Candidata apoiada pelo BE sublinha que o chefe de Estado tem como obrigação "defender e proteger a Constituição e a democracia, bem como os valores que lá estão representados"
Marisa Matias garante que, eleita Presidente da República, "não daria posse a um Governo apoiado pelo Chega" e lembra o "cordão sanitário" feito à extrema-direita alemã, admitindo um debate futuro sobre a ilegalização deste partido, mas não por sua iniciativa.
Em entrevista à agência Lusa, a candidata apoiada pelo BE na corrida a Belém, Marisa Matias, reitera que o seu adversário nestas eleições é o Presidente da República e recandidato, Marcelo Rebelo de Sousa, mas assume que, tal como qualquer candidato democrático, não se pode "demitir do combate à extrema-direita", ou seja, a André Ventura.
"Eu não daria posse a um Governo apoiado pelo Chega", garante, marcando assim mais uma diferença em relação a Marcelo Rebelo de Sousa que, em entrevista à SIC na sexta-feira, referiu que em termos constitucionais não pode ser negado o apoio parlamentar de "um determinado partido" a uma solução de Governo, numa alusão ao partido de Ventura.
Sobre a possibilidade de o candidato André Ventura poder ficar à sua frente nas eleições de 24 de janeiro, a dirigente do BE é perentória: "acho que é uma derrota sim, é uma derrota para a democracia, não é só para mim".
Marisa Matias diz que não cabe a um Presidente da República definir se um partido o pode ser ou não - essa é uma tarefa do Tribunal Constitucional -, mas sublinha que o chefe de Estado tem como obrigação "defender e proteger a Constituição e a democracia, bem como os valores que lá estão representados".
"Eu não coloco de parte que haja no futuro a necessidade de discutirmos ou não a existência do Chega, mas isso porque o próprio André Ventura parece que anda a pedir isso há não sei quanto tempo", critica.
Na perspetiva da dirigente bloquista, o deputado e líder do Chega tem "um discurso absolutamente racista, xenófobo" e propõe "coisas inaceitáveis" como recuperar a prisão perpétua em Portugal, que "foi abolida em Portugal no século XIX".
"Ele traz para o século XXI ideias do século XIX e eu acho que às vezes é mesmo a pedir para fazer esse combate, a pedir que alguém peça a ilegalização, a pedir que alguém o faça de vítima", afirma.
Marisa Matias estabelece a diferença entre "a questão da ilegalização" - debate que não coloca de lado, mas que "não pediria nem tomaria iniciativa" - e a possibilidade de "dar posse a um Governo", que "é uma coisa completamente diferente".
"Marcelo Rebelo de Sousa conhece tão bem como eu o que se passa, por exemplo, na Alemanha - até porque a chanceler alemã é da família política de Marcelo Rebelo de Sousa - e Angela Merkel é a líder europeia que mantém firme o cordão sanitário e eu, desse ponto de vista, confesso que estou ao lado de Angela Merkel", elogia.
A CDU alemã e o Governo alemão, destaca a dirigente do BE, mantiveram e definiram a todos os níveis de governação "o cordão sanitário e não há participação do AFD mesmo quando seria importante e fundamental para ter maiorias", estando esta decisão a traduzir-se "na perda de influência e a perda nas sondagens da extrema-direita alemã".
Lusa
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