Líder social-democrata critica o que diz ser a falta de uma "estratégia de longo prazo" e diz que a esquerda tem a "obrigação" de negociar.
O líder do PSD, Rui Rio, anunciou esta sexta-feira que vai propor à Direção Nacional do partido "que o voto no Orçamento do Estado seja um voto contra", criticando o documento por ser de "continuidade" e não ter uma "estratégia de longo prazo".
O anúncio foi feito à saída de uma audiência com o Presidente da República, Em Belém, onde os partidos são hoje ouvidos sobre o OE2022.
A política orçamental do Governo, defende Rui Rio, "não privilegia o que é importante, que é o apoio ao tecido produtivo", ao só prever "160 a 170 milhões de euros" para as mesmas, o que resume em "medidas muito poucas".
"Pior, muito pior, é aquilo que se ouve como revindicações do PCP e do BE. No caso do PCP, pede mexidas na legislação laboral, quando precisamos de apoiar as empresas, o emprego, o investimento", afirmou.
Rio considerou que, se além da influência que já tem no Orçamento, o PCP também a tiver noutras áreas da governação, o país terá "um Governo socialista de forte influência comunista".
Já quase que não é uma geringonça, só falta ter ministros lá dentro também (...) Aí o PS opta por governar com o PCP na sua plenitude para se segurar de qualquer maneira do Governo e se a economia anda ou não anda logo se vê, vai navegando à vista. Ou vai navegando à Costa", ironizou.
As negociações à esquerda são, "face àquilo tudo que aconteceu, uma obrigação" dos partidos dessa ala política, sublinhou também o líder dos sociais-democratas, que critica "o conteúdo dessas negociações", de acordo com o que tem lido na comunicação social.
Questionado sobre o que é preferível para o futuro do país, Rui Rio defende, tendo em conta o enquadramento, é preciso que "não estraguem ainda mais" a situação nacional, piorando-a "na negociação". Assim, cabe ao PS ter "habilidade negocial" para fechar um acordo à esquerda que não tenha consequências nefastas.
Sobre a restauração e hotelaria, assinalou que seria justo esses setores obterem agora uma "resposta a esta situação conjuntural". Por outro lado, criticou que o Governo não tenha aproveitado uma proposta do PSD para que o IVA da restauração baixasse para taxa mínima durante os dois anos e a inclusão de mais verbas para a TAP.
"A TAP é agora o Novo Banco, de cada vez que há um Orçamento vêm mais mil milhões para a TAP", apontou.
Questionado porque optou por anunciar hoje em Belém o voto contra - depois de receber críticas por não o ter feito na quinta-feira na reunião do grupo parlamentar -, Rio respondeu com outra pergunta.
"Se calhar porque eu ontem de manhã estava a estudar o orçamento, quem lhe diz que eu não estava ontem de manhã na sede a estudar o orçamento?", questionou.
Rui Rio esteve acompanhado na audiência pelo vice-presidente Nuno Morais Sarmento, pelo secretário-geral José Silvano e pelo presidente do Conselho Estratégico Nacional (CEN) Joaquim Sarmento.
Marcelo a ouvir partidos durante a tarde
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, recebe hoje todos os partidos com representação parlamentar para audiências na sexta-feira, na sequência da apresentação da proposta de Orçamento do Estado para 2022, e "no contexto dos habituais encontros periódicos".
Depois do PSD, serão recebidos, por esta ordem, IL, Chega, Verdes, PAN, CDS-PP, PCP, BE e PS.
Nos últimos dias, Marcelo Rebelo de Sousa falou várias vezes sobre a possibilidade de o Orçamento não ser aprovado - depois de BE e PCP acenarem com a hipótese de 'chumbo' já na generalidade - e defendeu que "a faca e o queijo estão nas mãos dos partidos", justificando que quis ser preventivo ao avisar que uma rejeição do documento provavelmente conduzirá a eleições antecipadas.
A votação do Orçamento do Estado para 2022 na generalidade está agendada para 27 de outubro.
Gonçalo Teles / TSF com Lusa
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