Maria de Lourdes Modesto, a mulher que celebrizou a cozinha tradicional portuguesa na televisão e em livros, morreu hoje em Lisboa, aos 92 anos, confirmaram à agência Lusa fontes próximas da família.
Maria de Lourdes Modesto estava hospitalizada há vários dias.
Segundo as mesmas fontes, o funeral será realizado no crematório de Alcabideche, em Cascais, na sexta-feira.
Maria de Lourdes Modesto, nascida em Beja em 1930, ficou conhecida como a "diva da gastronomia portuguesa", tendo sido feita Comendadora da ordem do Mérito em 2004.
Maria de Lourdes Modesto iniciou a sua carreira televisiva em 1958, quando era professora de Trabalhos Manuais no Liceu Francês de Lisboa e foi convidada pela RTP para apresentar um programa cultural.
Apresentou, aos longo de 12 anos, aquele que é considerado o programa de culinária mais popular no país, “Culinária”, que se tornou num ícone televisivo e considerado pioneiro do conceito de "live cooking".
O sucesso do formato, que partia da sua paixão pela cozinha alentejana, levou-a aprofundar conhecimentos e a estudar a culinária francesa e as tradições gastronómicas portuguesas.
Escreveu vários livros de cozinha portuguesa, dos quais se destacam a “Grande Enciclopédia da Cozinha”, “Cozinha Tradicional Portuguesa” (o livro de culinária mais vendido em Portugal) e “Receitas Escolhidas”. O seu nome está ainda ligado à tradução e edição de obras estrangeiras.
Numa reação à Lusa ao desaparecimento da autora e cozinheira, o ‘chef’ José Avillez comentou que “hoje partiu uma querida amiga, avó (emprestada), professora, musa inspiradora...”
“A pessoa a quem devo muito do que sei, brilhante cozinheira e comunicadora. A grande referência da Gastronomia Portuguesa e incontornável no panorama da gastronomia mundial. Quem melhor registou e descreveu as Cozinhas de Portugal que nos deixa uma herança inigualável: os ensinamentos da nossa Cozinha Tradicional Portuguesa”, afirmou numa resposta por escrito à Lusa, expressando ainda gratidão a uma pessoa que considera imortal.
O jornalista e escritor Miguel Esteves Cardoso, também ele apaixonado pela gastronomia, chamou-a "diva da gastronomia portuguesa", e o também jornalista José Quitério, que popularizou a crítica gastronómica no jornal “O Expresso”, aclamou-a como "uma das cada vez mais raras guardiãs do fogo".
O New York Times tratou Maria de Lurdes Modesto, num artigo de 04 de março de 1987, como a Julia Child portuguesa, numa alusão a uma celebridade culinária televisiva norte-americana e que deu origem ao filme Julie & Júlia, protagonizado por Meryl Streep.
A 09 de junho de 2004 foi condecorada como comendadora da Ordem do Mérito. Foi casada com Carlos Assis de Brito, que conheceu quando trabalhou na RTP.
O seu último livro intitulava-se “Coisas que eu Sei” e foi publicado em maio de 2021, mas para trás ficam obras como “Cozinha Tradicional Portuguesa” (1981), com fotografias de Augusto Cabrita, “Cozinhar com vegetais” (2006), “Queijos portugueses: e um olhar gastronómico sobre famosos queijos europeus” (2007), “Cogumelos do campo até à mesa - conhecer, conservar e cozinhar (2010)” e “Sabores com história” (2014).
“Passa-se a vida a aprender coisas e, aos 80 anos, há muitas coisas que eu sei. Coisas que ‘fui sabendo’, para usar uma fórmula cara aos alentejanos. Essas coisas que fui sabendo, ao longo dos anos, são, no fundo, a matéria dos meus livros”, escreveu na sua última obra.
“São coisas que nunca quis só para mim, mas para repartir com os outros, como se eu fosse um elo numa longuíssima cadeia, pois muitas destas coisas aprendi-as de outras pessoas que também as repartiram comigo”, disse, acrescentando: “Além destas fontes tão ricas e diversas, estudei e cozinhei eu própria para melhor compreender a variedade sempre surpreendente do mundo dos alimentos e das técnicas exigidas pela sua confeção. É isso que tenho feito desde a primeira hora”.
Madremedia
Nenhum comentário:
Postar um comentário