Por Rafaela Iara*
A maternidade, para muitas mulheres, é desejada e motivo de muita alegria, porém, em alguns casos esse período é muito difícil, e as mães podem desenvolver a depressão pós-parto.
O Pesquisador Saraiva aponta que nos últimos vinte anos constata-se que no período da gravidez, o nascimento do bebê e após o parto, algumas mulheres, podem apresentar problemas de humor , e também desenvolver a depressão.
Ser mãe perfeita: uma obrigação imposta pela sociedade.
As pesquisadoras Evelyn Rúbia de Albuquerque Saraiva e Maria da Penha de Lima Coutinho ressaltam que, ao longo do desenvolvimento da sociedade, criou-se a cultura que a maternidade é inata à mulher. Ou seja, ela já nasce com um “instinto” para ser mãe e para amar o filho acima de tudo, Já na infância as meninas brincam de boneca, treinando o papel de ser boas mães. Elas possuem o papel de ser capazes de fazer sacrifícios para suprir as necessidades do bebê (físicas e psicológicas). Além do mais, têm que ser acolhedoras, ternas, tranquilas, equilibradas, compreensivas, e femininas em tempo integral.
Nesse contexto cria-se a falsa expectativa que toda mulher é a pessoa mais capacitada para cuidar do seu bebê. Espera-se um ideal, um modelo de mãe perfeita, incapaz de não amar o filho e de lhe dispensa qualquer cuidado necessário. Porém, quando nasce um filho, a maioria das mulheres têm sentimentos contrários em relação o que é culturamente aceitável. Então, nesse momento as mulheres passam pela experiência do conflito entre o ideal e a situação real, e começa um sofrimento psíquico que pode se desenvolver para uma depressão pós-parto.
Não ignore os sintomas
É comum que os sintomas da depressão pós-parto sejam ignorados pela própria mãe, companheiro, amigos e familiares, confundindo esse fato com o estresse natural do período pós-parto, cousado pelo acúmulo de tarefas domésticas e pelos cuidados dispensados ao bebê. Porém é de extrema importância que a mulher, o parceiro, a família e amigos ficarem atentos aos sintomas:
- · Irritabilidade,
- · Choro frequente,
- · Sentimento de desamparo,
- · Desesperança,
- · Falta de energia e de motivação,
- · Desinteresse sexual,
- · Vontade de comer mais os menos que o habitual,
- · Falta de sono ou sono excessivo,
- · Sensação de ser incapaz de lidar com novas situações,
- · Queixas de dores pelo corpo,
- · Pensamento negativo em relação ao bebê,
- · Pensamentos suicidas.
É comum as mães passarem por dias ruins. Porém, quando a mulher apresenta cinco ou mais sintomas dos sintomas citados acima, e eles perduram por duas semanas, deve-se ter atenção, pois a mãe, possivelmente, pode estar com depressão pós- parto e precisa de ajuda e tratamento.
Mais frequente que você imagina
Estudos apontam que a depressão pós-parto em dados internacionais é caracterizada como um transtorno que afeta 10% das mulheres que estão no período pós-parto, no Brasil esse número tem um aumento significativo, passando para 24% a 37% das mães em pós-parto.
Algumas características que são significativas para o desenvolvimento da depressão pós-parto:
- · História de quadro depressivo durante a vida da mãe,
- · Presença de complicações obstétricas durante a gravidez,
- · Vivência de situação de estresse na gravidez,
- · Presença de sintomas depressivos ou ansiosos durante a gravidez,
- · Ocorrência de complicações no pós-parto,
- · Ausência de suporte da família e amigos no pós-parto,
- · Presença de dificuldades financeiras no pós-parto,
- · Presença de estresse no cuidado do bebê no pós-parto,
- · História de sintomas depressivos e ansiosos no período pré-menstrual,
- · Presença de sintomas depressivos no pós-parto,
- · Conflito conjugal.
Apoio do companheiro: um importante efeito protetor
A relação conjugal da mãe em período pós-parto precisa ser saudável, pois é um dos relacionamentos mais importantes para ela. Os pesquisadores Dessaulles, Johnson e Denton ressaltam que, pessoas com conflito conjugal têm de 4 a 25 mais risco de apresentar depressão em relação às pessoas que não descrevem possuir essa insatisfação conjugal. Portanto, quanto mais apoio a mãe tiver do marido ou companheiro, menor a chance dela apresentar a depressão pós-parto. Ou seja, esse apoio pode ter um efeito protetor para a saúde mental da mãe após o nascimento do bebê.
Sou mãe solteira, então tenho mais chances de ter depressão pós-parto?
Não necessariamente ser mãe solteira é prevalência para desenvolver a depressão pós-parto. Porém, é essencial para a mulher receber esse apoio após o nascimento do bebê, seja da família, amigos e da própria sociedade em geral.
Tratamento
É normal que a mulher sinta vergonha e relutante para admitir que estar com dificuldades após o nascimento do bebê. Por esse motivo, é importante que ela tenha ajuda e atenção da família, cônjuge e amigos para identificar os sintomas e procurar tratamento.
A psicoterapia é um importante tratamento que a mulher precisa aderir. Nesse tratamento ela irá trabalhar as questões psicológicas relacionadas ao período pós-parto, e também as questões da sua vida em geral. Através das sessões de psicoterapia, a mulher se tornará mais fortalecida e sentirá mais capaz de enfrentar os problemas, superando esse período conturbado.
Também pode ser necessário o tratamento com antidepressivos, devidamente prescrito pelo médico. O tratamento medicamentoso pode ter duração de seis meses a um ano, e é possível verificar a melhora a partir da quarta semana após o inicio do tratamento.
Assim, depressão pós-parto é um transtorno que acomete muitas mulheres em todo o mundo. Quando não tratada, a depressão pós-parto pode interferir no vínculo mãe-filho e causar problemas familiares. Dessa forma, é de extrema importância que a mulher procure ajuda assim que identificar os primeiros sintomas, e tenha o apoio da família, amigos e companheiro.
*Rafaela Iara é estudante de psicologia, escritora de textos relacionados à saúde mental e apaixonada pelo o que estuda. Está na reta final do curso, pretende continuar escrevendo e trabalhar com atendimento clínico, após a conclusão de sua graduação.
Referência:
AZEVEDO, Kátia Rosa Azevedo; ARRAIS, Alessandra da Rocha. O mito da mãe exclusiva e seu impacto na depressão pós-parto. Psicol. Reflex. Crit. v.19 n.2. Porto Alegre, 2006. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid= S0102-79722006000200013&lng= pt&nrm=iso. Acesso em: 02 de janeiro de 2017.
FRIZZO, Giana Bitencourt Frizzo; et al.Depressão pós-parto: evidências a partir de dois casos clínicos.Psicol. Reflex. Crit. vol.23 no.1. Porto Alegre, jan.- abr. 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid= S0102-79722010000100007&lng= pt&nrm=iso. Acesso em 02 de janeiro de 2017.
SARAIVA, Evelyn Rúbia de Albuquerque; COUTINHO Maria da Penha de Lima. O sofrimento psíquico no puerpério: um estudo psicossociológico. Rev. Mal-Estar Subj. v.8 n.2. Fortaleza, junho de 2008. Disponível em:http://pepsic.bvsalud.org/ scielo.php?script=sci_arttext& pid=S1518-61482008000200011& lng=pt&nrm=iso. Acesso em 02 de janeiro de 2017.
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