Leonel Pereira,
docente do Departamento de Ciências da Vida (DCV) da Faculdade de
Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) desenvolveu
o Guia Ilustrado das Principais Macroalgas da Costa Atlântica
Continental Portuguesa.
O guia, que
contou com o contributo do professor Ignacio Bárbara, da
Universidade da Corunha, vem colmatar uma lacuna há muito sentida no
ensino e investigação da biologia marinha em Portugal. Este
trabalho nasceu da necessidade de dispor de um recurso acessível,
atualizado e visualmente apelativo para estudantes e investigadores
das áreas da botânica marinha, biotecnologia e ecologia costeira.
Leonel Pereira,
também investigador no Centro de Ecologia Funcional (CFE) da FCTUC,
explica que o guia foi pensado «para
apoiar diretamente as disciplinas que leciono, mas também para
servir como ferramenta útil a outras universidades portuguesas e
estrangeiras».
Escrito em língua inglesa, o livro pretende alcançar um público
internacional e reforçar a projeção científica da investigação
portuguesa nesta área.
A costa
portuguesa é descrita no guia como uma verdadeira “zona de
transição biogeográfica”, um ponto de encontro entre o Atlântico
Norte temperado e o Mediterrâneo subtropical. Esta posição
singular permite a coexistência de espécies típicas de águas
frias, como a Laminaria
ochroleuca,
com outras de águas mais quentes, como a Padina
pavonica.
«Essa
diversidade faz do litoral português um autêntico laboratório
natural para o estudo das alterações climáticas e da dinâmica dos
ecossistemas marinhos, mas também o torna particularmente sensível
às mudanças ambientais. Pequenas variações de temperatura ou
salinidade podem alterar profundamente a composição das comunidades
costeiras»,
considera o autor.
As macroalgas
desempenham um papel essencial nestes ecossistemas. São produtoras
primárias, responsáveis por grande parte do oxigénio e da matéria
orgânica que sustenta a vida marinha, e criam habitats complexos que
servem de abrigo, refúgio e zona de alimentação para uma enorme
variedade de espécies, desde pequenos crustáceos até peixes
juvenis.
«Além
do seu valor ecológico, têm um papel químico e físico importante:
ajudam a regular a qualidade da água, capturam dióxido de carbono e
contribuem para a proteção das zonas costeiras, reduzindo a energia
das ondas e estabilizando os sedimentos. A sua presença ou ausência
é um indicador direto da saúde ambiental das águas portuguesas»,
afirma.
O guia também
chama a atenção para espécies de interesse ecológico e económico,
algumas delas cada vez mais raras. Entre as mais relevantes estão
Gelidium
corneum,
usada na produção de agar, Gracilaria
gracilis,
sensível às variações de temperatura e salinidade, e Plocamium
cartilagineum,
que contém compostos com potencial farmacológico. No entanto, as
alterações climáticas estão a modificar as fronteiras de
distribuição destas espécies.
De acordo com
Leonel Pereira, as macroalgas de águas frias recuam para norte,
enquanto espécies subtropicais avançam e dominam zonas antes
temperadas.
«Paralelamente,
a chegada de espécies invasoras como Rugulopteryx
okamurae,
Asparagopsis
armata
e Sargassum
muticum
representa uma ameaça crescente à biodiversidade marinha e às
atividades económicas ligadas ao mar»,
alerta.
Para responder a
estes desafios, a investigação científica tem assumido um papel
decisivo. Estudos genéticos e ecológicos permitem identificar
espécies ameaçadas e acompanhar a evolução das comunidades ao
longo do tempo. Além do controlo e monitorização, há também um
esforço crescente de valorização da biomassa recolhida, através
do seu aproveitamento para a produção de bioplásticos, cosméticos
e compostos farmacêuticos.
É ainda de
destacar o papel crescente da ciência cidadã. Com o apoio de
plataformas digitais como iNaturalist e BioDiversity4All, qualquer
cidadão pode participar na identificação e registo de macroalgas
ao longo da costa, contribuindo para a monitorização de espécies e
alertando para eventuais mudanças nos ecossistemas. «Esta
colaboração entre cientistas e sociedade civil reforça a proteção
ambiental e promove uma maior consciência ecológica entre as
comunidades costeiras»,
conclui.
O
Guia Ilustrado
das Principais Macroalgas da Costa Atlântica Continental Portuguesa
está disponível para consulta aqui.
*Sara
Machado
Assessora
de Imprensa
Universidade
de Coimbra• Faculdade de Ciências e Tecnologia



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