sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Inglaterra e Escócia escondem mortes em lares de idosos para proteger interesses económicos

A rede de cuidados aos mais idosos na Grã-Bretanha é dominada por operadores privados com fins lucrativos.

As autoridades dos dois países recusam-se a identificar os lares onde a Covid-19 matou utentes. As instituições que supervisionam as residências para idosos defendem que precisam de proteger os interesses comerciais dos proprietários antes de um possível segundo surto.
A decisão foi avançada pelo Guardian e é uma resposta a um pedido que o jornal fez, para a divulgação dos dados, ao abrigo da lei de liberdade de informação. Tanto a Comissão da Qualidade dos lares inglesa como a ​​​​​​​Inspeção de Cuidados, da Escócia, partilham os dados com os governos, mas não o fazem publicamente porque temem que os padrões de atendimento possam ser ameaçados se os utentes começarem a deixar os lares.
A rede de cuidados aos mais idosos na Grã-Bretanha é dominada por operadores privados com fins lucrativos. Os dois reguladores alegam que se os operadores deixarem o mercado terá de ser o serviço nacional de saúde a garantir os cuidados aos mais idosos.
As duas autoridades consideram que sem entender o tamanho e a ocupação das instituições, as condições de saúde dos residentes e as circunstâncias dos surtos locais, os dados não ajudam a fazer um julgamento sobre a resposta de cada operador. Pelo contrário, afirmam que os dados podem ser usados de formas prejudiciais ao bem-estar das pessoas mais vulneráveis ​​e à saúde pública em geral.
Os reguladores dão o exemplo das famílias que podem tirar os utentes de lares onde houve mortes para outros que pensem ser mais seguros mas que na realidade não são.
Os familiares dos utentes estão indignados, dizem que a decisão é ridícula e que a divulgação dos dados permitiria saber quais os locais mais bem preparados para enfrentar a Covid-19.
Shirin Koohyar, que perdeu o pai em abril depois do lar em que residia ter tido um surto, defende que o interesse comercial, quando a vida das pessoas está em jogo, não pode ser um fator.
Ouvida também pelo Guardian, June Findlater, cujo pai de 98 anos morreu de coronavírus numa residência para idosos perto de Glasgow, afirma que a informação que está a ser negada é muito importante quando chega a hora de colocar um familiar num lar. Para ela o facto de as residências registarem ou não mortes não é uma coincidência.
Os lares de idosos do Reino Unido registaram mais de 17 mil e 700 mortes por coronavírus durante a primavera. Com mais surtos temidos neste inverno o pior cenário, avançado por um analista da rede de cuidados, prevê uma queda na procura que pode deixar os lares com 180.000 mil camas vazias até o final de 2021.
Margaria Serra / TSF

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