Apesar de a sociedade alimentar a ideia de que devemos ser produtivos e procurar a excelência e que a mediocridade é má e deve ser evitada, a maioria das pessoas vive o que pode ser chamado de uma vida comum. No entanto, cada vez mais pessoas abraçam a mediocridade – e isso não é necessariamente mau.
Os italianos Gloria Origgi, investigadora e filósofa no Instituto Jean Nicod, em Paris, eDiego Gambetta, professor de sociologia na Universidade de Oxford, no Reino Unido, resolveram estudar como a vida funciona de forma diferente em Itália e em países como França ou o Reino Unido.
No estudo da Universidade de Oxford sobre o que chamam de “kakonomia” – “kakos” é a palavra em grego antigo que significa “mau” -, o ponto de partida é que, muitas vezes, os indivíduos conspiram, conscientemente ou não, para alcançar o menor resultado possível: o mais medíocre.
A busca pelo resultado mais medíocre possível parece ter que ver com um número cada vez maior de pessoas que rejeitam o que é percebido como uma tirania da excelência.
“Às vezes, toda essa retórica sobre eficiência é simplesmente insuportável. Às vezes as pessoas gostam de poder relaxar”, explica Gloria Origgi à BBC.
Talvez isso explique a tentação da dolce vita italiana, um estilo de vida mais sossegado. Por outro lado, la dolce vita tem um preço, nomeadamente o sacrifício de padrões de qualidade superiores.
“Para nós o conceito de ‘bom’ já é suficiente. Queremos ser pessoas medianas”, afirmou à New Yorker um fabricante de azeite italiano chamado Leonardo Marseglia, que na década de 90 foi acusado de fraude na década de 1990 por vender azeite comum com rótulo de extra virgem.
Sinceridade
Krista O’Reilly Davi-Digui, que mora no Canadá com o marido e três filhos, fala com sinceridade sobre a sua mediocridade.
“Quando digo que sou medíocre, é porque eu sou”, diz a autora, que escreve sobre o tema em seu blog.
“Adoro aprender, mas não sou a pessoa mais inteligente. Gosto de escrever, mas isso não significa que seja a melhor escritora. Sou apenas normal“, admite.
Davi-Digui abandonou o Ensino Superior, onde estudava Pedagogia, depois de sofrer com ansiedade e depressão. Hoje, é nutricionista holística e “educadora para uma vida com alegria”.
“As mensagens que estamos sempre a receber são sempre para fazer mais, para ser mais, para sacrificar o sono por causa da produtividade, que maior é melhor, pressa, pressa, pressa”, diz à BBC.
“Isso acaba comigo. Sinto que isso não é vida, não quero isso e não consigo nem começar a acompanhar esse ritmo. Há tantos de nós que querem simplesmente sair desta roda para hamsters e apenas respirar”, desabafa.
Redes sociais
Para algumas pessoas, o trabalho duro pode levar ao sucesso. Mas e quando isso não acontece? E se todo o trabalho se revelar apenas perda de tempo?
Mark Manson escreve sobre desenvolvimento pessoal e começou a notar que, entre os milhares de emails que recebe, muitas pessoas pediam conselhos sobre coisas que não podiam ser consideradas problemas.
As pessoas mostravam-se preocupadas com o que poderiam alcançar na vida e com a possibilidade de não se destacarem na profissão que escolheram. “O facto é queelas conquistam os mesmos 99% que todos nós“, pondera o blogger.
Manson argumenta que o problema é piorado pelas redes sociais: somos constantemente expostos aos melhores momentos das vidas das pessoas e isso faz com que acreditemos que não estamos a aproveitar o nosso tempo da melhor forma possível.
“Como objetivo, a mediocridade é uma porcaria… mas como resultado é OK“, afirma o blogger.
Baixas expectativas
A conclusão de Manson é parecida com a do estudo de Gloria Origgi e Diego Gambetta, cujos resultados foram publicados em fevereiro de 2013 na Politics Philosophy Economics.
Origgi recorda da experiência de um amigo americano que estava a reformar uma casa em Itália. Os pedreiros nunca entregavam nada no prazo, mas também não esperavam o pagamento em dia, e assim os dois lados saíam a ganhar.
O único problema é que a reforma nunca foi terminada – um desfecho provavelmente diferente do esperado pelo amigo americano.
No entanto, este resultado apontou para o “acordo” subjacente nesse tipo de situação: desistir de atingir padrões mais altos para, em troca, ganhar flexibilidade e uma vida mais fácil e sossegada.
ZAP / BBC
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