Daniel Rodrigues
22-02-1969 — O diário portuense O Comércio do Porto abriu uma delegação na cidade de Aveiro (Correio do Vouga, 28-2-1969) – J.
A referida delegação, ficou a ser liderada, desde a primeira hora, pelo jornalista Daniel Rodrigues.
O Comércio do Porto foi um jornal português, fundado no Porto em 2 de Junho de 1854 . Quando se deixou de publicar, em 2005, era o segundo mais antigo jornal português, a seguir ao Açoriano Oriental.
Como jornalista, trabalhou incansavelmente no "Comércio do Porto" e no "Diário Popular", tendo exercido, também, as funções de director-adjunto do "Correio do Vouga". Como diácono, foi responsável da pastoral dos ciganos e colaborador da paróquia da Glória, Aveiro.
Distinguiu-se sobremaneira como repórter, conhecendo todos os recantos do Distrito de Aveiro, e não só. As suas reportagens caracterizaram-se pelo humanismo com que enfrentava as realidades, denunciando injustiças e promovendo as pretensões que considerava legítimas das populações. O reflexo desse seu trabalho está bem patente no livro “Vouga Arriba... ou o drama de um povo”, publicado em 1974. Nele disse que não olhava a homens ou a cargos. «Importa-nos, isso sim, a defesa do Povo. Para além da nossa ideologia política e religiosa, está o bem da Colectividade, das camadas mais desprovidas de réditos. Não atacamos ou elogiamos homens; atacamos situações, elogiamos tomadas de posições verdadeiras.»
Ao serviço da reportagem, facilmente captava a “notícia”, retratava com sensibilidade e humanismo dramas e alegrias, ao mesmo tempo que alertava para as injustiças e para os injustiçados.
Nascido em “Terras do Demo”, como tantas vezes proclamava, passou pelo Seminário de Beja e estabeleceu-se em Aveiro como funcionário judicial, sendo paralelamente correspondente de várias publicações. Porém, um dia teve que decidir e passou a dirigir, com empenho total, a Delegação de Aveiro do “Comércio do Porto”. Depois ainda a Delegação do “Diário Popular”, correndo de um lado para o outro, num afã de estar em todas as frentes. E o seu maior desgosto terá sido quando viu fechar a sua “delegação”, que tanto trabalho lhe dera para se impor na cidade de Aveiro e região.
Das suas inúmeras reportagens destaco as que dedicou à defesa dos interesses da Gafanha da Nazaré, sobretudo para a sua elevação a Vila e Cidade. Também, entre muitas outras, as que escreveu sobre o Préstimo e Talhadas e os seus baldios, e sobre o Salgado aveirense. Não ficou indiferente aos Congressos Republicanos, ao 25 de Abril, com revolução e contra-revolução, nem tão-pouco aos sofrimentos dos mais desprotegidos.
Como responsável diocesano pela Pastoral dos Ciganos, percebia-se muito bem, quando falava e reflectia com amigos ou conhecidos sobre as “caravanas” que passavam e acampamentos que visitava, quanto vivia os problemas daquele gente nómada, que considerava como irmãos a promover e a dignificar.
Meu colega na direcção do "Correio do Vouga", depois de tantos trabalhos jornalísticos, senti a alegria com que partiu para Cuba, para mais uma série de reportagens sobre a visita de João Paulo II à ilha e ao sonho de um regime sem classes de Fidel Castro. «Cuba, abre-te ao mundo; Mundo, abre-te a Cuba» foi a expressão que Daniel Rodrigues ajudou a propagar, com uma alegria enorme, na esperança do desejado entendimento total entre os homens, para além das suas ideologias políticas e religiosas.
Há dias, quando visitei o Daniel, a comoção esteve presente. Mas não deixou de me dizer que gostaria de ver publicados alguns dos seus múltiplos trabalhos jornalísticos. Concordei que haveria muito por onde escolher. A possibilidade estará nas mãos dos seus amigos e familiares.
Nesta hora de o ver partir fisicamente, faltam-me as palavras que ele merecia. Mas o seu trabalho, em prol de todos os homens de boa vontade, em tantas etapas, levá-lo-á, certamente, ao aconchego no coração de Deus.
Fernando Martins
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