil.
Como observou recentemente a estação institucional de rádio e televisão belga RTBF, Angola, Zâmbia, Tanzânia e Congo são fortemente afetados, mas nem a imprensa africana local noticiou o fato.
“Simplesmente porque é um fenômeno comum e regular”, mesmo que seja sempre “preocupante”, comentou a RTBF, explicando que é o fenômeno da agricultura de corte e queima praticada pelos agricultores locais, que fertilizam seus solos com a queima voluntaria da madeira cortada, responsável por muitos incêndios na África subsaariana.
De acordo com a mesma fonte, de 24 de agosto, a Agência Espacial Europeia (ESA) “estima que a África Subsaariana representecerca de 70% da área queimada do mundo, segundo dados globais de satélite […]”.
E quem pensa em culpar Vladimir Putin, que recebeu cordialmente as boas-vindas de Emmanuel Macron antes e durante a reunião do G7 [foto ao lado], quando a tundra siberiana também foi atingida por grandes incêndios no início de agosto?
Um olhar um pouco mais a oeste do Brasil, em direção à Bolívia — que inclui uma grande parte da floresta amazônica — é suficiente para entender melhor como trabalha o mecanismo de desinformação.
Lá o volume de incêndios é significativamente maior do que no ano passado, tendo 800.000 hectares da “Floresta Modelo” de Chiquitano sido consumidos pelas chamas entre os dias 18 e 23 de agosto. Mas a mídia internacional não culpa o presidente de esquerda indígena, socialista e ambientalista Evo Morales. Ele é um bom homem, o que quer que ele faça.
No entanto, foi Evo Morales [foto ao lado] quem incentivou os agricultores locais — geralmente indígenas de seu círculo eleitoral — a queimar madeira na floresta tropical com vistas a produzir carvão para revenda ou conservar terras aráveis.
Evo Morales tentando abafar incêndios em seu país… |
No entanto, foi Evo Morales [foto ao lado] quem incentivou os agricultores locais — geralmente indígenas de seu círculo eleitoral — a queimar madeira na floresta tropical com vistas a produzir carvão para revenda ou conservar terras aráveis.
Ele também recusou assistência internacional para combater os incêndios florestais. A situação, ao que parece, era geralmente muito mais grave do que no Brasil. Mas, enquanto o presidente francês invocava os incêndios no Brasil para pôr um fim às negociações do MERCOSUL, não foram feitas ameaças às relações comerciais com a Bolívia.
Onde estava o golpe desferido pela mídia política internacional contra Evo Morales? Ou o apelo para interromper toda a ajuda internacional (uma ideia do senador democrata dos EUA Brian Schatz pelo Brasil) até que uma mudança de política tome lugar?
Dizem-nos que os incêndios deste ano são excepcionais. Nem tanto: os tweets apocalípticos de Macron incluíram uma foto que remonta a quase vinte anos atrás, assinada por Loren McIntyre, que morreu em 2003 [foto abaixo]. Outros clichês “compartilhados” por celebridades vêm do Peru, onde a frente de incêndio está calma no momento. Madonna, de acordo com a Agência France-Presse, publicou uma imagem de uma floresta em chamas que remonta a… 1989.
Macron, em seu Tweet, esbravejando contra as queimadas no Brasil, com uma foto de 1989… |
A mesma AFP desmascarou várias outras fotos que foram compartilhadas milhares de vezes para chamar a atenção para os incêndios na Amazônia: outras vezes, outras catástrofes, outros lugares estavam sendo usados para alimentar o grande susto.
A verdade é que os incêndios são em parte um fenômeno natural (na estação seca eles são causados por tempestades elétricas), em parte são deliberados (a fim de recuperar a terra para plantio ou fertilização), e em parte criminosos.
A mídia não foi rápida em relatar, por exemplo, que o episódio de incêndio na Amazônia foi abaixo da média em comparação com os últimos 20 anos. Houve picos nos estados do Amazonas e Rondônia, mas bastante abaixo da atividade no Mato Grosso e no Pará.
Estes são os dados publicados pela NASA, com base em imagens de satélite que todos podem consultar online.
Também não é relatado que o desmatamento permanece em um nível médio baixo, em comparação com dados de 1990 a 2008, e que tende a declinar à medida que aumenta a renda per capita — um fenômeno que tem sido amplamente observado no Brasil desde 2004.
A grande mídia também não fala sobre a ambiguidade das palavras “incêndios na Amazônia”. A floresta amazônica é compartilhada por nove países. Certamente, o Brasil contabiliza a maior parte — 60,8% —, mas muitos dos incêndios atuais estavam queimando na Guiana Francesa, na Bolívia e em outros lugares. Então, por que Bolsonaro seria o único culpado?
Além disso, a região “legal” do Amazonas no Brasil é muito maior que a floresta amazônica. Na verdade, muitos dos incêndios estão queimando em regiões agrícolas ou no cerrado seco, que nada têm a ver com a biosfera tropical, observou em artigo recente Xico Graziano, engenheiro agrônomo brasileiro. São regiões onde a agricultura está naturalmente presente. Estima-se que aproximadamente 95% da floresta tropical propriamente falando — escreveu —, não estão afetados pelo desmatamento.
Isso não significa que não tenha havido incêndios criminosos no Brasil, mas seus instigadores correm o risco de sanções pesadas, e nem todos são “maus capitalistas”. Embora ocorra o desmatamento ilegal devido a grandes industriais, também são responsáveis pelo corte legal ou ilegal de árvores proprietários de terras locais que se beneficiaram de recursos da reforma agrária, proprietários privados e tribos indígenas. Menos de 12% do desmatamento atinge áreas protegidas, observou Graziano.
Isso é tanto mais notável quanto as leis brasileiras de preservação estão entre as mais severas do planeta: dependendo das regiões, em qualquer lugar onde possuam suas terras, os proprietários não podem explorar mais do que entre 20 e 80% de suas propriedades. Essa “reserva legal” de 80% está precisamente na Amazônia, observa Denis Lerrer Rosenfield, mostrando que essa restrição aos direitos de propriedade pessoal seria inédita em qualquer outro lugar da Terra.
Quanto ao mito dos “20%” de oxigênio produzido pela floresta amazônica, explodiu no ar. Os oceanos são os maiores absorvedores de CO2 e produtores de oxigênio e, como tais, podem ser os “pulmões do planeta”. As florestas jovens e em crescimento — ao contrário da antiga floresta amazônica, que por definição não é conservada como o são, por exemplo, as florestas e os bosques europeus — também são excelentes produtores. O desmatamento produz dióxido de carbono, assim como a matéria em decomposição, como árvores velhas e moribundas, ao mesmo tempo em que a fotossíntese libera oxigênio; portanto, mesmo lá, o saldo pode ser negativo.
Foi o Huffington Post que publicou uma entrevista com o acadêmico francês Alain Pave, especializado em tudo o que é amazônico. Dizer que a floresta amazônica produz “20%”do oxigênio da Terra é “muito, muito otimista”, disse ele à mídia. Isso representaria “no máximo” alguns percentuais, mas mesmo isso é difícil de afirmar, dadas as muitas variáveis que ignoramos.
“Apesar de um grande esforço por um longo período de tempo, os dados para a Amazônia ainda são fragmentários e imprecisos. A floresta não é apenas uma coleção de árvores, mas um ecossistema com outras plantas, animais, microrganismos, irrigados por um sistema hidrológico, com múltiplas interações. Cuidado com mensagens simplistas e descrições detalhadas que são mais poéticas do que científicas”, disse ele.
Mas qualquer coisa é suficientemente boa o para manter o grande susto climático.
O coronel Gregory Allione, presidente da Federação Nacional de Bombeiros da França, gravou na rádio France Info, dizendo: “Não vimos isso em toda a história dos seres humanos neste planeta.” Ele exigiu “coordenação, antecipação e abordagem global por parte de todos os países para reagir à situação no Brasil”. Tudo isso é um passo necessário para colocar o território soberano brasileiro sob controle internacional, mesmo da ONU?
Emmanuel Macron usou a mesma lógica quando afirmou que nós devemos “encontrar uma forma de boa governança”. Ou que “precisamos envolver ONGs, povos indígenas muito mais do que nós. E o processo de desmatamento industrializado deve ser interrompido”, acrescentou ele no site Élysée.
Esse “envolvimento dos povos indígenas” é toda a raiva. É disso que trata grande parte do próximo Sínodo Amazônico. Parece que a Igreja Católica não está sozinha em seus estranhos empreendimentos; a comunidade internacionalista está na mesma linha.
ABIM
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* Renomada jornalista holandesa.
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