segunda-feira, 10 de maio de 2021

SÃO PACÔMIO

 

Eremita e Confessor, instituiu a vida cenobítica entre os monges do deserto e lhes prescreveu uma regra; recusou por humildade o sacerdócio e se tornou o patriarca dos monges que levam vida em comum. Sua festividade é celebrada no dia 9 de maio.

  • Plinio Maria Solimeo

São Pacômio divide com Santo Antão a honra de ter instituído a vida cenobítica no Egito. Ao contrário dos eremitas ou anacoretas, que se afastavam do contato do mundo para melhor buscar Deus, o cenobita vivia em comunidade, sob uma regra, obedecendo a um superior. Pacômio foi o primeiro a fixar por escrito suas regras.

Nascido por volta de 292 em uma pequena vila nos arredores de Kénèh, em Kénoboskion (atual Nag Hammadi), no Alto Egito, era filho de pais pagãos supersticiosos e idólatras, mas desde a infância mostrou-se muito refratário ao paganismo, fazendo jus a seu nome – que em copta, língua na qual foi educado, quer dizer grande águia ou falcão do rei.

Santa Catarina de Alexandria

         Pacômio apenas saía da adolescência, e ainda era pagão quando foi alistado à força nos exércitos de Maximino Daia (308-313). Esse imperador renovou as perseguições aos cristãos após a publicação do édito de tolerância de Galério.

Eusébio de Cesareia afirma que Daia tomou-se de uma ‘paixão insana’ por uma jovem cristã, a futura mártir Santa Catarina de Alexandria, notável por sua nobreza, riqueza, educação e castidade. Quando Catarina repeliu seus avanços, mandou matá-la cruel e lentamente com pontas de ferro. Não surtindo efeito, mandou decapitá-la e apossou-se de toda a sua fortuna.1 Muito popular na Idade Média, essa santa foi uma das ‘vozes’ de Santa Joana d’Arc.

Caridade dos cristãos leva à conversão

Estando no exército, Pacômio foi feito prisioneiro em Tebes. Durante o cativeiro era confortado pelos cristãos locais, que o desconheciam, sendo por eles alimentado em segredo. Tocado por essa dedicação desinteressada a um estranho, perguntou a um deles quem lhe mandava fazer aquilo, e foi informado de que era o Deus que está nos céus. Nessa noite o prisioneiro rezou com os cristãos para esse Deus, sentindo-se inclinado a seguir tão bela doutrina.

Quando ficou livre, voltou para o Egito e se fez batizar. Ainda incerto sobre o rumo a tomar, pôs-se a serviço de uma comunidade cristã, o que lhe permitiria praticar a caridade com a qual fora tratado por seus seguidores durante a prisão. Mas isso não o satisfazia, pois queria dedicar-se inteiramente a Deus. Foi então informado de que um ancião chamado Palimão servia a Deus no deserto. Foi à procura dele e se colocou sob a sua direção.

         De São Palimão, diz o Martirológio Romano Monástico no dia 11 de janeiro: “Na Tebaida, cerca de 330, São Palimão eremita, que iniciou São Pacômio na vida monástica e lhe deu os seus princípios fundamentais: vigiar e orar no jejum e na solidão”.

Instituição da vida cenobítica

Nessa época os eremitas se retiravam frequentemente, durante algum tempo, para um lugar solitário, de onde voltavam de tempos em tempos à sua antiga morada. Com São Pacômio ocorreu outra coisa, pois ele ouviu em Tabenesse, no deserto, uma voz misteriosa que lhe disse: “Pacômio, permanece aqui e funda um mosteiro”. Enquanto meditava sobre essas palavras, um anjo lhe apareceu e disse: “Pacômio, eis a vontade de Deus: servir o gênero humano e o reconciliar com Deus”. Compreendeu então que para isso não devia viver só e isolado, mas com outros, pois o anjo acrescentou que “muitos, ansiosos de abraçar a vida monástica, virão para cá”. Isto significava substituir a vida eremítica pela cenobítica, ou seja, a vida isolada na solidão pela vida em comunidade.

Primeiro cenóbio

Foi assim que, encorajado por São Palimão, Pacômio fundou com três companheiros a sua primeira comunidade, aproximadamente no ano 320.

         Os candidatos começaram a aparecer. O primeiro foi seu irmão mais velho, e depois surgiram outros. Entretanto, todos visavam inicialmente seguir a vida eremítica, só que com algumas pequenas alterações sugeridas por Pacômio, como as refeições em comum.

Agiu com muita sabedoria em relação aos primeiros monges que almejavam uma vida um tanto eremítica. Procurava que os cuidados da vida cenobítica não lhes fossem empurrados muito abruptamente, por isso encarregou-se dessa parte, permitindo-lhes que dedicassem todo o tempo que quisessem aos exercícios espirituais.

Aos poucos foram construídos em redor do primeiro núcleo algumas habitações e um oratório, cercados por um muro. Foi assim que nasceu o mosteiro de Tabenesse, às margens do Nilo, entre a grande e a pequena Tebaida.

Esse mosteiro era duplo, pois Maria, a irmã de Pacômio, fundou uma comunidade de monjas na margem oposta do rio. O santo deixou indicações para os monges e as monjas que viviam sob sua regra. Entre elas, a de que os homens deveriam encarregar-se dos trabalhos materiais, e as mulheres da confecção de vestes e funções domésticas do mosteiro.

         Esse tipo de organização dupla tornou-se depois popular no Oriente no tempo do cenobismo cristão, pela necessidade de as monjas terem monges na proximidade para celebrar os ofícios divinos e distribuir os sacramentos.

A Tebaida – Fra Angelico (1410). Galleria degli Uffizi, Florença, Itália

Organização dos mosteiros

São Pacômio era bom administrador. Com o aumento do número de monges, dividiu-os em grupos de vinte, sob a direção de um superior sujeito a si, que era assistido por um auxiliar. Cada grupo tinha seu pavilhão e devia habitar sob o mesmo teto, exercendo determinado trabalho: alfaiates, marceneiros, escriturários, agricultores etc. Deviam também observar uma ordem do dia em comum.

         São João Cassiano (360-435), nascido na Cítia Menor (atual Romênia), visitou os mosteiros de São Pacômio, e fundou depois perto de Marselha, na França, um mosteiro semelhante. Assim, a chamada Abadia de São Vítor foi um dos primeiros mosteiros masculinos na região; e o de São Salvador, o primeiro feminino. Ambos serviram depois de modelo para o desenvolvimento do período monástico ocidental. Por isso São João Cassiano é considerado o fundador do monasticismo ocidental.

Regra ditada por um anjo

Pacômio desejava que seus monges imitassem as austeridades dos eremitas. Escreveu então uma regra — dizem que ditada por um anjo —, a qual foi traduzida depois por São Jerônimo, e ainda existe. Esta facilitava as coisas para os menos competentes, não chegando ao mais extremo ascetismo dos mais capazes. As refeições eram em comum, mas os que desejassem ausentar-se delas eram encorajados a fazê-lo, sendo colocados em suas celas pão, sal e água.

Eis alguns pontos de sua regra:

● A admissão dos recrutas era precedida por um exame, do qual o santo se encarregava;

● O recruta ou postulante devia passar por um tempo de prova, durante o qual tinha que aprender a ler e a escrever (deve-se ter em vista que a educação geral era muito precária na época);

● O hábito religioso era uniforme para todos, baseado no das pessoas simples do país;

● Toda propriedade era posta em comum;

● Nenhum monge podia ser sacerdote; e se o candidato já o era, seria tratado como os demais irmãos;

● As refeições eram tomadas em comum, com dias de jejum prescritos;

● A oração era comum de manhã e à tarde. O Ofício Divino era também em comum aos domingos e dias de festa;

● Finalmente, e o mais importante: a obediência ao superior do grupo, sobretudo ao do mosteiro, era estrita, sendo Pacômio o superior.

O santo quis regular a vida da comunidade pela Sagrada Escritura, da qual os monges sabiam trechos de memória, e os recitavam em voz baixa durante o trabalho.

         Embora tivesse sido ampliado várias vezes, o mosteiro logo ficou pequeno, sendo necessário fundar um segundo em Pabau. Um mosteiro de Chenoboskion juntou-se à Ordem, e antes da morte de Pacômio já havia nove mosteiros para homens e dois para mulheres.

Milagres e santa morte

Pode-se dizer que a vida monástica ou cenobítica no Egito nasceu com São Pacômio. Não era mais um chefe carismático que agregava ermitões reunidos em pequenos grupos em torno de si, mas uma comunidade de religiosos com regras precisas de vida em comum na oração, contemplação e trabalho, a exemplo dos primeiros apóstolos de Jesus.

São Pacômio foi agraciado por Deus com o dom dos milagres. No entanto, curava várias doenças ou aflições com uma única condição: somente se fosse para o bem da alma. Era também favorecido com o dom da profecia.

O grande Santo Atanásio quis ordená-lo sacerdote, mas Pacômio resolveu permanecer leigo, por humildade.

Morreu vítima de uma peste que assolava o Egito. O local de sua sepultura foi sempre desconhecido, porque antes de sua morte ele havia recomendado aos seus discípulos mais fiéis que o enterrassem num lugar secreto, para evitar a veneração de muitos de seus seguidores.

Até o século XII, a Ordem de São Pacômio era constituída por cerca de 500 monges. Assim como Santo Antão, o Grande, ele é considerado o instituidor da vida monástica e eremítica, o patriarca dos cenobitas.

De São Pacômio, diz o Martirológio Romano Monástico no dia 15 de maio: “Memória de São Pacômio abade, morto na Tebaida em 348. Testemunha da caridade cristã para com os prisioneiros no tempo de seu serviço militar, converteu-se e pediu o hábito monástico ao eremita São Palimão. Sete anos mais tarde, uma voz divina o mandou ‘construir uma casa em Tabenesse, para nela reunir muitos irmãos’. São Pacômio é assim considerado como o fundador do monaquismo cenobítico”.2


ABIM

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Notas:

  1. https://pt.wikipedia.org/wiki/Maximino_Daia
  2. https://fr.wikipedia.org/wiki/Pac%C3%B4me_le_Grand

Outras fontes consultadas:

– https://nominis.cef.fr/contenus/saint/1127/Saint-Pacome-le-Grand.html

– http://www.santiebeati.it/dettaglio/52450

– The Catholic Encycopedia, St. Pachomius.

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