Na história contemporânea brasileira a
imprensa venceu grandes percalços, como a censura, que mascarava a realidade,
contribuindo sobremaneira para o avanço democrático no Brasil. Conquanto nesses
16 anos de imprensa livre, um outro problema surgiu nos meios de comunicação, a
questão ética.
A sinergia entre comunicação e política
é fruto do avanço dos meios de comunicação a partir do final do século XIX,
intensificado sobremaneira desde o começo do século XX e que tende a
consolidar-se, em princípio, no século XXI.
Essa imbricação desemboca na construção
ou destruição da imagem pública de políticos. O interesse em estar, aparecer e
influenciar a mídia, é proporcional ao personalismo de cada político, principalmente
dos medalhões da política nacional.
No decorrer da história política
brasileira vários políticos souberam criar fatos, que visaram consolidar suas
imagens públicas. A cobertura jornalística sobre política no Brasil sempre foi
conceituada como exagerada, pois com a efervescência que ergue-se sobre os
meios de comunicação, cada declaração ou gesto de políticos notórios é
reproduzida pelos jornais, televisões, emissoras de rádio e Internet, sem
contudo, representar algo de novo.
Conquanto, um dos organismos
responsáveis pela volta da democracia e da liberdade de expressão, foram os
meios de comunicação, principalmente a partir de 1984, quando ocorreu a
mobilização pelas “directas já”, que reivindicava eleições directas para
presidente da República.
Actualmente, aparecer é inevitável é
para alguns políticos, quanto mais, melhor, suas declarações são proporcionais
as fotos, o que vale é sua imagem estampada, de preferência na primeira página.
Os meios de comunicação se empanturram e se sustentam com essas fontes.
Então, como é que fica a questão ética
nesse contexto? Infelizmente, a ética de alguns jornalistas e de algumas
empresas confundem-se com interesses escusos de políticos. Princípio básico: o
jornalista escreve para o seu leitor, o exercício de um jornalismo sério e
ético é a pedra de toque do contrato com os leitores.
A imprensa hoje, mais do que em qualquer
época, esta sendo pautada pelas informações vazadas e pelas declarações em off
(termo que faz parte do jargão jornalístico), que pululam “no colo da
imprensa”, vindas dos gabinetes do poder. Informações que visam denegrir a
imagem de outros políticos, é são publicadas baseadas nas suas declarações, sem
que com isso, os jornalistas procurem verificar a veracidade dessas
informações.
O jornalismo baseado no denuncismo só
tem uma explicação: a guerra pela audiência, quantas primeiras capas as
revistas conseguiram ou quantas primeiras páginas os jornais publicaram. Sobram
acusações, mas faltam investigações e análises das denúncias.
A mídia precisa deixar de olhar o que um
concorrente está fazendo para conseguir os furos de reportagens, pois, muitas
vezes, não passam de puro denuncismo. O jornalismo de qualidade não é feito
informações vazadas ou de declarações vil, mas sim, na apuração exaustiva do
fato.
Não pode haver entrelaçamento entre
jornalista ou veículo de comunicação com partidos políticos ou políticos, pois
as visões subjectivas de ambos não podem distorcer os relatos dos fatos.
Felizmente, parece que os cidadãos e
alguns sectores da mídia estão cansados do princípio de que os fins justificam
os meios. Recentemente o trabalho sério da mídia, com investigação, apuração
precisa e isenção jornalística revelou-se de suma importância na luta contra a
impunidade.
Aos poucos a Câmara dos Deputados e o
Senado, lugar frequentado pelos mais respeitados homens públicos do país, como
Prudente de Moraes, Rui Barbosa, entre outros, caminham, a passos lentos, é bem
verdade, mas andam no sentido de moralizar a política nacional.
Há um ano o ex-senador, Luiz Estevão foi
o primeiro senador da história da República a ter o mandato parlamentar cassado
pelo Senado. Recentemente outros dois ex-senadores, António Carlos Magalhães e
José Roberto Arruda optaram pela renúncia para não ter o mesmo destino do
colega de senado.
As informações precisas e isentas são a
base da sociedade democrática. O jornalismo investigativo deve procurá-las,
para existir um controle ético da notícia.
MAURICIO GUIDANI ROMANINI
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