A Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos defende que os profissionais desta área devem estar mais presentes nas equipas que assistem doentes com covid-19 e que o financiamento não pode focar-se apenas nos doentes agudos e nas urgências.
"Se queremos uma resposta mais robusta, para a população em geral e para a que pode vir a ter infeção por covid, temos de pensar nessa população em todas as fases do seu trajeto", afirmou Duarte Soares, presidente da associação.
Em declarações à Lusa a propósito dos 25 anos da associação e do mês dos cuidados paliativos, que se assinala em outubro, o responsável criticou o facto de as "oportunidades de financiamento" omitirem por completo "qualquer outra entidade ou especialidade que não seja dirigida para os serviços de urgência".
"Temos bastante experiencia a lidar com os nosso parceiros (...) e sabemos lidar com todos e perceber as medidas que podem ter resultado prático", afirmou Duarte Soares, sublinhando que "os profissionais de cuidados paliativos têm ferramentas que devem ser valorizadas, seja na melhoria da qualidade de vida, seja no controlo sintomático ou no acompanhamento das famílias".
"E devem ser valorizadas no momento em que se fala em equipas multidisciplinares para a área covid, sobretudo nos lares de terceira idade e noutras estruturas de apoio a idosos, onde acredito que temos experiência suficiente a nível comunitário para poder ser parte integrante dessa equipa", defendeu, dizendo-se surpreendido pelo facto de os cuidados paliativos "não estarem a ser chamados para essa missão".
Duarte Soares lembrou que em junho/julho, numa audição no parlamento, o Governo foi instado a apresentar novos calendários com investimentos específicos para a área dos cuidados paliativos, mas até agora "não há qualquer resposta".
Sobre o "BI dos cuidados paliativos" que o Governo anunciou criar até final do ano para permitir a monitorização das equipas a nível hospitalar e dos cuidados de saúde primários, Duarte Soares afirmou: "Não nos parece que voltar a identificar os problemas que já estão identificados, pelo menos há uma década, resulte".
"Estamos a terminar o segundo plano estratégico para esta área (2019/2020) e arriscamo-nos a terminar como começámos: defraudando expectativas e metas traçadas pelo próprio Governo e que em quatro anos teimam em não ser concretizadas", acrescentou.
Lembrou que o Observatório dos Cuidados Paliativos há muito fez o retrato desta área, à qual 70% da população ainda não consegue ter acesso, e insistiu: "Ou baixamos as expectativas e temos menos campanhas ou temos de colocar dinheiro para contratar recursos humanos, sobretudo médicos".
"Mas o problema só será ultrapassado colocando médicos não diferenciados em locais onde possam ganhar essa diferenciação", acrescentou.
O responsável defendeu ainda que o importante, nesta fase, seria passar a mensagem construtiva dos doentes que passaram pelos cuidados paliativos, mas lamenta que essa mensagem não seja possível enquanto não forem resolvidos os problemas mais sérios em termos de acesso aos cuidados paliativos.
Segundo a associação, em Portugal 70% dos doentes ainda não têm acesso a cuidados paliativos e existem mais de 8 mil crianças e adolescentes e 89 mil pessoas adultas com necessidades paliativas.
Para a Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos, o equilíbrio entre o esforço para controlar a transmissão do vírus e o esforço por manter cuidadas as pessoas em situação de doença crónica e com necessidades paliativas "tem-se apresentado como um desafio quase impossível".
"Se antes de um contexto pandémico as respostas em cuidados paliativos eram exíguas, agora essa falha tornou-se ainda mais evidente, os serviços não conseguem dar resposta à crescente necessidade e por isso há doentes sem assistência", sublinha.
Lusa
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