David Dinis, Director
|
Hoje acordámos com mais uma surpresa britânica: Theresa May apostou tudo e perdeu quase tudo: Perdeu lugares, perdeu a maioria dos deputados, pôs em suspenso o Brexit e já tem o seu lugar em risco - com o Labour de Jeremy Corbyn a prepara-se para tentar formar um Governo minoritário. Em Londres fala-se de um "Parlamento pendurado", que aqui explicamos ponto a ponto. Fala-se também de "DisMay" (uma das muitas capas de boca aberta, dos jornais da madrugada e desta manhã).
Fala-se também de uma "coligação do caos", que será a maneira britânica de dizer "geringonça" (o modo como os partidos se preparam para tentar afastar a primeira-ministra conservadora). Esse cenário, os resultados de Londres à Escócia, o estado em que ficam os partidos e o Brexit, tudo isso está no minuto-a-minuto que lançámos ao início da noite e que nunca desligámos. Fique por aqui: Theresa May prepara-se para falar às 10h00 e a imprensa britânica acredita que tentará formar Governo. Nós, por aqui, já não fazemos apostas.
As notícias do dia
Na manchete de hoje, um alerta do pai da nossa Constituição: "Os juízes não têm direito à greve", diz Jorge Miranda, num artigo de opinião em que explica, lei a lei, artigo a artigo, porque é que nem a ausência de uma proibição formal na Constituição não serve de argumento para quem a ameaça convocar.
Vamos a um ponto de situação sobre as greves? Na Justiça, os juízes já disseram "não" à proposta da ministra Van Dunen; Na Educação, os serviços mínimos geram nova disputa entre sindicatos e Ministério, enquanto a Fenprof já pede a intervenção de Costa; enquanto na Saúde, os enfermeiros mantêm a ameaça de parar os blocos de parto. Ontem, o primeiro-ministro reagiu, dizendo estar a cumprir e desejando que não venham as greves. A Liliana Valente foi ouvir socialistas, sindicalistas e outros "istas", à procura de respostas para a questão do momento: será isto uma "sacudidela" de circunstância?
E vem mais um problema para o Governo: os Estagiários do Estado querem ser tratados como os precários e exigem a integração no Estado. Por isso, formalizaram um Movimento, escreveram a partidos e sindicatos. São quase 800, desde já. E outro, da economia real: os salários dos novos contratos permanentes caíram 21% em três anos, diz um estudo do CES.
Falando em pressão: o BE quer um complemento para compensar o corte nas pensões. Para já, o PS vai gerindo a situação: empurrando o fim do corte de 10% no subsídio de desemprego para o orçamento, por exemplo. E procura receitanuma nova taxa "junk food", diz a Lusa esta manhã.
E depois há a banca: Costa propôs aos bancos uma gestão concentrada do malparado, diz hoje o Negócios. Pelo caminho, Centeno tentou livrar-se do problema chamado Domingues e a esquerda tenta matar o inquérito 1 à CGD.
Ao Parlamento, chegou um manifesto: juristas a pedir que não avance a eutanásia. E um consenso: as ofertas a políticos vão ser regulamentadas.
Ainda não chegámos às autárquicas - mas a verdade é que ainda não chegou o parecer do TC sobre as anteriores.
Das prisões vem um número surpreendente: o número de telemóveis apreendidos duplicou em seis anos. E as cantinas vão mudar de mãos.
Há notícias também sobre Ambiente: 400 milhões de euros para retirar amianto de 4200 edifícios; uma nova estratégia para proteger a natureza; e mais verbas para tirar resíduos de São Pedro da Cova.
Atenção também a isto: quem reabilitar casas terá de as preparar para resistir a sismos.
Coisas que tem que ler
1. Comey foi ao Senado mas o ponteiro do impeachment não mexeu. O Alexandre Martins esteve a ver a audição do ex-director do FBI e fez um texto que merece ser lido. Deixo-lhe o primeiro parágrafo, só para o convencer a seguir até ao fim, aqui: "Muitos tinham pago bilhete para assistirem ao combate do século, num canto o ex-director do FBI, no outro um grupo de senadores do Partido Republicano treinados por Donald Trump. No final, quem entrou com as expectativas em alta para a audição de James Comey na Comissão de Serviços Secretos do Senado, esta quinta-feira, teve de se contentar com um treino de preparação – sim, James Comey disse coisas que seriam um escândalo de primeira página há poucos anos, mas após a campanha eleitoral do ano passado nos Estados Unidos já poucos se contentam com menos do que a resposta a uma única pergunta: afinal, ele vai ser destituído?". Ah! E junte-lhe este comentário dele: Para os democratas, vale mais um Trump em lume brando do que dois destituídos.
2. No Brasil, a sobrevivência de um cadáver político. Do Manuel Carvalho, que está de viagem do Rio de Janeiro para São Paulo, chegou-nos a crónica incrédula com o que se está a passar em Brasília. "O Brasil, exausto e em crise, hesita entre um mal sabido e uma mudança incerta." E agora, Manuel, como é que se sai daí? Para ler, claro, acompanhada dos últimos desenvolvimentos do caso Temer, que parece poder escapar deste round no Supremo.
3. A arte de parecer ciência com truques de circo. Assim mesmo, porque foi como a Teresa Firmino lhe chamou. Os autores deste livro são da Comunidade Céptica Portuguesa, que promove o uso do pensamento crítico apoiado na ciência. Nele desmascara-se a pseudociência, como terapias alternativas, o movimento antivacinas e o engraçadismo da ciência nos jornais. No sábado é apresentado na Feira do Livro de Lisboa - mas hoje já está um pouquinho dele aqui no PÚBLICO.
4. Manuel Alegre é o vencedor do Prémio Camões, o 12º português a receber o mais importante prémio literário destinado a autores de língua portuguesa - e o primeiro político a recebê-lo. O Luís Miguel Queirós partiu dos poemas contra o fascismo para fazer a revisão da obra grande de Alegre, mas deixou-nos mais dois textos que merecem ser recuperados: o do regresso dele à prosa, revisto pela Isabel Coutinho; e esta entrevista de Alegre à Isabel Lucas, que nos ficará na memória.
5. Paulo Nozolino, o português que brilha em Espanha (e na capa do ípsilon). Brilha no Círculo de Bellas Artes, coração do PhotoEspaña, onde tem uma sala transformada num templo, "um convite a parar para pensar". O Sérgio B. Gomes foi a Madrid e resume tudo assim: fotografar para nos obrigar a ver. E nós assentimos, com prazer.
A agenda de hoje
- Marcelo lança as comemorações do 10 de Junho, no Porto;
- O Parlamento debate propostas do CDS: férias pagas, ano sabático, teletrabalho e contratação colectiva;
- O INE mostra os dados do comércio internacional relativos ao mês de abril, nomeadamente os da balança comercial;
- Portugal joga na Letónia, em mais um jogo de qualificação para o Mundial de Futebol da Rússia (e é obrigatório ganhar).
Só mais um minuto...
É que O Inimigo Público chegou ao número 700 - e imagine com quem é que eles resolveram brincar... Claro, comigo mesmo. Aqui está o podcast do IP: "David Dinis nem quer acreditar que esta coisa ainda existe". Para vocês, Luís Pedro & restante gente boa, fica um abraço grande, enorme, de obrigado pelo que me fizeram rir estes anos todos. Para si, caro leitor, fica o alerta: na edição de hoje o alvo é António Mexia - e ainda há uma página a recuperar o melhor dos últimos tempos.
Falando nisso, aqui vai também o Podcast Reservado ao Público: "É praticamente impossível não contarmos uma boa história". Com a nossa equipa de Ciência. E os nossos parabéns, também, à Teresa de Sousa, que acaba de receber um prémio do Parlamento Europeu por tudo o que nos tem dado nestes anos. Justíssimo, Teresa.
Dito isto, estamos a chegar ao fim-de-semana e é tempo de lhe deixar pistas para o aproveitar bem. A nossa área dedicada aos livros, para dar um salto à Feira do Livro de Lisboa com um bom guia das novidades; a nossa área de música, caso vá ao Primavera Sound no Porto; a nossa área de cinema, porque convém escolher bem, mesmo que entre as estreias da semana.
Para além de tudo isto, há a nossa homepage, porque já estamos ligados à ficha com mais esta reviravolta no Reino Unido (e tudo o mais, que está a acontecer). Vamos a isto, que está desafiante!
Dia bom, excelente fim-de-semana,
Até já!
Nenhum comentário:
Postar um comentário