Um consórcio liderado pela ICNAS-Produção, empresa da Universidade de Coimbra (UC), obteve meio milhão de euros de financiamento do programa COMPETE 2020 para concretizar um projeto de investigação, intitulado “BioImage2CTO”, que pretende desenvolver novos biomarcadores de imagem que permitam melhorar o tratamento da doença coronária, uma das principais causas de morte a nível mundial.
Mais especificamente, o consórcio, que envolve também a Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC) e a Universidade do Minho (UMinho), vai centrar-se nas oclusões coronárias crónicas totais (CTO, na sigla inglesa), que são encontradas em cerca de 18 a 35% dos pacientes com doença coronária estável.
As oclusões coronárias crónicas totais caracterizam-se pela obstrução completa (100%) das artérias coronárias, responsáveis pelo fornecimento de oxigénio e nutrientes ao coração. A oclusão destas artérias pode impedir o coração de funcionar normalmente e condicionar o aparecimento de sintomas de insuficiência cardíaca e angina de peito.
Por isso, sublinha a coordenadora do projeto, Maria João Vidigal, «o sucesso do tratamento das CTO reflete-se na qualidade de vida e sobrevivência dos doentes com doença coronária». Atualmente, a terapêutica preferencial, esclarece, «de acordo com as recomendações internacionais sempre que associadas a sintomas e isquemia, é a revascularização percutânea (efetuada através de cateterismo cardíaco) ou cirúrgica, quando possível. No entanto, estudos já realizados, neste contexto, não conseguiram corroborar claramente as vantagens deste procedimento sobre a terapêutica médica otimizada».
Assim, o grande objetivo do projeto, com a duração de dois anos, é «investigar, desenvolver e validar novos biomarcadores na área da imagem molecular que permitam a estratificação do risco, bem como o tratamento apropriado dos doentes CTO. Trata-se de um projeto inovador na área da saúde que se propõe melhorar, e individualizar, práticas clínicas já consideradas de excelência, indo ao encontro de uma medicina personalizada», explica a investigadora do ICNAS e docente da FMUC.
Para que tal seja possível, a equipa do “BioImage2CTO” vai explorar as alterações da perfusão miocárdica, nomeadamente a extensão da área de miocárdio isquémico/viável, que ocorrem perante uma situação de CTO. Essas alterações, clarifica Maria João Vidigal, «são condicionadas por múltiplos fatores que se associam à obstrução coronária, entre os quais se pode destacar o desenvolvimento de circulação colateral, angiogénese, e a disfunção endotelial».
«Embora a angiogénese seja um processo complexo, a sua relação com a expressão de integrinas v3 na membrana celular já foi demonstrada. No entanto, a relação entre a presença de circulação colateral numa CTO e o benefício da revascularização parece fundamental, mas ainda não foi explorada de forma plena. Com este projeto pretende-se desenvolver um novo marcador, de seletividade melhorada para as integrinas v3, que possa ajudar a caracterizar in vivo o processo de angiogénese coronária», explica.
Em paralelo, este estudo visa «poder disponibilizar metodologia de caracterização das CTO, através da utilização de PET-CT (Tomografia por Emissão de Positrões-Tomografia computadorizada), que permita incluir, na abordagem habitual desta situação clínica, novos parâmetros de imagem que facultem uma seleção melhorada de cada doente para revascularização, procedimento não isento a riscos e com custos significativos», acrescenta.
A identificação de novos biomarcadores e o desenvolvimento de metodologias clínicas que permitam selecionar a melhor abordagem terapêutica para cada paciente irão permitir, no futuro, «otimizar a orientação dos doentes com doença coronária, em particular daqueles com oclusões coronárias crónicas. Pretende-se que estas tecnologias sejam amplamente utilizadas na comunidade clínica, tendo seguramente um grande impacto ao nível do diagnóstico não invasivo de doenças cardiovasculares», sustenta Maria João Vidigal.
A coordenadora do projeto “BioImage2CTO” nota ainda que a prevalência da doença coronária tem vindo a aumentar, «consequência da adoção de estilos de vida pouco saudáveis e do envelhecimento progressivo da população, sendo consideráveis os custos envolvidos com o seu diagnóstico e tratamento».
Cristina Pinto
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