sábado, 16 de abril de 2016

Com dois milhões de obras, a biblioteca da Universidade de Coimbra suscita sempre surpresas

Imagem:unejovem
Na Biblioteca da Universidade de Coimbra é possível encontrar uma bíblia da Idade Média, a primeira edição d'Os Lusíadas ou as diferentes versões de Frei Luís de Sousa e de Garrett, num espaço pródigo em surpresas e novas descobertas.
Nos quase dois milhões de monografias que a Universidade de Coimbra tem, há muitos livros de que a instituição se orgulha. Na biblioteca universitária mais bem provida do mundo lusófono, é possível encontrar pedaços de história, livros curiosos e marcos da literatura portuguesa.
O diretor da Biblioteca Geral, José Augusto Bernardes, poderia passar certamente um dia inteiro a falar dos tesouros que aquele espaço guarda. São muitos e variados.
O livro foi este ano escolhido como tema da Semana Cultural da Universidade de Coimbra, instituição onde este objeto foi sempre elemento central, e cuja decisão de o destacar é de grande coragem, num momento em que há quem pense que o tempo dos livros passou, disse à agência Lusa o diretor da biblioteca.
O primeiro livro que José Augusto Bernardes destaca é a bíblia "gigante, atlântica", "do tempo de D. Afonso Henriques", do século XII.
Na Sala de São Pedro, a bíblia surge ao lado de um "e-reader" de 2016, com "800 anos de livros" a separar os dois, diferentes no suporte e tamanho, mas que têm igual espaço numa biblioteca com 500 anos de funcionamento contínuo, onde é possível encontrar livros da Idade Média até obras "que chegaram ontem".
Outra menina dos olhos de Augusto Bernardes é a primeira edição de Os Lusíadas, a que se junta uma edição autográfica da obra de Camões, em que várias personalidades portuguesas do século XIX, como Eça de Queirós ou o Rei D. Carlos I, assinam uma das 1.102 estâncias da epopeia portuguesa.
"É um livro enorme, muito parecido em termos de envergadura com a bíblia atlântica", e que une "monárquicos e republicanos", numa conjugação de esforços "de que só Camões é capaz", carregando também o simbolismo de "emprestar" ao poeta "a caligrafia que não nos legou", realça.
No entanto, há outros livros que não se destacam pela "preciosidade e valor" que ostentam, "mas pela curiosidade". São "livros que estão à espera que os interroguem e que os expliquem", afirma José Augusto Bernardes, apontando para o Livro de Lembranças dos Planetas, escrito por um monge no Convento dos Eremitas da Serra de Ossa, no Alentejo, no século XVI.
O diretor adjunto da biblioteca, Maia Amaral, diz que é um livro que tem suscitado paixões.
Rico em cor e interativo (com componentes que se podem mover), o livro fala de astronomia e astrologia, mas também de "coisas várias curiosas", como a indicação da hora do dia mais adequada para certos tratamentos ou um truque com as mãos para descobrir as datas de festas móveis.
Outro livro que desperta o interesse do bibliotecário que está neste espaço desde 1986 é uma obra a que chama de "verdadeiro falso", do século XVIII, e que era usado para difundir mentiras sobre a Companhia de Jesus. A obra tem uma encadernação de cinto, que os eclesiásticos usavam, e sofreu um processo de envelhecimento para fazer crer que tinha sido usado pelos jesuítas.
Mas para Maia Amaral, o mais fascinante da Biblioteca Geral "são as descobertas que se podem fazer com espólios".
Ao todo são 47, o mais conhecido é o de Almeida Garrett, e neles é possível encontrar "a vida de trabalho, mas também as contas por pagar, as listas da roupa para a lavadeira, interesses e contas por fazer", num "olhar quase voyeurista das pessoas".
"É quase um mundo que se vai desdobrando", sublinha.
O mais difícil é "escolher os tesouros", numa biblioteca tão cheia deles, alguns ainda por descobrir.
Augusto Bernardes corrobora: "esta casa é pródiga" em dar surpresas.
Alguns dos "tesouros" da Biblioteca estão em exposição até dia 29.
Fonte: Lusa

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