quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Adolescentes Leitores

Adolescentes Leitores


Ler livros é uma actividade muito importante para a formação cultural e intelectual de qualquer pessoa. Os adolescentes, ou grande parte deles, lêem muito pouco, e na maioria das vezes somente os livros indicados pelas escolas. E, em uma sociedade como a que vivemos, onde a comunicação audiovisual é tão predominante, este hábito vem se tornando cada vez mais raro. Por que isso acontece?
A literatura infantil, assim como a leitura, enquanto fenómenos sociais, foram alvo de uma motivação maior quando da consolidação da classe burguesa e da economia capitalista, na Europa do século XVIII. Isso se deu por conta da necessidade de escolarização das massas operárias em ascensão e a industrialização da literatura, por intermédio do desenvolvimento dos novos meios de comunicação de massa. No Brasil, estes fenómenos começam a se reproduzir apenas na passagem do século XIX para o XX.

Segundo o Ministério da Educação, o brasileiro lê, em média, dois livros por ano, sendo um deles de cunho didáctico. Ou seja, anualmente, o brasileiro lê apenas um livro pelo simples prazer da leitura. Ao mesmo tempo, uma pesquisa feita por editores brasileiros constatou que a leitura é um hábito crescente na população mais jovem presente em 45% dos que têm entre 14 e 19 anos, 33% dos que têm 20 a 29 e 28% dos que estão na faixa dos 30 aos 39. Depois dos quarenta, o número de pessoas que leu um livro no último mês cai para 24%. É importante lembrar que nem sempre as estatísticas reflectem a realidade, uma vez que é raro conhecermos alguém que tenha sido consultado nessas pesquisas.
Afirma-se que existem algumas razões para a pouca leitura do brasileiro: seu baixo índice de escolaridade; o reduzido número de bibliotecas públicas e sua concentração nos grandes centros urbanos; o alto preço dos livros e o pouco estímulo dado à leitura pelas escolas. E mesmo entre as elites esta situação não é muito diferente. Encontramos neste caso, algumas outras explicações: a cultura capitalista nos ensina a aplicar todo o tempo na obtenção de lucro; a velocidade da informação, que em nosso século está cada vez mais vertiginosa; e a efervescência dos veículos literários destinados a agradar o mais confortavelmente possível os leitores, baixando assim o nível de esforço para ler, como no caso das revistas.

No caso dos adolescentes, há que se concordar que não é comum vê-los lendo um livro. Na sociedade actual, são os meios de comunicação os maiores influenciadores e ditadores do comportamento dos adolescentes. Para descobrir o que eles andam lendo, se gostam de ler, o que lêem, o que acham dos livros feitos para eles etc, foi feita uma actividade com alguns grupos de jovens entre 12 e 16 anos de classe média, todos estudantes de escolas particulares do Rio de Janeiro.
O que você lê?
Ah, eu até leio alguns livros, quando a escola manda. Tem alguns que eu não leio e na véspera da prova pego um resumo da história na internet ou peço pro mais nerd da turma me contar tudo. Mas gostar de ler livros, eu não gosto.
A adolescência é uma fase inquieta. É muito difícil para um jovem de 12, 13 anos sentar-se para ler um livro, por mais interessante e envolvente que a história seja, estando ele rodeado de tantas outras fontes de informação – a internet, a televisão, a música, etc - que são muito mais dinâmicas. Afinal de contas uma característica importante do adolescente é a sua capacidade de dividir a concentração. Eles conseguem ler um livro com o som e a tv ligados e ainda bater papo num chat na internet. Fazendo tantas coisas ao mesmo tempo, é natural que nenhuma delas seja muito bem feita e que a menos atraente seja deixada de lado depois de algum tempo.

Ah, então você tem amigos que lêem livros?
Tenho, claro! Mas como eu disse, são os mais nerds da turma. Fala sério, você acha que eu vou ficar lendo quando eu posso estar conversando com meus amigos, jogando bola, ou vídeo game? E tem outra coisa, se eu começasse a ler, todos iam achar que eu virei um nerd também.
No período da adolescência os amigos e "a turma" assumem um papel fundamental.
São os amigos da mesma idade e com as mesmas características que possibilitam ao jovem enfrentar as modificações em seu corpo e em seus sentimentos. São os integrantes da turma que entendem melhor suas ideias, têm os mesmos interesses, as mesmas aspirações e estão dispostos a enfrentar os mesmos desafios. A opinião do grupo importa muito, ás vezes mais do que a dos próprios pais.
O adolescente precisa fazer parte desse grupo.


Mas você não acha que a leitura é importante? Esses tais nerds, que você diz, são bons alunos?
Claro que é! E os nerds são mesmo os melhores alunos da turma. Eu sei que ler livros melhora o vocabulário, faz com que a gente escreva melhor… Quando eu leio um livro, imagino os cenários, as caras dos personagens, etc.
Apesar se saberem da importância da leitura, os jovens não têm paciência para sentar e ler um livro do início ao fim. Eles dizem que muitas vezes a história é chata, ou o livro tem muitas páginas e eles acham que nunca vão chegar ao fim, quando não acontece do filme sobre a história que estão lendo ser lançado no cinema. Neste caso, eles não pensam duas vezes e deixam o livro de lado.
Afinal, outro atributo comportamental é a pressa. Eles estão rodeados de novas informações e só assimilam aquilo que consideram essencial.
Mas então, o que você gosta mesmo de ler?
Revistas, blogs, gibis…
Por que?
Ah, porque eles são muito mais coloridos, não têm aquele texto gigante que fala sobre um assunto só, são muito mais fáceis de ler. Não preciso ler todas as páginas seguidas, posso pular uma ou outra quando não acho o assunto ou a história interessante… Acho que as revistas, os blogs e os gibis combinam muito mais comigo do que os livros, que são muito bobos ou então sérios demais.

Os adolescentes reclamam muito disso, do fato do livro não “falar a língua” deles. O escritor de ficção-científica Thomas M. Disch diz que "os jovens não são seres inferiores, nem miniadultos. São apenas diferentes dos adultos". Têm outras necessidades, outros interesses, outro humor, menos respeito pelo passado, muita curiosidade sobre o futuro, pouca paciência com regras que não criaram, imaginação fértil e muita pressa. Há muitos livros que são feitos para o público juvenil mas que por uma falha em seu projeto gráfico, acabam nem sendo abertos por um adolescente que, como a maioria das pessoas, é atraído ou não pela capa da publicação.
Nas obras para jovens a partir dos 12 anos, notamos um tratamento gráfico bastante diferente: a diagramação e tipos de letras se aproximam dos utilizados em livros para adultos. As ilustrações rareiam e a função estética predomina sobre a informativa; a cor é totalmente dispensável, à excepção da capa. Em termos de estilo, o discurso se adensa, joga com múltiplos sentidos e possibilidades, a trama se complica e aumenta o número de personagens. A linguagem coloquial é bastante privilegiada, apresentando registros de diversos níveis sociais e regiões. A acção dos personagens juntamente com o emprego do diálogo contribuem para o dinamismo da história.
Cabe ao design editorial contribuir para reverter essa tendência, buscando tornar os livros mais atraentes e fazendo com que sua leitura seja incentivada.
Entender a linguagem dos adolescentes e desenvolver livros com a “cara” deles pode fazer com que este público passe a ler mais, adquirindo mais cultura, conhecimento, experiências, desenvolvendo seu poder de imaginação etc. Não há maneira melhor de transmitir informação densa do que por meio de uma história. Por isso elas têm poder. E os livros incorporam esse poder. Cada livro lido tem a capacidade de nos transformar, e essa mudança passa a fazer parte da nossa história pessoal. A sequência das obras lidas por cada um é única, pessoal e intransferível.
O objectivo primordial da Literatura Infanto-Juvenil de hoje é despertar o hábito de ler, de uma forma lúdica e prazerosa, levando o leitor a ter um posicionamento crítico sobre si mesmo e sobre o mundo circundante.
A leitura, na nossa sociedade, é uma forma de dar voz ao cidadão e é preciso prepará-lo para tornar-se um sujeito no ato de ler. Quer dizer, o livro deve levar a uma leitura/interpretação da vida que ajude o indivíduo na transformação do mundo.

Fernanda Bergier Cardoso
Fonte: net a 2-10-2012

Bibliografia consultada
,Pondé, Glória. A arte de fazer artes – Como escrever histórias para crianças
        e adolescentes. Editora Nordica, Rio de Janeiro, 1985.
.http://paginas.terra.com.br/saude/montardo/indice/ind09.htm
.http://paginaseducacao.no.sapo.pt/educaradolescentes.htm
.http://www.adital.org.br/asp2/noticia.asp?idioma=PT&noticia=11868
.http://www1.folha.uol.com.br
.Declaração Universal dos Direitos da Criança
.Site do Proler
.Site da Casa de Leitura

.Entrevistas com educadores e escritores

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