sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Ética jornalística: um debate necessário

Na história contemporânea brasileira a imprensa venceu grandes percalços, como a censura, que mascarava a realidade, contribuindo sobremaneira para o avanço democrático no Brasil. Conquanto nesses 16 anos de imprensa livre, um outro problema surgiu nos meios de comunicação, a questão ética.

A sinergia entre comunicação e política é fruto do avanço dos meios de comunicação a partir do final do século XIX, intensificado sobremaneira desde o começo do século XX e que tende a consolidar-se, em princípio, no século XXI.

Essa imbricação desemboca na construção ou destruição da imagem pública de políticos. O interesse em estar, aparecer e influenciar a mídia, é proporcional ao personalismo de cada político, principalmente dos medalhões da política nacional.

No decorrer da história política brasileira vários políticos souberam criar fatos, que visaram consolidar suas imagens públicas. A cobertura jornalística sobre política no Brasil sempre foi conceituada como exagerada, pois com a efervescência que ergue-se sobre os meios de comunicação, cada declaração ou gesto de políticos notórios é reproduzida pelos jornais, televisões, emissoras de rádio e Internet, sem contudo, representar algo de novo.

Conquanto, um dos organismos responsáveis pela volta da democracia e da liberdade de expressão, foram os meios de comunicação, principalmente a partir de 1984, quando ocorreu a mobilização pelas “directas já”, que reivindicava eleições directas para presidente da República.
 
Actualmente, aparecer é inevitável é para alguns políticos, quanto mais, melhor, suas declarações são proporcionais as fotos, o que vale é sua imagem estampada, de preferência na primeira página. Os meios de comunicação se empanturram e se sustentam com essas fontes.

Então, como é que fica a questão ética nesse contexto? Infelizmente, a ética de alguns jornalistas e de algumas empresas confundem-se com interesses escusos de políticos. Princípio básico: o jornalista escreve para o seu leitor, o exercício de um jornalismo sério e ético é a pedra de toque do contrato com os leitores.

A imprensa hoje, mais do que em qualquer época, esta sendo pautada pelas informações vazadas e pelas declarações em off (termo que faz parte do jargão jornalístico), que pululam “no colo da imprensa”, vindas dos gabinetes do poder. Informações que visam denegrir a imagem de outros políticos, é são publicadas baseadas nas suas declarações, sem que com isso, os jornalistas procurem verificar a veracidade dessas informações.

O jornalismo baseado no denuncismo só tem uma explicação: a guerra pela audiência, quantas primeiras capas as revistas conseguiram ou quantas primeiras páginas os jornais publicaram. Sobram acusações, mas faltam investigações e análises das denúncias.

A mídia precisa deixar de olhar o que um concorrente está fazendo para conseguir os furos de reportagens, pois, muitas vezes, não passam de puro denuncismo. O jornalismo de qualidade não é feito informações vazadas ou de declarações vil, mas sim, na apuração exaustiva do fato.    

Não pode haver entrelaçamento entre jornalista ou veículo de comunicação com partidos políticos ou políticos, pois as visões subjectivas de ambos não podem distorcer os relatos dos fatos.

Felizmente, parece que os cidadãos e alguns sectores da mídia estão cansados do princípio de que os fins justificam os meios. Recentemente o trabalho sério da mídia, com investigação, apuração precisa e isenção jornalística revelou-se de suma importância na luta contra a impunidade.

Aos poucos a Câmara dos Deputados e o Senado, lugar frequentado pelos mais respeitados homens públicos do país, como Prudente de Moraes, Rui Barbosa, entre outros, caminham, a passos lentos, é bem verdade, mas andam no sentido de moralizar a política nacional.

Há um ano o ex-senador, Luiz Estevão foi o primeiro senador da história da República a ter o mandato parlamentar cassado pelo Senado. Recentemente outros dois ex-senadores, António Carlos Magalhães e José Roberto Arruda optaram pela renúncia para não ter o mesmo destino do colega de senado.

As informações precisas e isentas são a base da sociedade democrática. O jornalismo investigativo deve procurá-las, para existir um controle ético da notícia.

MAURICIO GUIDANI ROMANINI


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