(c)Ana Viotti
Hélio Morais, é justo referi-lo, é um dos grandes agitadores da modernidade pop nacional: encontramo-lo sentado à bateria nos Linda Martini e nos PAUS, de agenda nas mãos a gerir o estúdio HAUS, como agente de artistas a projectar talentos em palcos de todo o país, como produtor a potenciar outros talentos. Hélio Morais é incansável porque acredita no que faz. E agora avança pelo futuro adentro com novas ideias e uma nova identidade artística: MURAIS.
Na arte, murais são obras de grande fôlego, panorâmicas, impressionantes pela escala, pelo vigor, pela força das mensagens que transmitem. Tudo isso se aplica a MURAIS, o disco pop em que este baterista que também canta assume a voz para pintar amplos retratos poéticos das suas próprias ideias.
“Desde que um piano, usado na tour europeia do Sufjan Stevens em 2010, foi parar à sala de ensaios de Linda Martini, que me tenho andado a divertir com esta ideia de fazer canções simples, sem grandes pretensões. Abordei o instrumento da mesma forma que o fiz com a bateria, através da qual o público conhece o meu trabalho; de um modo naïve/punk. O importante, para mim, era encontrar estruturas que me permitissem dizer as coisas que queria cantar.”
Dos cruzamentos e acidentes que a estrada proporciona aos artistas que fazem digressões, nasceu a ponte atlântica erguida em MURAIS. O álbum foi produzido por Benke Ferraz, dos Boogarins, numa simbiótica relação de trabalho à distância que resulta num disco pop em estado puro. “Às vezes é mais fácil partilhar intimidade com estranhos”, justifica Hélio Morais. “E estas canções sempre foram muito íntimas para mim, no sentido em que me vejo colocado num sítio desconfortável, mas onde quero estar. Foi assim que, quando estive com os PAUS no Brasil, decidi mostrar as canções ao Benke, que não sendo um estranho, tinha o distanciamento que achava necessário para ouvir o que tinha gravado. E foi assim que esta aventura começou a tornar-se real.”
O resto, poderia dizer-se é história. Ou histórias. De um artista que já conta, entre os diferentes projectos com que fez o seu percurso, com uma dúzia de álbuns na sua bagagem pessoal. E que ainda assim não teme escapar do conforto de horizontes já conhecidos para experimentar novas vistas, expondo o lado mais secreto de si em canções que se agarram aos ouvidos e às nossas gargantas como as imagens dos grandes murais se agarram aos olhos, sem pedir licença, com a força das cores e das formas a encher-nos por dentro.
MURAIS oferece-nos pop sem vergonha de ser pop, porque não há lugar para vergonhas quando se é honesto e até se sonha mudar o mundo. Um bocadinho, pelo menos.
Rui Miguel Abreu
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário