O bispo emérito das Forças Armadas apresentou Joana como “mulher de cultura” e “livre”,
num tempo que tem muito a dizer à nossa época.
num tempo que tem muito a dizer à nossa época.
Nuno Gonçalo, provedor da Irmandade de Santa Joana Princesa, e D. Januário |
D. Januário Torgal Ferreira convidou a ler a vida de Santa Joana e a sua época como “algo que tem atualidade” e que é significativo para o nosso tempo. O bispo emérito das Forças Armadas e de Segurança mostrou que somos muito devedores do tempo em que viveu Santa Joana (1452-1490), quer invocando autores atuais, como Jacques Le Goff (falecido em 2014), que afirmou que as atuais assembleias parlamentares devem muito mais às estruturas monásticas do que à democracia grega, quer citando autores antigos, como João de Viterbo, italiano, contemporâneo de Joana de Portugal, que via na origem da palavra “cidade” o “lugar sem violência porque quem detém o poder deve proteger os pobres”.
A conferência, a primeira dos “II Encontros de Santa Joana – Novos olhares sobre a Padroeira”, decorreu no auditório do Museu de Aveiro, na noite de 28 de abril, com a presença de meia centena de pessoas, incluindo o Bispo de Aveiro.
D. Januário falou de Santa Joana como “mulher de cultura superior”, que lia “autores latinos” e pediu a sua pai, D. Afonso V, que comprasse um breviário que estava no convento de S. Domingos de Benfica, e como “mulher livre”, que “opõe à razão do Estado a forma superior de respeito pela humanidade que ela mesmo experimenta”. “Quando os pais achavam que os filhos eram propriedade privada”, contra o “pai, o irmão [D. João II] e a nobreza”, Joana mantém uma “conceção de dignidade da pessoa” que a faz obedecer em primeiro lugar à sua própria consciência. Por isso, recusou os vários casamentos propostos e seguiu a vida religiosa. “Ela faz o que quer, não cede, luta pelos seus direitos”, afirmou o prelado.
No final da sua intervenção, D. Januário Torgal Ferreira disse ter-se tornado “devoto de Santa Joana” ao preparar-se para a comunicação que fez. “Tocou-me a sua convicção. Tendo entrado para um mosteiro, foi livre”, afirmou. Deixou ainda algumas observações de admiração sobre dois católicos recentemente falecidos: o médico Daniel Serrão e o economista Alfredo Bruto da Costa. Este, disse, que “não só defendeu a luta contra a pobreza como se fez pobre”, vivendo com grande modéstia.
Bento Domingues, Francisco e a mulher
A segunda conferência desta série de “novos olhares sobre Santa Joana”, organizada pela Irmandade de Santa Joana Princesa, é no dia 5 de maio, sexta-feira, às 21h30, com frei Bento Domingues, que falará sobre “Santa Joana e o papel da mulher na Igreja segundo o Papa Francisco”.
J.P.F.
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