Por
Joaquim Carlos (*)
Os cristãos de todo o mundo preparam-se para comemorar de novo a natividade de Jesus. Certamente que vamos todos celebrar o magno evento com um misto de reverência, gratidão e alegria, pois, se não houvesse Natal o homem perder-se-ia para sempre indiscutivelmente.
Triste
é dizê-lo, mas o Natal não passa, para muitos, de uma boa
oportunidade para se fazer negócio ou participar em festins de
carácter social. Filantropia de fachada, armistícios de
conveniência política, religiosidade hipócrita, etc.
etc.
Eis
no que se transformou, em muitos indivíduos, essa maravilhosa
realidade que é o Natal.
Contudo,
para a maioria das pessoas, esta é, no bom sentido, a época mais
alegre do ano. Festas, banquetes, divertimentos proliferam.
Convidam-se para comer amigos e familiares; respira-se ambiente de
amor e de paz, parece que até o ar que respiramos se alterou. Em
quase todos os lares, escritórios, fábricas, escolas e igrejas há
troca de presentes. Em toda parte se ouvem os cânticos
tradicionais de cada região e País. Dificilmente alguém se pode
isolar de tão contagiante época de alegria e regozijo.
Mas
para alguns, o Natal é o tempo mais melancólico – para não dizer
solitário e doloroso – do ano. O alvoroço festivo só serve para
aliviar a tristeza e a dor da alma. Participam nas festas, mas o que
comem sabe-lhes a cinza, sem qualquer gosto.
Por
vezes bebem demais para poderem esquecer… Quem serão as pessoas
solitárias e melancólicas? Quem se sentirá triste no meio de
tanta alegria? São os recém-divorciados que agora sofrem pior
agonia, por já verem que ele ou ela celebrara o Natal na companhia
de outro ou de outra. São os pais que colocam lindos presentes
sob a árvore de Natal para o filho que jamais os abrirá, por a
morte o ter surpreendido tão prematuramente.
São
todos quantos se encontram desempregados e perderam a própria casa,
enquanto o mundo continua a quadra natalícia. São as pessoas
afastadas do lar pelas mais diversas razões, do calor da família e
dos amigos que desejam reviver o Natal de anos passados. Sim, há
muitos vizinhos tristes, isolados, angustiados e sem amparo.
Sabemos
que Deus os ama e que lhes oferece o melhor presente. Mas precisam de
ouvir expressões de carinho, afeição e amor. É fácil
deixar-nos levar pela corrente tradicional de muitos planos e
actividades. Esforcemo-nos por alcançar as pessoas que
sofrem. Convidemo-las a aceitar o nosso companheirismo para que
desfrutem da paz e da felicidade tão apregoadas nesta época. Não
podemos livrá-las das feridas, mas procuremos incentivá-las a
sentir que na vida nem tudo é dor, tristeza e solidão.
Eu
quero um Natal diferente. Neste Natal eu não quero presentes
adquiridos em lojas apinhadas de gente indiferente, esquecida da
razão de tanta azáfama. Não quero cartões de atractivos, enviados
por mero dever social, um nome apenas na lista anual sem interesse ou
expressão.
Não
o esplendor das luzes multicolores e brilhantes, para ofuscar a
miséria moral e espiritual, propositadamente escondida pelos cantos
da vida…
Não
quero a variedade das iguarias para encher os olhos gulosos, quando
há tanta criança solitária, faminta de pão, paz e amor.
Quero, Senhor, a reafirmação da fé na tua salvação, a certeza
constante do teu amor divino; quero o fogo do teu Espírito Santo a
moldar a força do meu querer, a aquecer-me do frio das desilusões e
a purificar ressentimentos e dor. Quero transbordar-me, quietante,
com as bênçãos do verdadeiro espírito do Natal e esquecer
iguarias mentirosas de sabor a acre deste mundão vão, ilusório.
Que
a estrela que banhou as campinas de Belém derrame sua luz
resplandecente sobre meu ser contrito e sejam novas de real alegria a
trazer paz ao meu coração. O Natal não precisa de ser,
necessariamente, uma efeméride. Não podemos encará-lo com
pessimismo e tristeza como se o mundo não tivesse mais solução.
Apesar de o nascimento de Cristo ser comemorado como um caudal de
confrontos, essas antíteses não têm razão de ser.
Ele
está connosco sempre, não obstante os Herodes da desigualdade e
consumismo. Prezado leitor, o Natal é a época de luzes
brilhantes, de comida especial, de festa, mas o que é que
festejamos, em concreto? A família? Os amigos? Os presentes? O
feriado? Ou… A luz para um mundo em escuridão, onde impera a
guerra e fome? Jesus disse: “Eu sou a LUZ do mundo”. (João
8:12).
Não
resisto à tentação de partilhar alguns pensamentos que encaixam
perfeitamente com esta época natalícia de pessoas ilustres: “A
vida ou é toda espiritual, ou não é espiritual de todo. Ninguém
pode servir a dois senhores. A tua vida é moldada pelo fim para o
qual vives. És transformado à imagem daquilo que desejas.”
(Thomas Merton 1915 -1968). “Não posso fazer tudo, mas posso fazer
alguma coisa; e não me vou recusar a fazer algo que posso fazer,
pelo facto de não poder fazer tudo.” (Helen Keller 1880-1968). “No
mundo há riqueza suficiente para satisfazer as necessidades de
todos, mas não para alimentar a ganância de cada um.” (Gandhi
1869 -1948). Não sejamos indiferentes em relação ao nosso
próximo.
Para
si que lê estas linhas, desejo-lhe um Santo e Feliz Natal, na
companhia daqueles que mais ama de verdade e lhe aquecem o coração
com o seu amor. Boas Festas.
(*)Director do Diário Digital Litoral Centro
Nenhum comentário:
Postar um comentário