terça-feira, 10 de janeiro de 2017

O dilema da nacionalização


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O PS já prepara o terreno político para uma nacionalização do Novo Banco, sinal de que esta está longe de ser uma hipótese remota. O problema é que, chegados a este ponto, já nenhuma solução é boa.
André  Veríssimo

André Veríssimo 10 de Janeiro de 2017 às 00:01
Há um aspecto que nunca é demais vincar, porque ele é fundador de tudo o resto que vem a seguir: ao contrário do que a divisão entre banco bom e mau sugeria, ou a injecção de 4,9 mil milhões de euros prometia, o Novo Banco não nasceu limpo e puro. Em proporções diferentes, ele padece dos mesmos problemas de malparado e activos pouco ou nada rentáveis que atormentam o resto do sistema financeiro português. Os mesmos que estão por trás do aumento de capital de 1,3 mil milhões anunciado ontem pelo BCP ou dos 5 mil milhões previstos para a Caixa.

O Novo Banco não foi vendido no final de 2015 porque não havia quem quisesse pagar, nem de perto, o que custou criá-lo. Era preciso descontar no preço um mundo de contingências e riscos. A situação repete-se agora. Na corrida ao que ficou do segundo maior banco privado português sobram dois fundos de capital de risco especializados em activos problemáticos, para quem não basta um preço baixo: querem uma garantia do Estado contra perdas futuras na carteira de crédito. Não são as propostas que são "vexatórias", como lhes chamou Carlos César, é o estado ainda débil do sistema financeiro e da economia que o é. A falta de qualidade das propostas é isso que atesta.

O Governo está perante um dilema, que não é fácil de resolver. Se vender o Novo Banco por um valor simbólico e com garantias de Estado, será alvo de críticas, inclusive dos partidos à esquerda do PS. Se o nacionalizar, terá de explicar aos portugueses porque vai meter mais dinheiro na banca, depois de o primeiro-ministro ter dito que o Banif seria caso único e derradeiro. O partido já ensaia a defesa: o deputado João Galamba veio dizer que uma nacionalização "não traz novos custos", apenas reconhece os que "sempre existiram" e resultam de uma decisão do tempo de Passos Coelho. Como se não houvesse alternativa.


A Lone Star ou a Apollo/Centerbridge só entrarão no negócio se virem muito boas hipóteses de com ele ganharem dinheiro. Sendo assim, não é preferível ficar o Estado (e não o Fundo de Resolução) com o banco e vendê-lo mais tarde? Economicamente pode até fazer sentido. Mas tem vários contras: significaria mais défice e mais dívida, duas coisas de que Portugal tem de fugir como quem foge do diabo; abriria nova guerra com Bruxelas; nada garante um encaixe satisfatório numa futura privatização, e ficariam os contribuinte com o ónus de uma eventual deterioração das condições do banco. Além do mais, o Estado será sempre pior a gerir um activo como o Novo Banco, nas actuais circunstâncias, do que uma Lone Star ou Apollo.

Nenhuma solução é boa, mas a menos má seria arrumar já o assunto vendendo o banco, se possível sem prestar garantias. Esperar por tempos melhores não resolveu, só agravou. E o Estado, além de não ter jeito para "abutre", tem um "track record" de incursões na banca que deixam os bolsos dos contribuintes a arder.

Fonte: Jornaldenegocios

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