Há
um sistema encriptado quando os membros do governo comunicam entre
si, mas que se perde quando falam para fora
Os deputados usam o email do Parlamento, mas não têm telemóveis seguros
| GONÇALO VILLAVERDE / GLOBAL IMAGENS
|
"Não
há nenhuma cultura de segurança!". A expressão é a resposta,
praticamente padrão, quando se pergunta a altos quadros das
autoridades de segurança sobre os cuidados que os governantes e
altas figuras do Estado têm com as suas comunicações,
principalmente os telemóveis. Nem com o atual governo nem com nenhum
dos anteriores. Foram infrutíferas as tentativas para convencer os
ministros, secretários de Estado e alguns membros dos seus
gabinetes, principalmente os que tutelam áreas mais sensíveis, a
utilizarem telefones seguros e a utilizarem um software que encripta
as comunicações.
Há
dois anos, os técnicos do Gabinete Nacional de Segurança (GNS), na
dependência da Presidência do Conselho de Ministros, apresentaram
um equipamento de última geração, o mesmo utilizado nas
comunicações da NATO, mas não tiveram sorte. "Quando
perceberam que teriam que abdicar do Facebook e de outras redes
sociais, que constituem um elevado risco em matéria de segurança,
começaram a adiar a mudança de telemóveis e a instalação do
software e nunca mais se falou nisso", contou ao DN um militar,
ex-quadro daquela autoridade.
"Há
uns chamados telefone seguros no gabinete do primeiro-ministro, de
alguns ministros e do Presidente da República, mas nunca são
usados", reconhece um antigo dirigente dos serviços de
informações.
O
DN não conseguiu apurar se o Gabinete Nacional de Segurança voltou
a propor ao atual governo os equipamentos de última geração para
as comunicações. Mas o que é certo, segundo o gabinete do
primeiro-ministro, é que a rede do Governo, pela qual comunicam os
ministros e secretários de Estado entre si, é segura e encriptada.
Mas os emails trocados com o exterior, mesmo com outros órgãos de
soberania, não estão sob o chapéu dessa segurança.
Quanto
aos telemóveis, fonte do gabinete de António Costa admite que as
comunicações se fazem pelas redes normais em telefones sem proteção
especial.
Foi
num desses telemóveis "normais" que o ministro das
Finanças trocou os polémicos SMS com o ex-presidente da Caixa Geral
de Depósitos (CGD) e que até já levaram à constituição de uma
segunda comissão de inquérito à CGD (ver texto em baixo).
PSP
faz os "varrimentos"
O
cúmulo da ausência da tal "cultura de segurança" ao mais
alto nível das estruturas do governo foi revelado há bem pouco
tempo pelo DN. As instalações do Sistema de Segurança Interna,
onde é feita toda a coordenação das polícias e das secretas, não
estiveram equipadas, até pelo menos este mês de fevereiro, de um
sistema de comunicações seguro. A situação ganhou relevância
quando as reuniões da Unidade de Coordenação Anti-Terrorista, que
integra a PJ, PSP, GNR, SEF, SIS, SIED e Polícia Marítima, passaram
a ser naquele gabinete, dirigido pela procuradora Helena Fazenda.
Todos
estas entidades têm o chamado sistema VPN (Virtual Private Network),
que encripta as comunicações. O sistema também foi, entretanto,
instalado no SSI. Têm também equipamento que permite fazer os
chamados "varrimentos" eletrónicos, uns mais avançados
que outros. O GNS é a entidade responsável pelas verificações de
segurança de todo o material classificado, mas só atua "a
pedido", o que, refere o mesmo militar, "é muito raro".
A
PSP é oficialmente responsável pela segurança da rede das
comunicações do governo, cujas equipas estão enquadradas no
Departamento de Informações Policiais. Entre outras, o DIP tem
competência para "promover estudos e auditorias de segurança",
"realizar avaliações de segurança pessoais ou institucionais"
e, mais importante ainda, "realizar as adequadas averiguações
de segurança em caso de quebra ou comprometimento de segurança da
informação". Para estas tarefas são utilizadas as equipas de
"limpeza" eletrónica".
Veio
a saber-se, quando foi conhecido o caso das alegadas escutas em Belém
- e que Cavaco Silva veio agora no seu livro classificar de
"historieta de verão" - que a PSP tinha feito algumas
despistagens, nesse ano, na Presidência da República, sem que nada
tivesse sido detetado, conforme o DN noticiou na altura. Além do
Presidente, a PSP efetua estas despistagens nos gabinetes de todos em
todos órgãos de soberania o solicitem.
A
questão da segurança nas comunicações ganhou proporções
gigantescas nos Estados Unidos em 2015, quando a imprensa
norte-americana revelou que nos quatros anos no Departamento de
Estado Hillary Clinton usou sempre uma conta pessoal para as suas
comunicações com o setor privado.
____________________________________________________
Nenhum comentário:
Postar um comentário