quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Macroscópio – Alguns documentos e algumas divagações

Macroscópio

Por José Manuel Fernandes, Publisher
Boa noite!


Hoje não vou regressar ao tema do Orçamento do Estado para 2016 e das relações de Portugal com a Comissão Europeia e o FMI. Enquanto esperamos pelo documento final, que o ministro das Finanças deverá apresentar amanhã à tarde, fico-me apenas por referências aos documentos que foram hoje publicados sobre as perspectivas económicas e orçamentais para Portugal. A seguir passaremos a outras leituras.

Aqui ficam pois, para memória futura, o que essas duas instituições consideraram:
Primeiro, as notícias em que se sintetiza o essencial dos documentos: FMI e Comissão prevêem cenário sombrio. Governo diz que estão desatualizados, onde se junta toda a informação relevante; Bruxelas: Défice sobe para 3,4% este ano, economia só cresce 1,6%, com as perspectivas da Comissão Europeia; e FMI prevê défice de 3,2% e economia a crescer menos do que em 2015, com o resumo da terceira monotorização pós-resgate realizada ao nosso país por técnicos do Fundo.
Depois, os documentos, para que os leitores do Macroscópio possam consultá-los directamente: os do FMI – Portugal—Concluding Statement of the Third Post-Program Monitoring Discussions e Portugal: Selected Economic Indicators – e os da Comissão Europeia – European Economic Forecast Winter 2016;
Winter 2016 Economic Forecast: Weathering new challenges e
Portugal: Selected Economic Indicators.

Agora ficamos à espera do mais importante, mas será matéria para os próximos Macroscópios. Até lá deixo-os com uma miscelânea de escolhas bastante variada.

Da imprensa portuguesa dos últimos dias seleccionei dois balanços, mas que não podiam ser mais diferentes. O primeiro saiu no Expresso e é um longo trabalho que saiu no Expresso, de Luísa Meireles, onde a autora relembra como foram os dois mandatos de Cavaco Silva: Retrato de um Presidente mal-amado. Nele se procura responder às perplexidades gerados por um autêntico fenómeno político chamado Cavaco: “Foi o político que mais tempo se manteve no poder, como primeiro-ministro e como Presidente da República, e o único que conquistou quatro maiorias absolutas, e as das presidenciais logo à primeira volta. Ao fim de dez anos, abandona, porém, o cargo de Supremo Magistrado da Nação como o menos ‘amado’ dos Presidentes.”

Ao mesmo tempo que no semanário se começa a preparar a despedida do político português que mais sucesso eleitoral teve em toda a nossa história democrática, o outro balanço de que lhes falei saiu aqui no Observador e é mais caseiro e assumidamente mais ligeiro: é a celebração do primeiro aniversário da nossa secção de LifeStyle. Em 1 ano de Lifestyle, 10 artigos para recordara editora, Ana Dias Ferreira, recorda alguns textos mais marcantes e, ao mesmo tempo, representativos da diversidade de uma secção que os nossos leitores têm acarinhado desde o seu lançamento. São eles: Sim, os gatos têm emoções. Aqui estão 20, em fotografiasQuanto custa ter um restaurante com estrela Michelin?Será que as nossas crianças têm brinquedos a mais?;Da Comporta a Odeceixe: a Costa Alentejana em 20 paragens;Como ficar em forma em 10 minutosPorque gostamos tanto dos anos 80?Em todo o lado, só vemos rabosCollants opacos, sim ou não?Homens a experimentar maquilhagem pela primeira vez? Ora veja e O que aprendi com o “speed dating”. É apenas uma amostra, uns gostarão, outros desdenharão, mas todos verão que há muita coisa que já não precisamos de dizer que só lemos porque estava numa revista na sala de espera do dentista…

Vamos agora a outros temas, continuando neste registo de alternar uns mais densos com outros mais divertidos. Como disse, é uma selecção sem qualquuer fio condutor para além de terem sido artigos que achei interessantes ou merecedores da atenção dos leitores do Macroscópio:
  • José Calvo Sotelo, el diputado asesinado antes de la Guerra Civil, uma evocação histórica realizada pelo El Mundo onde se recorda a figura do político de direita cujo assassinato acabaria por funcionar como detonador da Guerra Civil espanhola. O pretexto próximo é a intenção da liderança municipal, próxima do Podemos, pretender retirar uma estátua de Calvo Sotelo de uma praça de Madrid. Isto apesar de, escreve o El Mundo, “El hispanista Paul Preston, consideró que, a diferencia de las muchas nulidades que utilizó Franco más tarde, hubiera impuesto su personalidad en la posguerra”. (A propósito: o último Conversas à Quinta, a minha conserva semanal com Jaime Gama e Jaime Nogueira Pinto foi precisamente sobre este período da história de Espanha: Há 80 anos, a Frente Popular em Espanha. E agora?, podcast aqui.)
  • Why it would be wise to prepare for the next recession, um texto algo pessimista do principal comentador económico do Financial Times, Martin Wolf, que está preocupado por faltarem aos bancos centrais mais instrumentos para combaterem qualquer quebra económica: “At this stage it is crucial to recognise the great likelihood that something even more unconventional might have to be done next time. So prepare the ground beforehand. Central banks should be filling in these blanks now, not after the next recession hits.”
  • The Long Shadow Of Malthus pode funcionar como uma espécie de contraponto, por foi escrito na Standpoint por um optimista inveterado, Matt Ridley (autor, de resto, do livroThe Racional Optimist). Nesse pequeno ensaio recorda as muitas previsões pessimistas que, desde Malthus, anunciaram vários “fins do Mundo” e erraram sempre. Ridley critica especialmente o eterno regresso das políticas de controlo da natalidade: “We now know that Malthusian misanthropy — the notion that you should harden your heart, approve of famine and disease, feel ashamed of pity and compassion, for the good of the race — was wrong pragmatically as well as morally. The right thing to do about poor, hungry and fecund people always was, and still is, to give them hope, opportunity, freedom, education, food and medicine, including of course voluntary contraception, for not only will that make them happier, it will enable them to have smaller families.” 
  • Crippled EU is no longer the 'anarcho-imperial monster' we once feared, um curioso (e sintomático) artigo de um colunista do Telegraph muito nosso conhecido pelos seus textos provocatórios e eurocépticos, Ambrose Evans-Pritchard. Vale a pena perceber porque acha que “The European Project flamed out as a motivating force in history long ago and is descending into existential crisis. All illusions that the EU can run as a centralised political union have died”, sendo que “The point of maximum danger for British parliamentary democracy was 13 years ago, the high-water mark of EU hubris and triumphalism.” Um texto a ler com atenção no quadro da discussão sobre o “brexit”.
  • Join us or die: the birth of Boko Haram, uma grande reportagem que é também um extrato de livro e que foi publicada no Guardian, contando como nasceu e cresceu aquele grupo radical que tem espalhado o terror na África Central. Pequena passagem: “The fate that met those who did not go with Boko Haram was discovered by Amnesty International: 645 people who refused join the militants were rounded up and executed, then dumped in a mass grave. For many, like Zakariyya, it must have seemed that their destiny was to join Boko Haram or die.”
  • Bernie Sanders and the New Populism, uma análise de John Cassidy na New Yorker sobre o senador de Vermont que está a perturbar o que se previa ser uma marcha tranquila de Hillary Clinton até à Casa Branca. Eis um alerta que deixa: “If you look at the rise of populism in other countries, you will find that urging people to be realistic is a common reaction from establishment politicians and their supporters. It is a risky response, though. Trotted out too often, or too vehemently, it can make those who rely on it sound suspiciously like one of the “mothers and fathers” that Bob Dylan addressed back in 1964—those people whose “order is rapidly fadin’,” whose “old road is rapidly agin’,” and who, finally, are bid, “Please get out of the new one if you can’t lend your hand.” That, of course, is something no politician wants to hear, especially one who came of age in the sixties.”
  • Unpublished Black History é uma sugestão para terminar o Macroscópio de hoje. Trata-se de uma descida aos arquivos do New York Times à procura de fotografias da América Negra que o jornal nunca tinha publicado. Há algumas imagens magníficas (como as que reproduzimos a abrir e a fechar esta newsletter) que mostram como o fotojornalismo pode ser uma arte maior.


E por hoje é tudo. Despeço-me com desejos de que descansem bem, pois teremos muitos números para digerir nos próximos dias. Para dirigir e para perceber. Até amanhã.

 
Mais pessoas vão gostar da Macroscópio. Partilhe:
no Facebook no Twitter por e-mail
Leia as últimas
em observador.pt
Observador
©2015 Observador On Time, S.A.
Rua Luz Soriano, n. 67, Lisboa

Nenhum comentário:

Postar um comentário