Instituto da Conservação da Natureza e Florestas garante que as árvores tinham problemas. Autarquia fala em “ataque ambiental”.
Uma pequena mancha de árvores que fazia sombra ao parque de merendas das Berlengas, instalado à margem da via que liga a Tocha (município de Cantanhede, no distrito de Coimbra) à sua praia, foi abatida na semana passada. O conjunto, formado na maioria por pinheiros bravos, era parte da pequena percentagem do pinhal das Dunas de Cantanhede que sobreviveu ao incêndio de 2017, que varreu a costa da Figueira da Foz até Vagos, já no distrito de Aveiro.
Ao aperceber-se do corte das árvores, a Câmara de Cantanhede (CMC) emitiu um comunicado em que falava de um “autêntico ataque ambiental”, sublinhando que iria pedir satisfações ao Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), responsável pelos terrenos. No início de Julho, a autarquia tinha enviado um “alerta para situações graves ao longo da ciclovia de acesso à Praia da Tocha, onde existem pinheiros secos que, diariamente, vão caindo para os locais onde passam pessoas”, nota o comunicado.
Ao PÚBLICO, a presidente da CMC, Helena Teodósio, diz-se “espantada” e sublinha que deveriam ter sido esses os pinheiros abatidos e não os que estavam a fazer sombra ao parque de merendas. Acrescentou também que a câmara tinha pedido autorização para intervir no caso das árvores que ameaçavam a ciclovia, uma vez que os terrenos são do ICNF. A resposta não chegou, diz.
Protesto sui generis
O caso ganhou outros contornos durante o fim-de-semana. Não se sabe o autor, mas alguém aparafusou aos cepos pequenas estruturas com cartões vermelhos recortados em forma de falo com a inscrição “Cortem este”. “Agora até conseguimos sorrir por força da exposição que lá fizeram, mas antes não tivesse acontecido”, desabafa o presidente da Junta de Freguesia da Tocha, Fernando Pais Alves. O autarca explica que, entretanto, a “instalação” já foi retirada pelas autoridades.
As árvores abatidas integravam o Perímetro Florestal das Dunas de Cantanhede, criado na década de 1940, quando nasceram vastas plantações de pinheiro bravo entre Mira e Quiaios (Figueira da Foz). No entanto, já pouco restava dessa mancha: o incêndio de 2017 consumiu 2838 hectares daquele pinhal atlântico, ou seja 81% da sua área. Fernando Pais Alves refere que os pinheiros teriam cerca de 70 anos e conta que, quando se soube que as árvores estavam a ser cortadas, até recebeu chamadas de bombeiros de Cantanhede que, na noite de Outubro de 2017 em que o fogo por ali andou, estiveram a proteger aqueles pinheiros.
Contactado pelo PÚBLICO, o ICNF explica que os trabalhos tiveram início a 17 de Agosto, tendo sido feita uma “avaliação precisa das árvores secas, verdes sintomáticas já com alguns problemas fitossanitários e outras que devido à sua inclinação podiam cair para via pública, colocando em perigo pessoas e bens”. Terá sido esse o caso do parque de merendas da Tocha.
Estas trabalhos estão integrados numa vasta operação de limpeza a ter lugar nas áreas sob tutela do ICNF que arderam em 2017, tendo o instituto vendido dezenas de lotes em hasta pública desde então. Quando recebeu o alerta da Câmara de Cantanhede, o ICNF diz ter notificado as empresas que tinham ficado com os três lotes em questão no leilão de 2019, para que estes iniciassem “com urgência” o “o abate do arvoredo seco e em risco de queda na faixa de protecção junto à ciclovia”.
O instituto público detalha que “foram identificadas ao longo da ciclovia cerca de 17 pinheiros bravos verdes sintomáticos (aparentemente saudáveis, mas que após algumas incisões no fuste demonstraram alguns problemas de resistência e já com algum grau de inclinação) e oito pinheiros bravos secos”. Já dentro do parque de merendas, contíguo à via ciclável, “foram identificados três pinheiros mansos, um dos quais já com elevada inclinação e outros 2 que porque se encontravam desprotegidos, poderiam constituir risco agravado, dado que na vertente Norte de ventos predominantes o arvoredo ardido em 2017 já tinha sido retirado”.
PUBLICO.PT
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