segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Descoberta da Universidade de Coimbra abre portas a nova geração de medicamentos para combater vírus e parasitas


Uma equipa interdisciplinar de várias instituições científicas nacionais, liderada pela Universidade de Coimbra (UC), descobriu e testou uma molécula com um perfil revolucionário, que abre caminho para o desenvolvimento de um novo antimicrobiano de largo espectro com potencial de aplicação na prevenção e tratamento de múltiplos tipos de infeções virais, endémicas e pandémicas, e também doenças parasitárias, como a malária.

Designada BSS730A, a molécula, que é derivada da penicilina, umas das moléculas mais conhecidas do mundo, foi descoberta no âmbito do projeto Spiro4MALAIDS e resulta de vários estudos realizados ao longo dos últimos nove anos pelo Grupo de Química Orgânica da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC).

Coordenado pela professora Teresa Pinho e Melo, do Departamento de Química da FCTUC, o projeto Spiro4MALAIDS tem a participação de investigadores da Universidade de Lisboa, através do Instituto de Medicina Molecular e da Faculdade de Farmácia, e do Instituto Universitário Egas Moniz.

Os vários ensaios pré-clínicos realizados com diferentes vírus, entre os quais o HIV e várias estirpes do vírus da gripe (um vírus com potencial pandémico), e em parasitas como o que provoca a malária, são muito promissores. «A molécula apresentou uma atividade notável contra os diferentes vírus e parasitas testados. Em concentrações muito baixas, a eficácia na inibição das infeções atingiu os 99 por cento», revela Nuno Alves, aluno de doutoramento da FCTUC e membro da equipa.

Os resultados obtidos, sublinha, indicam que a nova molécula «tem um comportamento completamente diferente dos medicamentos que se encontram no mercado. Enquanto os antivirais convencionais atuam sobre a maquinaria do próprio vírus, a molécula BSS730A atua ao nível do hospedeiro, promovendo uma resposta do próprio hospedeiro conta o vírus. Um mecanismo deste tipo, para além de ter um perfil farmacoterapêutico inovador, está muito menos sujeito ao desenvolvimento de resistências por parte dos vírus», ou seja, clarifica, «verificou-se que a molécula mostrou ser ativa contra estirpes multirresistentes dos mesmos vírus».

Observando os mecanismos que a molécula utiliza para exercer a sua atividade, os investigadores acreditam que existem boas perspetivas para «inativar outros vírus para além dos estudados. É uma molécula que poderá ter atividade para novas ameaças virais que possam emergir no futuro, representando uma nova geração de medicamentos antivirais e antiparasitários de largo espectro, muito mais eficazes do que os atuais», afirma o investigador do Departamento de Química da FCTUC, destacando ainda outra particularidade da molécula descoberta, sobretudo ao nível da estrutura e farmacologia: «apesar de ser proveniente da penicilina, usada no tratamento de infeções causadas por bactérias, a BSS730A não tem qualquer atividade antibacteriana, mas sim antiviral e antiparasitária, no caso do parasita da malária».

A equipa pretende avançar com a realização de ensaios clínicos dentro de três anos. No entanto, para que tal se concretize, é necessário obter financiamento. «Um projeto deste tipo requer um músculo financeiro considerável, na ordem dos dois milhões de euros», estima Nuno Alves. Justamente com o objetivo de angariar financiamento que permita avançar com o desenvolvimento desta tecnologia disruptiva, está em fase de conclusão a criação de uma Startup.

Além de Teresa Pinho e Melo e Nuno Alves, a equipa do projeto inclui os professores Nuno Taveira (Instituto Universitário Egas Moniz) e Miguel Prudêncio (IMM da Universidade de Lisboa) e os investigadores Américo Alves (FCTUC) e Inês Bártolo (Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa).

O projeto Spiro4MALAIDS foi recentemente distinguido no concurso “Born from Knowledge Ideas” (BfK Ideas), na área da saúde, promovido pela Agência Nacional da Inovação (ANI). Este concurso visa impulsionar a transferência de conhecimento para o tecido empresarial.

Cristina Pinto

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