quarta-feira, 25 de junho de 2025

ESTUDO GULBENKIAN: PORTUGUESES RECONHECEM ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS MAS ESTÃO MAIS PREOCUPADOS COM CUIDADOS DE SAÚDE, DESIGUALDADES E CORRUPÇÃO

Portugueses reconhecem importância das alterações climáticas, mas estão mais preocupados com cuidados de saúde, desigualdade social e corrupção. Restrições financeiras são o maior entrave para mudança de comportamentos
 
Jovens menos preocupados do que os mais velhos com o ambiente e a sustentabilidade

  • 71% dos inquiridos concorda que não agir agora é falhar para com as gerações futuras
  • 83% acredita que poderia fazer mais pelo ambiente, mas há um desfasamento entre intenção e prática.
  • Espaço público não é visto como um exemplo de boas práticas ambientais;
  • Custos associados e ausência de alternativas acessíveis são fatores que dificultam a adoção de comportamentos sustentáveis por parte dos cidadãos;
  • Jovens revelam estar mais ansiosos com o aumento do custo de vida ou o desemprego do que com a sustentabilidade ambiental;
  • Apenas 13% dos jovens entre os 18 e os 24 anos é “Entusiasta” com as questões ambientais;
  • Resultados do estudo apresentados e debatidos hoje na Fundação Calouste Gulbenkian.
Lisboa, 25 de junho de 2025 – O estudo “Clima de Mudança: Perceções sobre os Desafios Ambientais em Portugal”, encomendado pela Fundação Calouste Gulbenkian à IPSOS Apeme, revela que a maioria dos portugueses reconhece a importância dos desafios ambientais, mas esta preocupação não está entre as suas prioridades diárias – as alterações climáticas surgem em 10º lugar numa lista de 18 temas. As suas preocupações direcionam-se mais para questões como os cuidados de saúde ou a pobreza e desigualdade social. O espaço público também não é visto como um exemplo de boas práticas ambientais, com apenas 21% dos inquiridos a considerar que este reflete compromissos sustentáveis e uma maioria de 65% a concordar que “o espaço público deve liderar pelo exemplo na adoção de práticas mais sustentáveis”. A perceção de que ser sustentável é financeiramente mais exigente é uma barreira significativa — 52% dos inquiridos refere que não faz mais pelo ambiente porque isso implicaria custos adicionais. Medidas de incentivo, como benefícios financeiros e recompensas, revelam-se assim mais eficazes para estimular mudanças de comportamento do que abordagens punitivas. Quanto aos jovens, os que têm entre os 18 e os 24 anos apresentam os níveis mais baixos de envolvimento com a causa ambiental, em comparação com outras faixas etárias.
Estas são apenas algumas das conclusões do estudo, de âmbito nacional, que procurou não só compreender as atitudes dos cidadãos perante os temas ambientais, mas também perceber como são percecionadas as organizações da sociedade civil na área do ambiente e as principais abordagens que estas seguem para envolver os cidadãos.
 
A partir do universo de inquiridos e da relação que cada um mantém com o meio ambiente, o estudo permitiu traçar cinco perfis, dividindo os inquiridos por: Entusiastas (25%), indivíduos proativos e motivados, que já adotam práticas sustentáveis; Esforçados (27%), que correspondem a cidadãos comprometidos, mas frustrados com a falta de apoio coletivo; Recetivos (25%), cidadãos interessados, mas inconsistentes nos hábitos; Ocupados (15%), cujo envolvimento é limitado devido às exigências da rotina; e, por fim, Desinteressados (8%), perfil que corresponde a cidadãos sem qualquer interesse ou envolvimento com a causa ambiental. Fazendo uma leitura mais fina dos dados, foi possível concluir que, enquanto os Entusiastas abarcam uma larga maioria de cidadãos entre os 45 e os 60 anos (60%), este perfil apenas abrange 13% de jovens entre os 18 e os 24 anos. É o segmento dos Desinteressados que reúne o maior número de jovens, que revelam estar mais ansiosos com o aumento do custo de vida ou com o desemprego do que com a sustentabilidade ambiental.
 
O estudo “Clima de Mudança: Perceções sobre os Desafios Ambientais em Portugal” conclui ainda que, de acordo com os perfis traçados, os jovens estão menos ligados à comunidade, isto é, participam menos nas iniciativas do seu bairro, e estão menos orientados para a adoção de rotinas mais sustentáveis.
 
 
No que respeita ao trabalho das Organizações Não-Governamentais de Ambiente (ONGA), 41% dos inquiridos afirma depender em exclusivo de trabalho voluntário, e apenas 24% considera comunicar eficazmente o seu trabalho. E embora a participação ativa dos cidadãos nestas estruturas continue a ser reduzida, o seu papel é reconhecido pela população. Os resultados revelam que as organizações ambientais mais capacitadas, que já têm o compromisso com a sustentabilidade no centro da sua ação e uma maior proximidade das pessoas e dos seus contextos, podem ser a força motriz da mudança, sendo capazes de convocar autarquias, empresas, escolas, espaços de cultura, comunicação social e cidadãos para concretizar uma visão conjunta de transição e uma mudança sistémica.
 
Filipa Diasinvestigadora da IPSOS Apeme e autora do estudo, refere que “A adesão a um modo de vida mais sustentável não se faz por decreto, pelo que se é essencial educar, não é menos importante demonstrar que essas mudanças necessárias são  benéficas, antes de mais, para as pessoas.  Nesse propósito o espaço público tem de ser ‘montra’ dessas alternativas, em proximidade, e garantir que a nova realidade que se ambiciona é positiva para os portugueses. Para dar um exemplo, não basta promover os transportes públicos, importa assegurar que são uma alternativa de confiança para os compromissos diários das pessoas ou que o traçado das ciclovias ‘entende’ e protege quem anda de bicicleta”.
 
Para Cristina Casalinho, Administradora da Fundação Calouste Gulbenkian, “Alterações climáticas, oceano, biodiversidade ou economia circular são temas cruciais para o futuro da vida humana na Terra, criando importantes desafios ao nível de mudança de comportamentos de cidadãos, autoridades, empresas e organizações da sociedade civil. Por isso, importa investir na produção de conhecimento sobre as perceções dominantes e adotar abordagens que mobilizem toda a sociedade para a transição, com a consciência de que tem de ser justa, buscando soluções ambiental, social e economicamente eficientes, ou seja, sustentáveis.”
 
Os resultados do estudo “Clima de Mudança: Perceções Sobre os Desafios Ambientais em Portugal” são apresentados hoje, 25 de junho, a partir das 9h30, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
 
Sobre o estudo “Clima de Mudança: Perceções sobre os Desafios Ambientais em Portugal”
estudo “Clima de Mudança: Perceções sobre os Desafios Ambientais em Portugal”, encomendado pela Fundação Calouste Gulbenkian à IPSOS Apeme, teve como objetivo explorar as perceções e atitudes dos portugueses face aos desafios climáticos e caracterizar o terceiro setor que atua na área do ambiente. A interseção entre estas duas dimensões permitirá identificar oportunidades para potenciar mudanças, individuais ou em comunidade, que contribuam para uma transição sistémica na resposta às crises climática e da biodiversidade. A amostra total do estudo envolveu 1.509 indivíduos entre os 18 e os 65 anos, residentes em Portugal (Continente e Ilhas), cujos critérios de seleção foram baseados em quotas cruzadas entre género, idade e região. No que respeita às organizações sem fins lucrativos dedicadas à proteção e regeneração ambiental, foram inquiridas 101 instituições ativas em Portugal (Continente e Ilhas). Para compreender as duas dimensões analisadas, foram adotadas metodologias qualitativas (entrevistas individuais e focus groups) e quantitativas (dois inquéritos realizados online).

*Daniel Vaz
CEO

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