Ana Sá Lopes - jornal i, opinião
Quando Wolfgang Schäuble, o todo-poderoso ministro alemão das Finanças, voltou, numa intervenção recente, a fustigar Portugal e a defender sanções, fê-lo para desviar as atenções do caos que se vive num dos bancos principais do sistema financeiro alemão
Esta semana, a revista “The Economist” dedica um texto discreto às desgraças do Deustche Bank. Quatro linhas antes do final do texto, o jornalista escreve uma frase terrível: “Se fosse uma empresa normal, o Deustche Bank tinha falido.” Segundo as contas que o i faz nesta edição, o outrora gigante alemão desvalorizou 60% em apenas um ano. A Standard & Poors baixou o rating do Deustche Bank de “estável” para “negativo”. Uma machadada no banco que até aqui em Portugal, quando se desencadeou a crise financeira, foi considerado por muitos como o “banco de resguardo” face às dificuldades sentidas nos bancos nacionais, onde se destaca o desaparecimento do BES às mãos de um gang financeiro liderado por Ricardo Salgado. [Pequena adenda: Paulo Padrão, depois de ter assessorado Ricardo Salgado nas suas malfeitorias contra o sistema financeiro português, aparece agora como um dos principais rostos de um novo jornal económico. É uma prova de que vivemos num país sem vergonha.]
A velha banca, aqui, na Itália e na Alemanha sofreu uma metamorfose nos anos de loucura financeira. Se o nosso sistema bancário praticamente desapareceu tal como era, as notícias que vêm de Itália ameaçam a estabilidade de toda a União Europeia. Mas que o monstro chegasse à Alemanha, a terra das “boas contas”, em que “dívida” e “culpa” são a mesma palavra, era difícil de imaginar. E, no entanto, o monstro está lá.
Quando Wolfgang Schäuble, o todo-poderoso ministro alemão das Finanças, voltou, numa intervenção recente, a fustigar Portugal e a defender sanções, fê-lo para desviar as atenções do caos que se vive num dos bancos principais do sistema financeiro alemão. Um jornalista perguntou pelo Deutsche Bank, Schäuble respondeu com Portugal. A conversa das sanções dá imenso jeito para disfarçar os problemas da banca no centro da Europa. É demasiado estúpida perante o furacão que se avizinha.
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