A cicatriz deixada pelos incêndios florestais, neste caso os de 2017, foi o mote para iniciar o projeto Cortiçada Art Fest, envolvendo os Municípios de Proença-a-Nova, Sertã e Oleiros, a Direção-Geral das Artes, a Direção Regional de Cultura do Centro e o gabinete de arquitetura MAG que teve como expressão mais visível a criação de três obras de arte na paisagem: O Farol dos Ventos (Proença-a-Nova), Moon Gate (Oleiros) e Véu (Sertã). O projeto incluiu outras valências, sempre com o objetivo de promover o Interior e as suas pessoas e contribuir para pensar o território e juntar artistas de diferentes expressões. Inaugurada primeiramente num formato online, a Exposição da Cortiçada Art Fest pode agora ser apreciada na Galeria Municipal Comendador João Martins, no Parque Urbano, até dia 28 de abril. Inclui pintura, cerâmica, fotografia, tapeçaria e música, juntando as expressões de artistas como Carlos Farinha, Yola Vale, Duarte Belo, Helena Fernandes, Tiago Pereira, Marco Figueiredo e os Senza.
No dia da inauguração da exposição, a 12 de fevereiro, foi destacado este olhar sobre o território a partir de diferentes lentes. João Lobo, presidente da Câmara Municipal de Proença-a-Nova, apontou precisamente para a força da arte: “é um veículo importante para esta matriz dos territórios, mas essencialmente de atratividade”. Fazendo uma breve cronologia do projeto Cortiçada Art Fest, referiu a existência de obras de arte em pontos improváveis (no caso de Proença-a-Nova ficou na Serra das Talhadas, junto à Buraca da Moura, e nos Cunqueiros na obra Magma Cellar), e a sua capacidade de atração de pessoas. “Não há natureza e não há monumentalidade no espaço territorial que não seja vivido, pode ser contemplado, mas a riqueza são as pessoas e essa é a tónica principal”. João Lobo adiantou que este projeto vai ter continuidade, com o objetivo último de criar um museu de arte ao ar livre beneficiando da maior riqueza do concelho: a natureza.
A floresta foi a fonte de inspiração para Yola Vale criar “Pele da Terra”, cinco murais de cerâmica secionados que apresentam cascas de pinheiro com diferentes tonalidades. “Há muita gente que pensa que isto é casca de pinheiro e não é, é tudo cerâmica, são peças modeladas à mão, uma a uma, mas inspiradas nessa casca”, referiu. As diferentes cores são alcançadas por diferentes técnicas de cerâmica: por exemplo, na que reflete a casca de pinheiro queimada, recorrendo à técnica Rakú, as peças foram literalmente incendiadas para se conseguir o efeito pretendido. A partir destes murais, a artista pretende incentivar uma reflexão sobre a floresta, base de sustento para muitas pessoas no passado. “Havia um respeito muito grande pela natureza, havia uma economia circular, de proximidade. Infelizmente tem-se vindo a ver cada vez mais o abandono das terras e o despovoamento, tanto humano como da floresta”.
Helena Fernandes inspirou-se na Beira Baixa para criar a sua tapeçaria, onde conjugou texturas e cores, mas também o perto, o longe e o céu. Todos os elementos foram tingidos por si e privilegiou a utilização de materiais naturais, como o cordel e a ráfia. Partes da tapeçaria foram feitas em casa, à lareira, e depois compostos na Fábrica da Criatividade, em Castelo Branco. “A maior parte das minhas tapeçarias são mais monocromáticas, mas com muitas texturas e técnicas diversas. Desta vez achei que na Beira Baixa teria de exaltar as cores e sobretudo as texturas. Os fios na maior parte são de sisal, material com uma textura que na minha perspetiva se adequa a estas terras”, referiu. Marco Figueiredo e a dupla Senza (Catarina Duarte e Nuno Caldeira) apresentaram por sua vez algumas músicas do seu repertório, trazendo a sua visão e pensamento crítico para a forma como se vê e se vive o território, e contribuindo para o sucesso da inauguração da Exposição da Cortiçada.
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