sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Eu, Psicóloga: Viés de confirmação : quando eu acredito no que quero


O EQUÍVOCO: suas opiniões são o resultado de anos de análise racional e objetiva. 

A VERDADE: suas opiniões são o resultado de anos em que você prestou atenção a informações que confirmavam o que você acreditava, enquanto ignorava aquelas que desafiavam suas noções preconcebidas. 

Você  já ouviu uma conversa na qual algum filme antigo era mencionado, algo como O rapto do menino dourado, ou talvez outro mais obscuro? Você ri sobre isso, cita algumas linhas, imagina o que aconteceu com os atores que nunca mais viu, e então esquece tudo. Até... Está mudando os canais da TV uma noite e, de repente, vê que O rapto do menino dourado está passando. 

Estranho. No dia seguinte, você está lendo uma notícia de jornal e, do nada, ela menciona filmes esquecidos da década de 1980 e, caramba, há três parágrafos sobre O rapto do menino dourado. Naquela noite, no cinema, você assiste a um trailer de um novo filme de Eddie Murphy; depois, um cartaz na rua que mostra que Charlie Murphy está apresentando um espetáculo de stand-up na cidade; por fim, um de seus amigos manda o link de um post do site da TMZ,12 mostrando fotos recentes da atriz de O rapto do menino dourado.

 O que está acontecendo aqui? É o universo tentando dizer algo a você? Não. É assim que funciona o viés da confirmação. 

Desde a conversa com seus amigos, você mudou de canais muitas vezes; caminhou por muitos cartazes; viu dezenas de histórias sobre celebridades; esteve exposto a vários trailers de filmes. A coisa é, você descartou todas as outras informações, tudo o que não era relacionado a O rapto do menino dourado. De todo o caos, todas as migalhas de dados, você só notou as partes que o chamaram de volta a algo sentado no topo do seu cérebro. Há algumas semanas, quando Eddie Murphy e sua aventura tibetana ainda estavam submersos sob um amontoado de cultura pop no fundo de seu cérebro, você não teria prestado nenhuma atenção especial a referências sobre ele. 

Se você está pensando em comprar um novo carro de alguma marca em especial, de repente vê pessoas dirigindo aquele carro por todas as estradas. Se terminou uma relação de longa data, toda canção que ouve parece estar falando de amor. Se está para ter um bebê, começa a vê-los por todos os lados. O viés da confirmação está vendo o mundo através de um filtro.

Os exemplos acima são um tipo de versão passiva do fenômeno. O problema real começa quando o viés da confirmação distorce sua busca ativa de fatos.
                                                                                                                                                                                                         
 Meio século de pesquisa colocou o viés de confirmação entre os mais confiáveis bloqueios mentais. Jornalistas, ao contarem uma certa história, devem evitar a tendência a ignorar provas do contrário; cientistas, procurando provar uma hipótese, devem evitar criar experimentos com pouco espaço para resultados alternativos. Sem o viés da confirmação, teorias de conspiração não se manteriam. Nós realmente colocamos um homem na Lua? Se estiver procurando provas de que não enviamos, vai encontrar.

Em um estudo da Universidade de Minnesota, feito por Mark Snyder e Nancy Cantor, as pessoas leram por cerca de uma semana sobre a vida de uma mulher imaginária chamada Jane. Por toda a semana, Jane fez coisas que mostravam que poderia ser vista como extrovertida em algumas situações e introvertida em outras. Alguns dias se passaram. Pediu- se que as pessoas retornassem. Os pesquisadores dividiram as pessoas em grupos e foi pedido que elas ajudassem a decidir se Jane era adequada para um emprego em particular. Foi perguntado a um grupo se ela seria uma boa bibliotecária; ao outro grupo, se seria uma boa agente imobiliária. No grupo bibliotecário, as pessoas se lembraram de Jane como introvertida. No grupo de agente imobiliária, elas se lembraram dela como extrovertida. Depois disso, quando cada grupo foi perguntado se ela seria boa em outras profissões, as  pessoas ficaram presas a sua avaliação original, dizendo que ela não estava apta para outro emprego. O estudo sugere que, mesmo em suas memórias, você está atado ao viés da confirmação, lembrando-se de coisas que apoiam crenças, mesmo as recentemente conquistadas, e esquecendo as coisas que as contradizem.

Um estudo da Universidade de Ohio, em 2009, mostrou que pessoas passam 36% mais tempo lendo um ensaio se ele se alinha com suas opiniões. Com o tempo, por nunca procurar o antiético, através do acúmulo de assinaturas a revistas, pilhas de livros e horas de televisão, você consegue ficar tão confiante na sua visão de mundo que ninguém consegue dissuadi-lo.

 Lembre-se de que sempre há alguém disposto a vender olhos aos publicitários que estejam oferecendo uma audiência garantida de pessoas procurando validação. Pergunte-se se você está nessa audiência. Na ciência, você se aproxima mais da verdade ao procurar evidências contrárias. O mesmo método talvez devesse ser usado também para formar suas opiniões.


Fonte : Você não é tão esperto quanto pensa / David M acRaney ; tradução Marcelo Barbão. -- São Paulo : Leya, 2012.

Enviado por Débora Oliveira
                                                                                            
                                                                                                                         
      

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